Quando Eris Ries lançou seu livro, The Lean Startup (publicado no Brasil como A Startup Enxuta), a filosofia que ele propôs rapidamente se espalhou entre jovens empreendedores e universitários que sonhavam em abrir uma startup de sucesso.
Com as máximas “Comece pequeno e aprenda rápido” e “Valide tudo com o seu cliente”, o autor se alçou como um guru do empreendedorismo. Ao mesmo tempo, sua metodologia lean startup — traduzida como startup enxuta — virou uma espécie de manual passo-a-passo para desenvolver um produto ou serviço com alto potencial de vendas.
Se, por um lado, os jovens empreendedores são a maioria de seus leitores, Eric também acredita que a metodologia lean startup seria bem-vinda nas grandes empresas. Para ele, qualquer companhia torna-se mais inovadora na medida em que começa a ser mais “enxuta”.
Durante sua primeira visita ao Brasil, para participar do HSM ExpoManagement, evento sobre empreendedorismo e inovação em que o Na Prática esteve presente, ele falou sobre os aspectos culturais e organizacionais que impedem as grandes organizações de inovarem.
A história do lean O conceito de lean startup é baseado em grande parte no lean thinking ou lean manufacturing (manufatura enxuta), que foi uma abordagem de gestão aplicada no sistema de produção da fábrica da Toyota no Japão, nos anos 1950. O termo foi cunhado por acadêmicos norte-americanos, ao estudar como a Toyota tinha ido rapidamente de uma pequena fábrica local de automóveis a um dos líderes globais no setor.
Essa abordagem de gestão era baseada em alguns princípios centrais: minimizar o desperdício, alimentar uma cultura de melhoria contínua, e sempre medir os resultados de seu produto. Essas orientações, que impulsionaram grande parte das inovações na Toyota, foram assimiladas por empresas de diferentes indústrias desde então e serviram de base para a maior parte dos ensinamentos de Eric Ries.
Assim, o pensamento enxuto não é necessariamente avesso às proporções de uma grande empresa. Então, o que impede essas companhias de serem mais lean?
O problema da inovação em grandes empresas “Em grandes empresas, a inovação não é tão frequente porque costuma ser encarada como um processo bastante caro e com altas chances de dar errado. Isso acontece porque elas realizam altos investimentos em ideias que nunca foram testadas”, explica Eric. Para ele, a inovação enxuta segue o seguinte ciclo: construir um produto o mais rápido possível (o que ele chama de MVP), ouvir a opinião dos consumidores e aprimorar o produto com base nessas informações.
No entanto, muitas empresas sentem receio em lançar no mercado um produto que não está 100% pronto. Com isso, a opinião do consumidor permanece uma incógnita durante todo o processo de pesquisa e desenvolvimento. Assim, milhões de dólares são investidos no desenvolvimento de um produto que, no final das contas, não interessava ao consumidor.
A cultura de grandes empresas também costuma ser um obstáculo para a inovação. “Em muitos ambientes hierárquicos, os middle managers (gerentes e coordenadores) são pagos para não serem inovadores”, critica o pesquisador. “Esses profissionais são treinados para padronizar processos e eliminar a variabilidade, mas se você elimina a variabilidade a inovação se torna impossível”, continua. Para ele, as grandes empresas precisam entender que o empreendedorismo é imprevisível por natureza.
“Em uma startup, os erros são uma boa notícia”, diz Eric Ries. Se as grandes empresas querem ser inovadoras, ninguém pode ter medo de dizer que algo deu errado.
Ser lean para inovar O problema analisado por Eric já está no radar de diversos líderes corporativos. Afinal de contas, inovar é uma condição para a sobrevivência no competitivo mercado atual. Não é de hoje que grandes empresas querem se parecer mais com startups. Ao mesmo tempo, as próprias startups em crescimento exponencial lutam para preservarem a essência de seu funcionamento. “Nós somos uma startup bem grande”, já disse o diretor do Google Brasil, reconhecido como uma das empresas mais inovadoras do mundo.
A boa notícia é que uma mudança de mindset pode ajudar a implementar uma cultura de inovação em muitas organizações. As ferramentas e práticas descritas por Eric em A Startup Enxuta tem sido incorporados nos mais variados ambientes e com bons resultados. Além de startups de tamanho considerável como Amazon, Zappos e Facebook, empresas de grande porte como GE e a própria Toyota tem adotado a metodologia para criar e redefinir novos produtos, buscando sempre conseguir feedback de seus consumidores para melhor entender suas necessidades.