O portal DRAFT a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é… Nomadismo Digital!
O que acham que é: Extensão do período sabático.
O que realmente é: Nomadismo Digital é um estilo de vida em que pessoas viajam pelo mundo sem abdicar da carreira, já que seus trabalhos podem ser feitos de forma remota, catalisados pelo avanço da tecnologia.
O conceito não é exatamente novo mas é erroneamente confundido com a prática do “período sabático”, em que pessoas dão um tempo de suas carreiras para viajar e trabalhar em outra área (geralmente menos burocrática ou intelectual), em outro país. O Nomadismo Digital não é um trabalho temporário e, sim, uma escolha de vida que concilia a possibilidade de estar em vários lugares ao mesmo tempo em que se trabalha e ganha dinheiro.
Segundo Naiara Oss Emer do Nascimento, Relações Públicas que analisou o desenvolvimento do Nomadismo Digital e sua relação com a comunicação na era da Web 2.0 em seu trabalho final do curso de Comunicação Social na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o Nomadismo Digital é uma forma alternativa de relacionamento com o trabalho e com o mundo na qual desenvolve-se um modelo de trabalho atrelado ao estilo de vida de viajante.
“É importante destacar que a nomenclatura ‘Nômade Digital’ não se refere a ‘mochileiros’ ou pessoas que vivem de empregos tradicionais no exterior, mas sim, àqueles que utilizam a internet como plataforma fundamental de suas atividades de trabalho e base de gerenciamento de seus negócios”, ela diz.
Para a publicitária, blogueira e Nômade Digital Debbie Corrano, o Nomadismo Digital demanda planejamento e seriedade. “Trabalho, entregas, reuniões, tudo isso acontece na vida do Nômade Digital, só que à distância. Levamos para o remoto a carreira e o perfil de profissionais confiáveis que construímos enquanto trabalhávamos em São Paulo e acreditamos na importância disso.”
Ela e o namorado, o publicitário Felipe Pacheco, tornaram-se Nômades Digitais em 2012 e trabalhavam com planejamento digital para agências. Eles contam suas andanças no blog Pequenos Monstros. Agora, o casal está de volta à Berlim, depois dois meses em São Paulo. O próximo destino, em novembro, é a Tailândia, onde ficarão até março de 2017.
Nômade digital [Yuvipanda]
Quem inventou: Não há um registro oficial. O termo se popularizou depois da publicação do livro Digital Nomad, de Tsugio Makimoto e David Manners.
De acordo com Nascimento, um conceito chamado “teletrabalho” pode ser considerado a origem do Nomadismo Digital, já que foi um dos primeiros a surgir para referenciar o trabalho realizado por meio de tecnologias fora do espaço formal de trabalho. “Com o avanço tecnológico, esse movimento foi tomando forma a partir da evolução dos dispositivos móveis e do acesso às conexões wireless. Some-se a isso a popularização das viagens de longa distância e os efeitos da globalização”, diz.
Quando foi inventado: Digital Nomad foi publicado em 1997. O conceito de “teletrabalho” é de 1999 e surgiu para definir o trabalho feito em casa (home office).
Para que serve: “Para experimentar continuamente novas culturas e realidades sem abdicar da carreira”, diz Corrano. Nascimento conta que entre os benefícios listados por adeptos do Nomadismo Digital estão liberdade, mobilidade, flexibilidade, satisfação, realização pessoal e profissional.
Quem usa: Corrano conta que, inicialmente, a maior parte dos Nômades Digitais trabalhava em profissões que já nasceram para a web, como programação. “Hoje em dia, é possível trabalhar remotamente em diversas áreas, inclusive em tradicionais, como Direito e Psicologia. Muitos profissionais independentes e empreendedores também se beneficiam do Nomadismo Digital, por também terem maior flexibilidade com seus próprios negócios”, diz ela.
Dentre os Nômades Digitais listados no texto 7 ‘digital nomads’ explain how they live, work and travel anywhere in the world, do The Next Web, há uma advogada que agora escreve sobre comida de rua; um jornalista e programador de sites de viagem; um empresário dono de dois e-commerces; uma empresaria que ajuda startups de tech se estabelecerem na Ásia e três blogueiros que escrevem e postam sobre seu próprio lyfestyle para viver.
Efeitos colaterais: Falta de raízes; ansiedade diante da obrigatoriedade de planejamento financeiro, de moradia, etc e a propagação da falsa ideia de que o Nômadimo Digital é “largar tudo para viajar”. “Alguns portais vendem essa ideia, mas é um erro. É preciso muito planejamento, pesquisa e preparação para manter sua profissão em meio a mudanças, novos lugares e escritórios temporários”, diz Corrano.
Nascimento diz que isolamento e solidão diante de novos costumes, idiomas e culturas são efeitos colaterais a se considerar: “Embora o estilo de vida de um nômade digital não inclua fixar raízes em um local fixo, os laços humanos não deixam de ser importantes”.
Quem é contra: Corrano conta que ainda há resistência, por parte de empresas tradicionais, em contratar profissionais que não conhecem pessoalmente. E que também existem, no geral, pessoas que não entendem como alguém pode estar viajando e, ainda assim, ser capaz de cumprir prazos, criar projetos e bater metas. “Isso se dá pela disseminação da ideia errada de que o Nômade Digital é a pessoa ‘abandona tudo para viajar o mundo’, como se não tivesse responsabilidade com a vida profissional real.”
Para saber mais: Leia, na TechCrunch, How the startup world is bringing digital nomadism closer to reality. Publicado em setembro deste ano, lista uma série de startups criadas em função da demanda do estilo de vida nômade — e para facilitá-lo; leia, na Forbes, How To Succeed At Becoming A Digital Nomad, entrevista com Ally Basak Russell, profissional da área de marketing e Nômade Digital. Ela também publicou na Forbes Ten Life Tips For Digital Nomads; o texto The Digital Nomad: A Brief History of Remote Workers, da Highspeed Internet, mostra uma linha do tempo do trabalho remoto que vai de 1973 a 2016, cheia de informações interessantes; leia, no Gizmodo Brasil, Eu, Fernanda Neute, nômade digital. Ou como coloquei meu escritório na praia, texto em que a publicitária e blogueira conta como fez a transição de 13 anos de trabalho convencional para o Nomadismo Digital.
Este artigo foi originalmente publicado em DRAFT