A IA está transformando a pesquisa científica. Ferramentas baseadas em inteligência artificial vêm sendo adotadas em larga escala em universidades, centros de pesquisa e organizações acadêmicas ao redor do mundo, acelerando descobertas e democratizando o acesso a informações que antes exigiam processos longos e especializados.
Recentemente, um estudo conduzido pela editora Elsevier em parceria com a Ipsos trouxe dados significativos sobre esse fenômeno. A pesquisa ouviu mais de 3.000 cientistas de 121 países e revelou que a maioria dos pesquisadores está receptiva ao uso de IA, especialmente em atividades como busca bibliográfica, revisão de literatura e elaboração de manuscritos. O estudo também aponta que, embora existam preocupações éticas e metodológicas, o entusiasmo pela IA é maior entre os cientistas em início de carreira, o que sugere uma tendência de crescente adesão no futuro da pesquisa acadêmica.
O uso da IA no dia a dia de pesquisadores
A integração de sistemas de IA generativa, como os grandes modelos de linguagem (LLMs), já está mudando profundamente etapas fundamentais da produção científica. Softwares inteligentes estão sendo utilizados para automatizar tarefas como a geração de resumos de artigos, tradução técnica, identificação de artigos relevantes em bases de dados e até para sugerir hipóteses baseadas em padrões detectados em grandes volumes de dados.
Segundo o estudo da Elsevier, cerca de 40% dos entrevistados já utilizaram alguma ferramenta de IA generativa no último ano, especialmente para revisão textual e estruturação de manuscritos. Além disso, 60% demonstraram abertura para adotar essas ferramentas em tarefas mais criativas da pesquisa. Isso representa um avanço importante, pois essas tecnologias podem ajudar a superar barreiras linguísticas, reduzir o tempo de produção científica e nivelar o acesso ao conhecimento entre pesquisadores de diferentes países e contextos socioeconômicos.
Outro dado relevante é que a IA tem sido vista como uma aliada no combate à sobrecarga de informações — um problema crônico no meio científico atual. Ao ajudar os pesquisadores a filtrarem rapidamente os conteúdos mais relevantes e confiáveis, a IA pode melhorar a qualidade da produção científica e a eficiência na tomada de decisões.
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Quais as preocupações que permanecem sobre a IA?
Apesar do otimismo, a pesquisa também revela preocupações legítimas quanto ao uso da IA na ciência. Questões sobre transparência, viés algorítmico e a integridade das fontes geradas por IA figuram entre os principais receios. Muitos pesquisadores manifestam cautela em relação à dependência excessiva de ferramentas automatizadas, especialmente sem conhecimento pleno de como essas tecnologias operam ou sem diretrizes éticas claras.
Essas preocupações se somam ao debate sobre a reconfiguração do papel dos pesquisadores. Com a automação de etapas antes consideradas “núcleo duro” da prática científica, surge o questionamento sobre como manter a criatividade, o pensamento crítico e a autoria intelectual em um contexto onde partes significativas do processo podem ser delegadas a máquinas.
Por outro lado, a democratização do acesso ao conhecimento é um dos impactos positivos mais promissores. Ferramentas de IA podem reduzir as desigualdades no acesso a recursos acadêmicos, permitindo que pesquisadores em países em desenvolvimento tenham condições mais equitativas de contribuir com a ciência global. Nesse sentido, a IA não apenas transforma a pesquisa científica, mas também redefine quem pode produzir ciência e sob quais condições.
Em resumo, a inteligência artificial inaugura uma nova era na ciência — com ganhos expressivos de eficiência e inclusão — mas também impõe desafios que exigem regulamentação, formação crítica e reflexão ética profunda.
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