“Tudo começou quando eu comprei o livro Sonho Grande, foi o que me moveu”, explica o empreendedor Valentim Biazotti, hoje a frente da pré-aceleradora Worth a Million, que fundou no final do ano passado e presta apoio a startups e negócios sociais que estão em fase inicial. “Pegamos até os empreendedores que estão partindo do zero”, explica.
O livro, citado por diversos outros empreendedores, conta a história de como um trio de investidores brasileiros — Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, fundadores da Fundação Estudar — criaram um dos maiores grupos empresariais do capitalismo brasileiro e tornaram-se referência no cenário internacional.
Formado em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Valentim já havia tentado empreender quando estava na faculdade. Fundou sua primeira startup em 2011, e resolveu encerrar suas atividades no ano seguinte. “Eu queria fazer, tinha brilho no olho, mas ainda não estava com a capacitação necessária para fazer um negócio de alto impacto”, reconhece.
Na faculdade, teve apenas uma matéria que se relacionava à temática empreendedora. “O contato com o empreendedorismo era muito pequeno, e isso se relaciona muito com os problemas que eu enfrentei na minha primeira tentativa de criar uma empresa”, critica o ex-aluno, que espera ver mais disciplinas sobre esse assunto surgirem nas universidades brasileiras nos próximos anos.
Preparação
O aprendizado era claro: ele precisava se preparar. “Hoje em dia temos muitos cursos online disponíveis, e fiz praticamente todos de Stanford relacionados a empreendedorismo e design thinking, e os de inovação do MIT [Instituto de Tecnologia de Massachusetts]”, ele conta.
Assim, sem sair do Brasil, ele teve acesso a conteúdo de ponta de algumas das universidades mais empreendedoras do mundo. Um dos destaques foi o curso disponibilizado online e de forma gratuita pela aceleradora Y Combinator, uma das mais respeitadas do mundo, com sede no Vale do Silício. Para Valentim, o material é imperdível: “Recomendo esse curso para toda e qualquer pessoa que pense em empreender.
Chamado How to Start a Startup (em tradução livre, “Como começar uma startup”), o curso é dividido em vinte palestras com alguns dos nomes mais importantes do cenário empreendedor nos Estados Unidos, como Paul Graham, Peter Thiel, Marc Andreessen e Ben Horowitz.
“Fico sempre imaginando o efeito que isso teria tido na minha trajetória se eu tivesse tido esse conteúdo na faculdade”, brinca, já que a aceleradora oferece a o curso presencialmente em Stanford.
Além das aulas online, Valentim também conta ter estudado muito as metodologias ágeis — lean startup, design thinking, canvas, entre outras. Para isso, alguns livros costumam ser citados por diversos empreendedores, incluinso o próprio Valentim: A Startup Enxuta, de Eric Ries; Design Thinking, de Tim Brown; e Business Model Generation, um longo e criativo trabalho de co-criação para o qual quase 500 autores de todo o mundo contribuíram.
A esse conhecimento, ele também soma sua própria experiência com construção de marcas. É que, logo após ter fechado sua primeira startup, ele entrou como trainee na consultoria de estratégia e branding Sonne. Nesse momento, ele faz questão de não ser mal-entendido: o sonho de empreender continuava vivo, mas era importante focar em aprender e se preparar para o desafio.
Sobre branding, sua leitura preferida (e recomendada) é o livro Kellog on Branding — “o melhor para construção de marcas”. Permaneceu na consultoria por cerca de dois anos, e então saiu já disposto a empreender de novo.
Empreendendo
Foi quando, menos de uma semana depois de ter saído do antigo emprego, participou do Liderança Na Prática 32h, programa de desenvolvimento de lideranças e aceleração de carreira do Na Prática. “O Liderança Na Prática 32h me ajudou muito a entender qual era o meu norte, e foi lá que comecei a desenhar a consultoria que tenho hoje. Se não fosse pelo empurrão que tive lá, com certeza não estaria com a empresa hoje”, relata Valentim sobre o impacto do programa.
Foi assim que decidiu criar a Worth a Million, que nasceu como uma consultoria de estratégia e branding para startups e negócios sociais, mas acabou encontrando o seu lugar como pré-aceleradora. Com a empresa, sua ideia é ajudar as pessoas que estão passando pelas mesmas dificuldades que ele, quando tentou empreender pela primeira vez.
Foi também do networking feito durante o Liderança Na Prática 32h que vieram os seus primeiros clientes e outras indicações de clientes. A participação de eventos do universo empreendedor, inclusive, é uma das práticas que ele recomenda com mais ênfase para quem está começando o próprio negócio.
O nome, que pode ser traduzido com “Vale um milhão”, reflete um objetivo ambicioso — exatamente como prega a cultura que aprendeu em Sonho Grande. Em dez anos, quer impactar um milhão de pessoas. Para alcançar esse número, conta não só com a atividade de pré-aceleração, mas também com palestras e cursos de capacitação.
No universo do empreendedorismo, acelerar significa aumentar o ritmo de crescimento e desenvolvimento de uma empresa durante a sua entrada no mercado.
Na Worth a Million, a ideia é atender e apoiar empreendedores em diversos momentos do que pode ser considerado uma fase inicial, anterior aos negócios já um pouco mais maduros que costumam ser apoiados por aceleradoras tradicionais. Daí o conceito de pré-aceleração. Mesmo aqueles que ainda não tem um produto definido ou mesmo uma ideia inicial podem contar com a ajuda da Worth a Million nessa tarefa.
O que Valentim oferece é uma estrutura mental, cujo objetivo é organizar e estruturar os primeiros momentos da jornada empreendedora. “Depois que a pessoa passar pelas nossas mãos, queremos ter a certeza de que sua empresa continuará crescendo, até mesmo com a ajuda de outros agentes”. Até hoje, já atendeu 21 startups e negócios sociais, dos quais todos continuam em atividade e crescendo.
Propósito
Nesse processo, também aprendeu que muitos empreendedores de primeira viagem precisam mesmo é de apoio emocional — e ele também está lá para isso. “Um dos nossos papeis é tirar a pessoa daquele momento de depressão, que ela pensa em desistir”, explica. O objetivo é trazer o empreendedor de volta aos trilhos, para que possa executar aquilo que tem na cabeça.
“Ser empreendedor é ter resiliência”, ele insiste em ressaltar. “Tem dias que você acorda com um ânimo incrivel, e têm outros em que parece que nada vai dar certo”. Aí, também entra em cena outro fator crucial para um empreendimento dar certo. Mas, para entendê-lo, é necessário dar alguns passos para trás.
Trata-se do propósito: uma razão profunda por trás da criação da sua empresa, e que te motiva a continuar. Pode também ser explicado pela máxima de que “todo empreendedor deve ser apaixonado”.
“O mais importante de tudo é que eu comecei esse negócio porque eu tinha um propósito”, explica Valentim. Como assim? Para ele, transmitir esse conhecimento que adquiriu para outras pessoas é um jeito de contribuir para uma sociedade melhor. “Precisamos capacitar e ajudar essas pessoas que querem empreender, porque elas tem um potencial de impacto na sociedade muito grande”, explica. Em uma sociedade meritocrática, ele quer capacitar para o mérito.
Nesse assunto, ele é bastante pragmático: “Se você não tem uma paixão muito grande pelo que está fazendo, você não vai conseguir passar pelos desafios de empreender”. Buscar o propósito de cada empreendedor também faz parte das reflexões que surgem no processo de pré-aceleração. Pra Valentim, esse processo também aconteceu no Liderança Na Prática 32h. Hoje, o Na Prática promove um programa de desenvolvimento de carreira voltado exatamente para encontrar e conectar o seu propósito – o Autoconhecimento Na Prática.
Para muitos criadores de startups, inclusive, Valentim sente que existe uma vontade forte de empreender e fazer uma empresa tecnológica, mas ainda não é claro o propósito. São questões que o empreendedor precisa saber responder, como: Que problema você vai resolver? O que te move e te motivará ao longo da jornada exaustiva de empreender?
Leia também: Dez cursos rápidos que mudam a vida de um empreendedor
Negócios sociais
No caso dos empreendedores sociais — aqueles que se propõem a resolver problemas sociais ou ambientais com suas empresas — a questão do propósito e do sonho parecem estar mais resolvidas. Afinal de contas, são negócios que já nascem de uma vontade poderosa: tornar o mundo um lugar socialmente mais justo, ou ambientalmente mais sustentável.
O que ele quer trazer para o mundo dos negócios sociais é exatamente a mentalidade de business que costuma ser mais abundante entre os seus colegas de startups. Em outras palavras, a importância de focar em escalabilidade, crescimento sustentável e eficiência. “São empresas que também precisam se preocupar em ter um faturamento, atrair e reter clientes, inovar e crescer”, comenta. Aqui nio Brasil, sente que esse entendimento ainda precisa ser mais difundido. “Teremos que mudar nossa maneira de pensar negócios”, conclui.
O programa de pré-aceleração da Worth a Million é pago, e é possível concorrer a bolsas por aqui