Gestores de recursos humanos levam geralmente poucos segundo para avaliar um currículo. Para que isso seja possível, muitas vezes eles se atentam à algumas informações que costumam indicar um nível de competitividade maior dos candidatos, como a universidade onde estudaram e seu prestígio. Essa estratégia parte do princípio de que melhores universidades atraem melhores alunos e fornecem treinamento de alta qualidade, portanto, formam profissionais que perfomarão melhor.
Mas será que esse é um bom método de contratação? Universidades consideradas como as melhores realmente formam profissionais com desempenho superior no trabalho? Alguns pesquisadores da área de negócios e recursos humanos decidiram investigar o tema e descobriram que a resposta é sim, mas só até certo ponto.
Por que alguns universitários têm desempenho melhor?
Em um estudo recente, publicado na Harvard Business Review, quatro pesquisadores testaram a relação entre a posição de universidade em rankings de qualidade educacional e o desempenho dos graduados. Foram avaliados 28.339 alunos de 294 instituições em 79 países. Os estudantes vieram de 294 universidades classificadas entre as 10 melhores de cada país.
No estudo, o desempenho e a competitividade dos alunos foram observados por dois meses enquanto eles trabalhavam em projetos de consultoria de negócios com casos da vida real. Os pesquisadores analisaram não apenas a qualidade do resultado, mas competências técnicas e socioemocionais incluindo cooperação com membros da equipe, liderança, proficiência no idioma, habilidades técnicas, inteligência emocional, criatividade e outros.
Os resultados mostraram que os estudantes graduados em universidades com classificação superior tiveram melhor desempenho, mas apenas em algumas dimensões. O desempenho geral e a competitividade era apenas 1,9% superior a cada mil posições nas classificações universitárias globais. Ao comparar o desempenho de candidatos cujas universidades são menos reconhecidas, o diferencial de desempenho salta para 19%.
Os motivos por trás da competitividade dos universitários
Os pesquisadores encontraram vários motivos pelos quais os graduados das melhores universidades tiveram um desempenho um pouco melhor. O primeiro é simplesmente numérico: as universidades com classificação mais alta geralmente podem escolher entre um grupo maior de candidatos, o que leva a uma competição mais acirrada e uma maior qualidade das turmas ingressantes.
Os dados demonstraram que esses alunos de fato obtêm notas mais altas em testes de habilidade cognitiva geral, têm mais experiência internacional, melhor proficiência em inglês e maior inteligência cultural. Mas eles não explicitam se essas competências foram obtidas antes da graduação, não sendo resultado dos estudos universitários.
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Em segundo lugar, as universidades mais bem classificadas oferecerem uma formação melhor por contratarem os melhores professores, terem instalações mais bem equipadas e promoverem mais oportunidades de aprendizagem. Mas, de acordo com os pesquisadores, isso não necessariamente tem efeito no desempenho profissional dos graduados.
O estudo concluiu que o ambiente educacional parece não aumentar a competitividade e o desempenho dos estudantes, já que aqueles que frequentaram universidades menos reconhecidas mostraram um nível igual de motivação e ética de trabalho.
Apesar do desempenho geral um pouco melhor, a contratação de formados de instituições reconhecidas pode ter uma desvantagem. Os dados do estudo sugerem que quem estudou em faculdades de elite pode prejudicar o trabalho em equipe por se concentrar excessivamente nas tarefas, não dando atenção às relações interpessoais. O levantamento indica que, em alguns casos, os graduados das melhores universidades tendem a ser menos amigáveis e mais propensos a conflitos.
Conclusões
De forma resumida, os resultados do estudo sugerem que a contratação de graduados de universidades de alto nível levaria a uma melhoria no desempenho e competitividade da organização. No entanto, a classificação na universidade por si só é um indicador fraco do desempenho individual no trabalho. Os pesquisadores aconselham os recrutadores a usarem testes adicionais projetados para avaliar as competências técnicas e interpessoais necessárias para o trabalho.
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Além disso, considerando a crescente lacuna entre as habilidades adquiridas na faculdade e a prontidão para o trabalho, qualquer vantagem de desempenho conquistada com o estudo universitário também pode ser superada pelo treinamento dentro do ambiente organizacional. A resposta também depende das demandas de trabalho específicas.
Os pesquisadores questionam se o trabalho exige um funcionário de alto desempenho de uma universidade bem conceituada ou se os critérios exigidos podem ser atendidos por graduados de universidades menos conceituadas. Eles finalizam pontuando que, para tomar a decisão mais estratégica, o recrutador deve saber a resposta a esta pergunta antes de olhar para o “pedigree de faculdade” do candidato.