Ainda que da sua formação em Economia, na Universidade Columbia, tenha saído também com um minor em Desenvolvimento Sustentável, na Universidade Columbia, a próxima parada de Gabriela Gugelmin nada diria sobre o caminho que escolheria, poucos anos depois.
Isso porque a jovem, que é membro da rede do Programa Líderes Estudar – assim como o Na Prática, iniciativa da Fundação Estudar -, conseguiu um trabalho em Nova Iorque, em um dos bancos mais cobiçados do mundo, o J.P. Morgan.
“No meu 1º ano em Columbia percebi que haviam dois caminhos que todos almejavam: mercado financeiro ou consultoria”, afirma. “Eram os trabalhos com mais prestígio, que pagavam melhor, com maior perspectiva de crescimento profissional e que tinham a maior e melhor competição.”
De início, a oportunidade lhe animava ainda mais porque envolveria trabalhar com uma equipe e clientes brasileiros. “Me identifiquei muito”, lembra.
Mesmo com grandes possibilidades nos Estados Unidos, um ano depois, decidiu voltar para Curitiba, sua cidade natal, para encarar outros desafios – deliberadamente distantes do mercado financeiro. Atualmente, trabalha como business management consultant na Remasa Reflorestadora, e tem foco, especialmente, em estratégia de gestão de pessoas.
Por que ela saiu do mercado financeiro?
“Acho que eu nunca me perguntei se realmente aquilo era pra mim – não saberia se não testasse.”
Mesmo que tenha gostado do trabalho – e acredite que tivesse potencial para se tornar “uma boa baqueira” – Gabriela saiu do mercado financeiro porque a a expectativa de seguir naquela carreira por anos não a animava. “Eu queria buscar um trabalho que me encantasse”, diz. “Talvez eu fosse muito nova e tivesse uma visão utópica naquele momento, mas hoje acho que estou
muito mais perto de encontrar isso.”
“Claro que você terá dias difíceis e muito trabalho em qualquer área, mas acho que o teu trabalho tem que brilhar teu olho, gerar encantamento, te inspirar, te dar vontade de falar sobre isso.”
“Eu não sentia isso com o mercado financeiro”, conclui.
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A entrada no setor da sustentabilidade
“Entrei na Remasa primeiramente porque minha família é acionista da companhia e eu achava que poderia agregar valor, dado que estaria trazendo uma visão de fora e de empresa internacional”, relata Gabriela.
Quando começou na reflorestadora, como analista de planejamento e gestão, a ideia era que ela estruturaria e formalizaria o setor de relação com investidores (RI) trazendo seu know-how relacionado do JP Morgan. “No entanto, ao ir conhecer as fazendas e escritórios da Remasa já percebi que, para mim, não parecia uma boa empresa para se trabalhar.”
Não só a estrutura lhe parecia engessada, não transparente, como os funcionários pareciam ter pouca clareza sobre suas possibilidades e sobre o futuro da companhia. Sendo interessada em sugerir melhoras em processos, a jovem expôs suas opiniões para um dos líderes, que a chamou para ajudar a resolver tais questões.
“Meu projeto começou bem amplo, o objetivo era modernizar a empresa para atrair e reter talentos da Geração Y, como eu, e Geração Z”, diz. “Mudamos desde a identidade visual, a missão, visão e valores e até mesmo a forma de se trabalhar, como o formato das reuniões.”
Hoje, a consultora está completamente focada na gestão de pessoas. E mira alto: que a Remasa entre na lista das Melhores Empresas para se trabalhar no Brasil.
“Ser feliz agora também é fundamental e possível”
Pesou, para sua decisão de largar o banco americano, o quesito “qualidade de vida”. “Eu não tinha isto quando trabalhava no banco, parcialmente pelo volume de trabalho, mas muito pela minha imaturidade”, diz a jovem. Com “imaturidade”, ela se refere a acreditar na opinião do senso comum de que o jovem tem de trabalhar muito para, só então, colher os “frutos” no futuro.
“Concordo que este é nosso momento de dar nosso melhor para conseguir crescer, mas acho que ao mesmo tempo temos que ter equilíbrio”, explica. Equilíbrio, para Gabriela, envolve saúde corporal e mental e relações sociais. “Ser feliz agora também é fundamental e possível.”
Dois mundos
Entre os dois setores, a Líder Estudar aponta como um dos aspectos mais destoantes o nível de escolaridade dos profissionais.
Enquanto o mercado financeiro é permeado de forma mais regular por pessoas com backgrounds de universidades de ponta, o setor da sustentabilidade têm mais variação – até na mesma área. “Na Remasa temos pessoas que nunca completaram o ensino fundamental trabalhando com pessoas que tem MBA“, conta ela.
Outra diferença essencial para a jovem se dá em relação ao seu trabalho, que, na reflorestadora, é muito mais “mão na massa”, segundo ela. Sua rotina envolve ir à campo, muitas vezes com o pé na lama, sol na cabeça e rodeada de mosquitos. “No banco. ficava sentada na frente de um computador numa sala com ar-condicionado”, brinca. Isso explica, também, a diferença de trajes: roupa executiva e salto antes, jeans, bota e capacete agora.
“Particularmente gosto muito deste aspecto mais ‘real’ que vivo na Remasa hoje, vendo os resultados acontecerem ao vivo e não na tela do computador.”
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