Das empresas americanas que compõem a mais recente lista do Fortune 500, apenas 5,4% são comandadas por mulheres. O ranking, promovido pela revista Fortune, classifica 500 das maiores corporações dos Estados Unidos, em receita total. A taxa de 5,4% equivale a 27 mulheres – recorde nos 63 anos em que a lista é divulgada.
Na quinta parte do especial “The Secret Life of C.E.O.s”, Dubner, que apresenta a rádio Freakonomics, se junta a especialistas para investigar estes e outros dados alarmantes sobre a presença feminina nos altos cargos das corporações. Principalmente, quando se trata das empresas que estão em ruínas – fenômeno chamado de glass cliff. O jornalista questiona:
“As executivas estão sendo ‘contratadas para falhar’?”
Carol Bartz é uma das CEOs que assumiu posição quando a empresa passava por uma forte crise. Por 14 anos, ela havia liderado a companhia de software de design Autodesk. Em 2009, ela virou CEO do Yahoo!, que já foi o site mais popular no mundo, chegando a ter um valor de mercado de US $ 110 bilhões. Porém, na época em que assumiu, a empresa vinha perdendo espaço: além de diminuição no número de usuários do seu buscador e de anúncios, havia rejeitado, em meio a controvérsias, uma oferta de compra da Microsoft.
Mesmo sob o comando da cientista da computação, a receita do Yahoo! continuou a cair. O conselho da empresa, então, começou a questionar sua liderança.
Dubner: “Em retrospectiva, você acha que foi em algum grau uma espécie de missão suicida?”
Bartz: Sim, agora acredito nisso.
“Glass Cliff”
A psicóloga organizacional Michelle Ryan e seu colega Alex Haslam, da Universidade de Exeter, na Inglaterra, criaram o termo derivado de “teto de vidro”, conceito popularizado nos anos 80. “A ideia do ‘teto de vidro’ é que as mulheres não podem ir além de um certo ponto dentro da hierarquia de liderança. Eles dão de encontro com uma espécie de barreira, invisível e muito sutil, que impede sua ascensão”, explica a estudiosa.
De acordo com Ryan, o “penhasco de vidro” faz referência à ideia de mulheres que estão em altos cargos, mas em “posições precárias” por estarem no comando em momentos de grandes dificuldades para as instituições. “Mulheres que estão à beira do abismo, cuja queda ou fracasso, podem ser iminentes”, diz. “A análise de Ryan sugeria que as executivas estavam sendo contratadas para falhar, intencionalmente ou não”, esclarece Dubner.
Inicialmente, o interesse da dupla de pesquisadores foi instigado por um artigo de 2003 do jornal The Times. O texto utilizava dados para constatar que “as empresas com mais mulheres em seus conselhos de administração tendiam a ser piores, em termos do valor das ações, em comparação às que tinham menos (ou nenhuma) mulher”, relembra Ryan.
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A disseminação do glass cliff entre os especialistas em psicologia social inspirou outros estudos sobre o tema. Como o das sociologistas Christy Glass e Alison Cook da Universidade Estadual de Utah, nos Estados Unidos.
Com base nas transições das companhias que figuram no Fortune 500, as duas montaram um banco de dados sobre líderes homens e mulheres, durante um período de 15 anos. Em seguida, Glass e Cook analisaram o preço das ações e a saúde financeira dessas organizações.
“Descobrimos que as mulheres brancas e os negros são significativamente mais propensos a serem promovidos a CEO em empresas com fraco desempenho do que os homens brancos”, conta Glass.
Teorias
As sociólogas foram além e criaram teorias para o que pode explicar tantas executivas liderando companhias fracas, muitas vezes fadadas ao fracasso. Uma das explicações foi chamada por elas de “savior effect” (em português, algo como “efeito do salvador”).
“Em outras palavras, a firma testa um líder não tradicional, talvez tentando sinalizar que está indo em uma direção nova, mais ousada, para resolver a queda no desempenho. E, se isso não acontece, esses líderes tendem a ser culpados e substituídos, voltando ao normal – trazendo o líder branco, típico do sexo masculino para tirá-la da crise”, diz a pesquisadora.
Quando tudo vai bem – valor das ações subindo e tudo nos conformes – há 50% de chance dos responsáveis pelas organizações escolherem um homem e 50% de escolherem uma mulher para liderar. No entanto, o cenário muda quando a companhia está em crise e sofre críticas – basicamente, ocasiões em que assumir a posição de liderança envolve riscos.
Segundo Glass: “Se o preço das ações estiver em alta ou estável, é mais provável que procurem líderes ambiciosos, fortes e competitivos. Características que, estereotipicamente, vemos como masculina”. A socióloga explica que esta é uma descoberta que corrobora com uma teoria descrita na literatura desde os anos 70, a “think manager, think male” (em português, “pense em administrador, pense em homem”).
“Então, quando tudo vai bem, temos ‘think manager, think male’. Quando as coisas vão mal, temos ‘pense em crise, pense em mulher’”, diz.
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Outra teoria, apontada pelo jornalista que comanda a rádio Freakonomics, propõe que os homens podem “se dar ao luxo” de deixar passar oportunidades em empresas com problemas. Deixando, assim, mais espaço para mulheres atuarem nestas circunstâncias.
“Nestes casos, uma mulher CEO já está em desvantagem frente a seus colegas do sexo masculino porque, para começar, a empresa já está em uma situação difícil”, completa Dubner.
“The Secret Life of CEOs”, da rádio Freakonomics
Baseada no best-seller de mesmo nome, a rádio “Freakonomics” está entre os podcasts mais acessados do ITunes (reprodutor de áudio da Apple). De forma leve e fácil de acompanhar, Freakonomics traz assuntos ligados à Economia adaptados para o público geral com apresentação do jornalista Stephen Dubner e participações do economista Steven Levitt – dupla que, há mais de dez anos, escreveu a obra que fundamenta o podcast.
Todos os mais de 300 episódios do podcast podem ser conferidos (em inglês), pelo site, ou por aplicativos de podcast como Castbox e Stitcher.
“The Secret Life of C.E.O.s”, sua série mais recente, traz líderes de algumas das maiores empresas do mundo. Em seis episódios, os executivos se juntam a especialistas para discutir vários aspectos desconhecidos da carreira de um CEO – desde como se tornar um, até como eles resolvem crises e largam o emprego.
Confira o que os convidados disseram sobre as funções, a importância e o salário dos CEOs na primeira matéria sobre a série, aqui. Sobre os momentos mais decisivos para suas carreiras, na segunda parte, aqui. E, também, acerca dos maiores desafios que tiveram liderando empresas gigantes, aqui.