Nos últimos anos, o tema da diversidade tem se tornado protagonista no debate sobre inclusão na sociedade. A maior participação de grupos minorizados nas empresas, no entanto, ainda é um desafio que encontra resistências nas organizações, de acordo com Manuela Rodrigues, gerente de Pessoas da B3, que é a bolsa de valores do Brasil.
“Na minha percepção, o receio em [em relação às políticas de diversidade] acontece na sociedade de modo geral. O tema ainda é novo para as empresas. Por isso, o diálogo é importante. Precisamos explicar os porquês disso e ensinar às pessoas.”
O Na Prática conversou com Manuela sobre os desafios de se implementar políticas de diversidade no Brasil desses tempos. Falamos sobre análise, estruturação, propósito e outros temas que apontam para melhorias nesse setor. O resultado você acompanha a partir daqui.
Análise interna e externa à empresa
Segundo Manuela, o primeiro passo para pensar a diversidade dentro de uma empresa é analisar os dados internos. Essa etapa, na visão da gestora, ajuda a entender como o tema é tocado na organização e ajuda a perceber o clima das pessoas.
Na B3, esse processo de transformação cultural começou a partir de 2017, quando a companhia nasceu, fruto de uma fusão.
“Procuramos entender como as empresas estavam atuando na área, e quais eram as boas práticas do mercado em relação à diversidade, lembrou Manuela”, lembrou Manuela.
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Diversidade x publicidade
Um dos pontos de maior importância na jornada por mais diversidade dentro da B3 está em fugir da superficialidade. Segundo Manuela, a empresa se preocupou desde o início em elaborar práticas profundas que fossem além das campanhas de marketing.
“Sempre foi nossa preocupação realizar um trabalho consistente e real de diversidade e inclusão, pelos motivos certos. Avaliamos a nossa maturidade no tema, e, a partir daí, pensamos como iríamos nos estruturar internamente para que de fato mudássemos processos, comportamentos e governança. A gente quer que essa transformação seja percebida e, sobretudo, vivenciada aqui.”
Para chegar a esse nível de profundidade, a empresa atua hoje com estratégias específicas para os grupos que pretende impactar. São ações diretas para:
- Aumentar a representatividade de grupos minorizados, como mulheres, pessoas negras, pessoas com deficiência e LGBTQIA+;
- Oferecer oportunidades equânimes de desenvolvimento para todas as pessoas;
- Garantir um ambiente seguro, livre de assédio e discriminação;
- Ampliar o “letramento” interno sobre as temáticas;
- Induzir boas práticas de mercado nessas temáticas, apoiando clientes e parceiros nessa evolução.
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Setor específico e ouvidos abertos
A gerente de Pessoas da B3 explicou ainda que, desde 2018, a empresa possui um setor específico para cuidar de diversidade e inclusão dentro da Diretoria Executiva de Pessoas.
Segundo ela, essa institucionalização da diversidade também é fundamental para garantir que as pessoas de grupos minorizados nas empresas sejam ouvidas e façam parte da construção e da transformação do ambiente.
Para isso, a B3 criou núcleos, formados por funcionários de todos os níveis e áreas, que representam e são aliados das temáticas chave. Eles são a parte central da estratégia da B3, possuem protagonismo e “o local de fala”.
Por fim, Manuela disse acreditar que para aumentar representatividade não basta simplesmente contratar pessoas diversas. Para ela, esse processo se dá como uma equação, que olha para carreira, engajamento e retenção dos profissionais.
“Nesses últimos anos, a B3 investiu esforços em aumentar a representatividade na companhia, mas, quando falamos de representatividade, não falamos só da entrada na empresa, olhamos para o ciclo de vida total dessa pessoa.”
Ação direta no entorno da organização
Como bolsa, a B3 tem um importante papel de estimular outras empresas do mercado a avançar em práticas ESG (Environmental, social and corporate governance), da qual o tema diversidade faz parte.
Neste ano, a empresa lançou seu primeiro bootcamp de diversidade e inclusão voltado para clientes – bancos, corretoras e empresas listadas – para ajudar as organizações que querem avançar na construção de uma estratégia e implementar ações internamente.