Inventure Cycle: como pensar de forma empreendedora?

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O Lean Startup é um processo para transformar ideias em empreendimentos comerciais. Sua premissa é a de que as startups começam com uma série de hipóteses não testadas e se tornam bem-sucedidas ao sair do escritório, testar essas hipóteses e aprender através da repetição e refino de produtos minimamente viáveis (MVP) diante de potenciais clientes.

Isso é tudo muito bom se você já tem uma ideia. Mas de onde é que as ideias para uma startup vêm? De onde vêm inspiração, imaginação e criatividade? E como é que tudo isso se relaciona à inovação e ao empreendedorismo? O Inventure Cycle pode te ajudar.

Sinceramente, eu nunca tinha parado para pensar nisso. Como empreendedor, meu problema era que eu tinha ideias demais. Minha imaginação rodava vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, e para mim todo problema era um desafio para resolver e um novo produto para criar. Só quando eu comecei a dar aulas foi que eu percebi que a cabeça das outras pessoas não funciona da mesma forma. Com o lean startup, ganhamos um processo para transformar ideias em negócios, mas continuamos sem resposta para esta questão: “de onde é que as ideias vêm? E como podemos obtê-las?”

Me preocupava o fato de que, na prática do empreendedorismo (incluindo o lean startup), estivesse faltando um conjunto de ferramentas para soltar a imaginação dos meus alunos e um método para aplicar a sua criatividade. Percebi que o processo de inovação/empreendedorismo precisava de uma “base”: as habilidades e processos que impulsionam a imaginação e criatividade de um empreendedor. Precisávamos definir a linguagem e as peças que compõem uma “mentalidade empreendedora.”

Por sorte, isso aconteceu bem quando eu estava dando aula em Stanford no mesmo departamento que a Tina Seelig. A Tina é professora de Prática na Escola de Engenharia da Universidade de Stanford e Diretora Executiva do Programa de Empreendimentos Tecnológicos da universidade. Quando li seu livro Ingenium: Um Curso Rápido e Eficaz Sobre Criatividade, percebi pela primeira vez que alguém tinha desvendado o mistério de como transformar a imaginação e a criatividade em inovação.

Compartilho aqui as ideias mais recentes da Tina sobre as habilidades fundamentais necessárias para se construir um novo empreendimento:

Existe uma demanda insaciável por inovação e empreendedorismo. Essas habilidades são necessárias para ajudar os indivíduos e empreendimentos a prosperarem em um mercado competitivo e dinâmico. No entanto, muitas pessoas não sabem por onde começar, afinal, não tem nenhum caminho delimitado entre a inspiração e a implementação.

Outras áreas — como a Física, a Biologia, a Matemática e a Música — têm uma enorme vantagem quando se trata de ensinar esses tópicos, já que eles têm termos bem-definidos e um modelo de relacionamentos que proporciona uma abordagem estruturada para dominar essas habilidades. E é exatamente disso que precisamos em empreendedorismo! Do contrário, só nos resta a crença obstinada de que essas habilidades não podem ser ensinadas ou aprendidas.

A seguir, você conhecerá uma proposta de definições e relações para o processo de dar vida às ideias que eu chamo de Inventure Cycle. Esse modelo fornece um andaime de competências, começando com a imaginação e levando a um aumento coletivo na atividade empreendedora.

Veja a seguir os quatro passos para o Inventure Cycle:

1. Imaginação é vislumbrar o que não existe

2. Criatividade é aplicar a imaginação para enfrentar um desafio

3. Inovação é aplicar a criatividade para gerar soluções únicas

4. Empreendedorismo é aplicar a inovação, concretizando ideias e inspirando a imaginação dos outros

Esse é um círculo virtuoso: empreendedores manifestam suas ideias, inspirando a imaginação dos outros, incluindo aqueles que se juntam a eles financiando o empreendimento e comprando os produtos. Esse modelo é relevante para startups e empresas estabelecidas, bem como para inovações de todos os tipos, em que a realização de uma nova ideia — seja ela um produto, serviço ou obra de arte — resulta em um aumento coletivo de imaginação, criatividade e empreendedorismo.

Esse modelo nos permite analisar o percurso, descrevendo as ações e atitudes necessárias a cada passo ao longo do caminho:

1. Imaginação exige engajamento e a capacidade de vislumbrar alternativas

2. Criatividade exige motivação e experimentação para enfrentar desafios

3. Inovação exige foco e reformulação para gerar soluções únicas

4. Empreendedorismo exige persistência e a capacidade de inspirar outras pessoas

Nem todas as pessoas em um empreendimento precisam ter todas as habilidades do ciclo, mas o empreendimento como um todo precisa cobrir todos esses pontos. Sem imaginadores que se envolvam e tenham visão, não há oportunidades atraentes para resolver. Sem criadores que estejam motivados a experimentar, problemas de rotina não são solucionados. Sem inovadores que se concentrem em pressupostos desafiadores, não há novas ideias. E sem empreendedores que inspirem os outros persistentemente, inovações ficam para sempre no papel.

Vamos ver um exemplo de como esses princípios funcionam:

Como membro da área de inovação em Biodesign na Universidade de Stanford, Kate Rosenbluth passou meses em um hospital acompanhando de perto neurologistas e neurocirurgiões a fim de compreender as maiores necessidades não satisfeitas dos médicos e seus pacientes.

Imaginação: Na fase de imaginação, Kate trabalhou com uma equipe de engenheiros e médicos para fazer listas de centenas de problemas que precisavam de solução, de questões ambulatoriais a desafios cirúrgicos. Por estar imersa no hospital com um olhar atento, ela foi capaz de ver oportunidades de melhoria que tinham sido negligenciadas. Esse estágio exigiu empenho e visão.

Criatividade: Na fase da criatividade, a equipe se surpreendeu com o número de pessoas que lutam com tremores nas mãos que os impedem de segurar uma xícara de café ou abotoar uma camisa. Eles aprenderam que até 6 milhões de pessoas nos Estados Unidos sofrem de Parkinson e outros problemas que causam tremores. O tratamento mais eficaz é a estimulação cerebral profunda, um procedimento caro que requer implantar permanentemente fios no cérebro e uma bateria na parede torácica. Como alternativa, os pacientes tomam medicamentos que frequentemente têm efeitos colaterais incapacitantes. A equipe foi impulsionada a ajudar esses pacientes e começou a se reunir com os peritos, analisando a literatura a respeito e testando tratamentos alternativos. Nessa etapa, foram necessárias motivação e experimentação.

Inovação: Na fase da inovação, Kate teve um insight que mudou a maneira como ela via o tratamento de tremores. Ela questionou o pressuposto de que o tratamento tinha de focar a raiz do problema no cérebro e, em vez disso, focou o sistema nervoso periférico das mãos, onde os sintomas ocorrem. Ela fez uma parceria com um professor de Stanford, Scott Delp, para desenvolver e testar um tratamento relativamente barato, não invasivo e eficaz. Nesse estágio, foi preciso foco e capacidade de questionar e reformular ideias.

Leia também: Dez cursos rápidos que mudam a vida de um empreendedor

Empreendedorismo: Na fase de empreendedorismo, Kate lançou uma empresa, a Cala Health, para desenvolver e oferecer novos tratamentos para tremores. Ela ainda vai enfrentar inúmeros desafios ao longo do caminho para trazer os produtos para o mercado, incluindo a contratação de uma equipe, a busca pela aprovação da FDA (a agência de vigilância sanitária dos Estados Unidos), o levantamento de rodadas subsequentes de financiamento, e a fabricação e comercialização do dispositivo. Essas tarefas vão exigir persistência, inspirando outros a continuar empreendendo.

Durante o desenvolvimento do primeiro produto, Kate teve insights adicionais, que estimularam novas ideias para o tratamento de outras doenças com uma abordagem similar, fechando o círculo de volta na imaginação!

O Inventure Cycle é a base de estruturas para a inovação e o espírito empreendedor como o Design Thinking e o Lean Startup. Ambos se concentram na definição de problemas, gerando soluções, construindo protótipos e reformulando ideias com base em feedbacks. O Inventure Cycle descreve habilidades fundamentais para que esses métodos funcionem. Assim como devemos dominar a Aritmética antes de mergulhar em Álgebra ou Cálculo, é preciso desenvolver o espírito empreendedor e a metodologia antes de projetar produtos e lançar empreendimentos.

Ao entender o Inventure Cycle e aperfeiçoar as habilidades necessárias para completá-lo, identificamos mais oportunidades, desafiamos mais pressupostos, geramos soluções únicas e tiramos mais ideias do papel.

Com definições claras e um modelo que ilustra a relação entre cada etapa, o Inventure Cycle nos dá o caminho da inspiração até a implementação. Ele capta as habilidades, atitudes e ações necessárias para promover a inovação e trazer cada vez mais ideias inovadoras para empreender o mundo.

Steve Blank é um empreendedor serial que se tornou educador e está mudando a forma como startups são construídas e como empreendedorismo é ensinado. Ele criou a metodologia Customer Development (Desenvolvimento de Cliente), que gerou o movimento Lean Startup, e escreveu sobre o processo em seu primeiro livro, The Four Steps to the Epiphany. Seu segundo livro, Startup. Manual Do Empreendedor. O Guia Passo A Passo Para Construir Uma Grande Empresa, é um guia passo a passo para montar um negócio de sucesso. Blank já deu aula em Stanford University, U.C. Berkeley, UCSF, NYU, Columbia University, The National Science Foundation e The National Institutes of Health. Ele escreve regularmente sobre empreendedorismo em www.steveblank.com, onde o artigo apareceu pela primeira vez.

Este artigo traduzido foi originalmente publicado em Endeavor

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