No fim dos anos 60, na França, as universidades estavam no centro da ebulição política e social vivida em todo o mundo. Estudantes protestavam, exigiam reformas educacionais e estavam dispostos a realizar mudanças profundas na sociedade.
Foi nesse contexto que um grupo de alunos da L’ecole Supérieure des Sciences Economiques et Commerciales de Paris (ESSEC) criou a que seria considerada a primeira empresa júnior da história. A Junior Enterprise, fundada em 1967, ajudou estudantes a entenderem melhor o ambiente empresarial e teve seu conceito rapidamente espalhado pelo mundo.
No Brasil, a chegada das empresas juniores foi contemporânea à redemocratização. Em 1988, ano de promulgação da Constituição, a primeira empresa universitária tocada por estudantes foi fundada. Hoje, algumas décadas depois, já são mais de 1500 organizações em uma rede espalhada por todo o país.
Para entender o impacto de experiências como essa na vida dos estudantes, o Na Prática conversou nesta semana com Fernanda Amorim, ex-presidente da Confederação Brasileira de Empresas Juniores. Ela falou sobre sua trajetória e explicou o que é preciso fazer para tirar o melhor proveito de empreendimentos universitários.
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Organizações para estimular o espírito empreendedor
Fernanda, que é formada em Engenharia Metalúrgica de Materiais pela Universidade Federal do Norte Fluminense (Uenf), começou sua trajetória com empresas juniores de uma forma diferente da maioria das pessoas.
Segundo a jovem, não havia nenhuma empresa júnior no campus de sua faculdade, em Campos dos Goytacazes, e tudo que ela sabia sobre o movimento era o que ouvia dos amigos que haviam se mudado para estudar na cidade do Rio de Janeiro.
Ainda assim, o engajamento de Fernanda com centros acadêmicos fez com que amigos a convidassem para iniciar um projeto piloto de empresa júnior na Uenf.
“Foi no final de 2015 que nós fundamos a empresa”, conta ela. “Eu já comecei no movimento criando a minha própria empresa, que era de engenharias multidisciplinares.”
Fernanda explica que, no início, a federação carioca de empresas juniores foi determinante para o sucesso da empreitada. Isso porque, na prática, os trâmites burocráticos de montar um negócio demandam conhecimentos técnicos que, até ali, ela e seus colegas ainda não possuíam.
“Essa parte jurídica é que dá toda a credibilidade pros clientes confiarem no nosso comprometimento [enquanto empresa de alunos]”, analisa ela.
A experiência fez com que Fernanda percebesse que a empresa júnior, na forma como ela é criada, não serve apenas para o desenvolvimento pessoal dos estudantes.
“Eu percebo que, além de me desenvolver como profissional, eu consigo [com essa missão] impactar e fazer a diferença na vida dos clientes e fazer a diferença na vida de outros alunos que vão entrar depois nas empresas juniores. Se eu entrego uma boa empresa júnior para as próximas gerações, mais gente se transforma.”
Foram esses fatores, explica ela, que a fizeram continuar na jornada como empresária universitária, primeiro como diretora de expansão da Rio Júnior, até chegar à Brasil Júnior, que é a confederação nacional do segmento.
“A Brasil Júnior é a organização responsável por representar e desenvolver os mais de 33 mil jovens nas mais de 1500 empresas juniores em todo território nacional.”
Como aproveitar melhor o ambiente de empresas
Para Fernanda, a experiência em empresas juniores é fundamental para gerar aprendizados em três vertentes principais que, combinadas, ajudam a ingressar e performar no mercado de trabalho.
Aprendizado por projetos
Em um ponto mais direto, Fernanda diz que o trabalho em empresas juniores ajuda os estudantes a desenvolverem habilidades a partir da execução de projetos reais. Ou seja: na medida em que é preciso lidar com clientes, lidar com expectativas e entregar serviços e produtos, é possível aprender com o processo.
“Você aprende porque você executa um projeto real na sua área de atuação, aumentando o conhecimento técnico.”
Aprendizado por gestão
Além do aprendizado técnico, Fernanda diz que existe um caminho de aprendizado ligado às chamadas soft skills (habilidades sociais). Na visão da jovem, todos que participam de empresas juniores acabam vivenciando as relações reais das empresas, e essa vivência ensina habilidades para lidar com diferentes cenários.
“Ainda dentro da gradução, eu fui consultora, diretora, liderei times, fui da área de marketing, da área comercial e fui presidente de uma empresa com menos de 20 anos de idade”, conta Fernanda ao notar como a experiência da EJs são intensivas.
Aprendizado por Cultura empreendedora
Por fim, a jovem destacou ainda como a atuação em EJs é fundamental para desenvolver uma capacidade empreendedora fundamental nos negócios atuais. Ainda assim, ela diz que isso é algo que só é desenvolvido a partir de uma vivência “real” nas organizações juniores, nas quais os estudante assumem projetos e conseguem construir cases de sucesso.
“São as habilidades de liderança, empreendedorismo e protagonismo que são importantes para se destacar no mercado de trabalho, ser promovudo e conseguir enfrentar cada vez maiores. Mas tem gente que apenas passa pelas empresas, se inscreeve, faz figuração, e isso não vai valer de fato para o histórico profissional.”