Alguns dados evidenciam que as prioridades das novas gerações, de forma geral, são muito ligadas à responsabilidade e ao impacto social. Por exemplo: segundo uma pesquisa de 2016 da Cone Communications, 75% dos millennials estão dispostos a ter um corte no salário para trabalhar em uma empresa socialmente responsável. De acordo com outro estudo, da Nielsen, 73% dos millennials pagariam mais por produtos ou soluções sustentáveis.
A preocupação com um futuro mais sustentável foi consolidada pela ONU com os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” (ODS). “Neste documento, questões antes subjetivas ganharam metas quantitativas a serem atingidas e buscadas”, afirma Roberta Goulart, sócia da área de Relacionamento com Cliente do multi-family office pioneiro no Brasil Turim.
O que é ESG
Para o mundo dos investimentos, isso também significa uma mudança na rota. Ou melhor, a inclusão de uma nova rota: a dos investimentos que levam em conta critérios de sustentabilidade; ou ESG – Environmental, Social and Governance (em português, Ambiental, Social e de Governança). “Alguns comportamentos que existiam antes não são mais aceitos e as companhias precisam mostrar, cada vez mais, que são sustentáveis – ecológica, social e economicamente. O ESG foi criado como uma métrica para avaliar o desempenho das empresas nesta nova conjuntura.”
Ainda que a tendência de consumidores cada vez mais interessados em produtos e serviços que tenham impacto positivo no meio ambiente e na sociedade se alastre pelo Brasil, o país ainda está atrás no tema. “[No exterior,] esta já é uma exigência, muitas vezes considerada fundamental pelo investidor estrangeiro, principalmente o institucional”, detalha Roberta. “Vemos as companhias e os fundos [estrangeiros] já posicionados ou fazendo o movimento para definir seus critérios e expô-los no mercado como diferencial”, conclui.
Para profissionais qualificados, consequentemente, a tendência é que a busca também cresça por aqui, diz Roberta. “A evolução do cenário obriga as empresas e fundos a se adaptarem, buscando profissionais capazes de levar as companhias para este novo patamar exigido.”
“Vemos os jovens hoje em três dimensões: consumidor, investidor e integrante do mercado de trabalho. Como consumidor, estão dispostos a pagar mais por produtos que reflitam um comprometimento com um impacto social e ambiental positivo. Como integrantes do mercado de trabalho, estão dispostos a receber menos para trabalharem em empresas que possuam na sua cultura esta ideologia. Como investidores, buscam ativos que tenham estas características para montar seu portfólio, sem abrir mão da rentabilidade. O conhecimento e entendimento dessa área é um diferencial para os profissionais que querem entrar ou que já estão no mercado.”
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Critérios ESG
Os critérios ESG – cuja função é fundamentar o processo de análise e seleção dos investimentos – são:
E – Environmental (Ambiental):
Como a empresa usa sua energia, descarta lixo, se emite gás carbônico e se contribui para mudanças climáticas, etc.
S – Social:
Direitos dos colaboradores, cuidados com a segurança no trabalho, diversidade no quadro de funcionários, relacionamento com a comunidade, etc.
G – Governance (Governança):
Sistema de políticas e práticas pelas quais as empresas são direcionadas e controladas, diversidade no conselho, metodologia de contabilidade, politica anticorrupção, etc.
Os requisitos ESG não são levados em conta de forma homogênea em todos os investimentos. Uma empresa no setor de energia não pode ser avaliada no mesmo peso de critério “E” que uma companhia de software, exemplifica a sócia da Turim.
Mas como são monitorados esses critérios? “Tradicionalmente as informações das empresas investidas são recebidas através de declarações financeiras publicadas periodicamente”, destaca Roberta. Com a velocidade com que as notícias se disseminam no meio digital, no entanto, isso acarreta em efeitos muito rápidos no preço das ações.
“Se, por exemplo, é divulgada uma matéria expondo determinada companhia por trabalho infantil ou por conexão com esquemas de fraude e corrupção, o mercado reage imediatamente. Isto porque certos padrões de comportamento não são mais aceitáveis pela sociedade no mundo todo. De forma que um analista, neste cenário, precisa estar antenado com tudo que é divulgado no mercado, formal ou informalmente”, explica ela. “E com um cuidado adicional de ser muito criterioso com a abundância de informações disponíveis hoje em dia”, finaliza.
Quais são as vantagens do ESG para os investidores?
Do lado dos investidores, as vantagens do uso dos critérios ESG não são poucas. Para Roberta, a principal delas é a transparência que esses dados trazem quando adicionados ao conjunto de referências que direcionam o processo de decisão. “Os critérios fornecem informações sobre como as companhias conduzem seus negócios. Isto consequentemente gera mais segurança na tomada de decisão e a garantia de que o investimento feito ao final será sustentável a longo prazo”, explica, “para o investidor, no final, o uso dos critérios é um mitigador de risco.”
“Por exemplo, escolher uma empresa com um critério ‘E’ alto significa que a companhia está preparada ou, até mesmo, a frente da tendência mundial de sustentabilidade ambiental, de forma que ela estará melhor posicionada do que seus competidores. Uma empresa com critério ‘G’ alto representa uma governança forte, o que geralmente implica em funcionários capacitados e engajados, e uma companhia de sucesso. Uma companhia com critério ‘S’ elevado, por sua vez, pode refletir a diversidade entre as pessoas, uma característica intrínseca a um ambiente de trabalho que propicia a inovação.”
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Para quem quer trabalhar com investimentos ESG
As possibilidades de formação na área no país ainda não estão tão desenvolvidas como mundo afora – e, segundo a sócia, se restringem muito mais ao nível executivo. Por isso, ela destaca que é essencial, para quem se interessa por trabalhar com investimentos ESG, acompanhar as resoluções e diretrizes divulgadas pela ONU sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que pautam as maiores questões de impacto social e ambiental em voga no mundo. Além disso, também é sua recomendação acompanhar políticas que estão sendo desenhadas por grandes instituições do mercado.
“Assim como para qualquer ramo onde esteja inserido, o importante é se manter a frente da curva e das tendências”, diz Roberta. “Entender como os critérios conversam com os movimentos do mercado e ser capaz de usá-los para antecipar uma resposta é o que torna um profissional competitivo no meio.”