Flexibilidade, adaptabilidade a diferentes modos de pensamento e, naturalmente, domínio de línguas estrangeiras são habilidades essenciais a quem deseja desenvolver uma carreira global. Esse é o seu caso? Recrutadores são unânimes em dizer que para cargos em organizações internacionais, empresas multinacionais ou consultorias estudar fora é diferencial.
O inglês aumenta a média salarial entre 10% e 15% na mesma posição
“O inglês aumenta a média salarial entre 10% e 15% na mesma posição – inclusive no mercado brasileiro. Para mercados internacionais, então, é pré-requisito”, afirma Ricardo Ribas, gerente executivo da empresa de recrutamento Page Personell. Segundo ele, atualmente apenas 4% dos profissionais no mercado têm domínio da língua inglesa, o que mostra como ainda é relativamente pequeno o número de pessoas que têm a oportunidade de estudar no exterior.
Ainda que essencial, dominar o inglês é só o primeiro passo. Carlos Watanabe, diretor para América Latina na Dolby Laboratórios, ressalta também a importância de conhecer outros idiomas: “Noto que fazer negócios em inglês ou em portunhol, estando na América Latina, não é visto com os mesmos olhos que negociar em espanhol. É essencial dominar o idioma de onde se quer trabalhar”, explica.
A língua, porém, é apenas um dos skills que um período de estudos no exterior pode oferecer. Há mais de 20 anos viajando e morando em diferentes países por conta de sua carreira, Carlos sente no seu dia-a-dia a aplicação de habilidades que adquiriu em experiências como estágio e MBA no exterior. Entre elas, ele destaca ter resiliência e cabeça aberta para as diferentes formas de trabalhar: “Uma das maiores diferenças que sinto entre nosso modo de trabalho e a cultura anglo-americana são a objetividade e pontualidade. Em reuniões nestes países, uma reunião agendada para as 15 horas está, às 15h01, tratando do tema principal. No Brasil, temos um período de assuntos amenos, como um aquecimento”, observa.
Vivemos um momento de mercado em que pessoas em cargos gerenciais e de direção estão indo fazer MBA ou pós no exterior porque não tiveram esta oportunidade antes
Leia mais: Saiba como é possível ter uma carreira internacional morando no Brasil
Quando ir? – Cada vez mais cedo, experiências internacionais têm se tornado um diferencial. Segundo Ricardo, desde a seleção para programas de trainee ela já é bem vinda e bem vista. “Vivemos um momento de mercado em que pessoas em cargos gerenciais e de direção estão indo fazer MBA ou pós no exterior porque não tiveram esta oportunidade antes. Talvez em 20 anos ela passe mesmo a ser fundamental para a entrada no mercado de trabalho”, afirma.
O momento ideal para ir, porém, é variável – cada contexto exige uma oportunidade diferente. “Há pessoas que vão aos 40 porque sentem que o mercado ou um novo cargo exige aquela experiência. Outros têm a oportunidade de ir mais cedo, ainda no ensino médio, para já aprenderem um novo idioma. O importante é estar atento ao seu objetivo com aquele curso: não adianta já ter domínio da língua e ir fazer apenas conversação, por exemplo. Neste caso, é melhor fazer um curso na sua área, que aprofundará seus conhecimentos técnicos e habilidades específicas”, explica o gerente.
Carlos aproveitou a oportunidade de estudar fora em dois momentos diferentes de sua trajetória: durante o curso de engenharia, quando fez um estágio de verão em uma companhia de engenharia na Finlândia; e, mais tarde, ao arranjar uma transição da engenharia para a área de gestão.
Logo ao entrar no mercado no trabalho, seu estágio internacional fez a diferença para que fosse contratado pela multinacional Schlumberger. “Esta experiência na Finlândia acabou alavancando minha carreira internacional. Eles me contrataram avisando que, em algum momento, eu seria expatriado – e já ter morado fora me deu a possibilidade de afirmar aos recrutadores que eu tinha a maturidade necessária”, explica ele, que morou no Egito, Colômbia, Peru e Argentina durante os quatro anos que passou na empresa.
Não é só fazer as malas e ir. É preciso aproveitar a oportunidade para desenvolver características e habilidades que a sua carreira dos sonhos vai exigir
Após este período, decidido a encaminhar sua carreira para uma área mais gerencial, optou por fazer um MBA na Universidade de Michigan. “Até então, minha experiência tinha sido essencialmente técnica. O MBA me abriu a cabeça em relação a outras disciplinas que eu não tinha visto antes. Ele foi fundamental para que fizesse minha transição para a gestão e possibilitou também todo o desenvolvimento posterior da minha carreira”, considera.
Concluído o MBA, ficou três anos na consultoria McKinsey. Depois, assumiu posições de liderança em empresas de grande porte até chegar à diretoria na Dolby, onde está hoje.
Leia mais: Quais são os efeitos de uma pós-graduação no exterior na carreira?
Como afeta a carreira? – Carlos considera um histórico com experiências internacionais importante, mas não decisivo ao lidar com a sua equipe. “Dado o mesmo grau de avanço na carreira, percebe-se que quem teve uma experiência mais prolongada no exterior é naturalmente mais maduro. Mas isso não é um impeditivo para contratação ou promoção, apenas conta a favor do candidato”, explica.
O executivo ressalta, porém, que após um tempo a experiência internacional deve deixar de ser o ponto mais relevante na trajetória do profissional. “Seria leviano afirmar que minha trajetória se deve ao MBA ou ao estágio internacional. Deve-se, sim, ao conjunto da obra”, argumenta.
Ricardo também aleta que experiências no exterior obviamente não garantem, por si só, carreiras de sucesso: “Muitos voltam com expectativas muito altas de colocação e salário, sendo que a experiência nem sempre lhe garante estar capacitado para os cargos almejados”. Para isso, é fundamental explorar ao máximo as oportunidades que estar fora oferece, como criar um networking rico e cultivar a interação com outras culturas. “Não é só fazer as malas e ir. É preciso aproveitar a oportunidade para desenvolver características e habilidades que a sua carreira dos sonhos vai exigir”, finaliza.
Esta matéria foi originalmente publicada no portal Estudar Fora, da Fundação Estudar