No mês do Dia da Consciência Negra, o Na Prática relembra a trajetória de impacto de seis talentos negros. Do esporte ao Direito, eles pautaram suas escolhas pessoais e profissionais sempre buscando grandes resultados.
Alexandra Loras
Ao longo de seus cinco anos no Brasil, a francesa Alexandra Loras acumulou histórias que demonstram a desigualdade racial, velada e explícita, no país que adotou.
Quando era consulesa em São Paulo, ficava na porta ao lado do marido para receber os convidados – e às vezes recebia casacos para guardar. Nas ruas com o filho pequeno, de pele e olhos claros, era frequentemente confundida com a babá.
“Várias vezes me perguntavam: mas você é francesa mesmo?”, fala ela, que trabalhou por anos como jornalista, é graduada pela Sciences Po, a melhor escola de ciências políticas da França e mestre em gestão de mídias pelo Institut d’études Politiques de Paris.
Às situações cotidianas de racismo velado, ela adicionou um interesse profundo pelos desafios da população negra brasileira – a maior do mundo fora da África – e criou iniciativas para combatê-los, como a plataforma Protagonizo, que conecta empresas e profissionais afrodescendentes.
Além disso, seu ativismo a levou a se tornar embaixadora da AfroeducAção, PlanoDeMenina.com.br, Meias do Bem e do programa Raízes, do Museu Afro Brasil, além de palestrante frequente em eventos sobre empoderamento feminino e diversidade.
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João Victor Freitas
Formado em Direito, João Victor Freitas, com 25 anos, não só é mestrando na USP, como recentemente iniciou o programa de LL.M. em Harvard.
Em 2013, ainda cursando a graduação Direito na Universidade Federal do Maranhão, João Victor se deparou com o anúncio do concurso de Monografia do escritório Levy & Salomão. Ganhando, teria chande de fazer um estágio de férias em São Paulo.
“No dia final do protocolo do concurso de monografia, era aniversário da minha mãe, eu tinha um seminário na faculdade, faltou energia na minha casa. Tudo conspirando para eu não mandar o artigo”, brinca o advogado. Enfim, conseguiu enviar o trabalho e acabou sendo um dos finalistas.
Dentro do escritório, foi convidado a estender seu estágio e, depois, a tornar-se parte do time oficial. Durante sua trajetória no Levy & Salomão, atuou em diversos casos de projeção nacional, como na formulação de acordos de leniência e no desenvolvimento de programas de compliance pós Operação Lava Jato.
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Lisiane Lemos
Lisiane Lemos é especialista em soluções na Microsoft e cofundadora da Rede de Profissionais Negros (junto com Wagner Cerqueira, Vinicius Vidica e Nanda Thomas), uma ONG que conecta profissionais negros e empresas em busca de talentos.
Formada em Direito pela Universidade Federal de Pelotas, ela ocupou diversos postos na AIESEC e entrou na Microsoft um ano após se formar, em 2013. Em 2017, apareceu na lista da Forbes Brasil entre os 91 brasileiros mais promissores com menos de 30 anos.
Além disso, na Microsoft Lisiane m participa do grupoBlacks At Microsoft (BAM), onde funcionários debatem o tema da diversidade racial. A empresa tem diversos programas de inclusão voltado para negros, mulheres, pessoas LGBT e pessoas com deficiência e no Brasil é liderada por uma mulher, a CEO Paula Bellizia.
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Nadia Ayad
Nadia Ayad é uma carioca formada em Engenharia de Materiais pelo Instituto Militar de Engenharia (IME). Em 2017, estampou manchetes ao vencer um concurso mundial organizado pela companhia sueca Sandvik sobre aplicação de grafeno.
À base de carbono, o grafeno é o material mais fino e mais forte já criado, além de ser transparente e um excelente condutor de calor. Quando estava na faculdade, ela pesquisou suas propriedades e avanços recentes relacionados, até ter a ideia de usá-lo em um sistema de filtragem e dessalinização de água para reciclá-la e assim, combater, a escassez em regiões áridas e semiáridas. Em outras palavras, tornar potável água que era imprópria para consumo humano.
Entre trabalhos voluntários, estágios de pesquisa e iniciações científicas no Brasil e no exterior – ela passou um ano na Universidade de Manchester, onde o grafeno foi criado, e estagiou na Imperial College London – ela decidiu seguir carreira em Bioengenharia, que é o tema do doutorado que realizou na Universidade da Califórnia, em Berkeley.
A bioengenharia trata do desenvolvimento de novas tecnologias, do ponto de vista da engenharia, para resolver problemas da ciência da vida. “Isso vai desde a criação de próteses e novos equipamentos médicos até o estudo de criação de tecidos e órgãos sintéticos e engenharia genética”, explica a jovem ao Na Prática.
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Rafaela Silva
Aos cinco anos, quando precisou escolher uma atividade na associação de moradores na Cidade de Deus, comunidade carioca em que nasceu e cresceu, queria jogar futebol – mas não tinha espaço para meninas. Acabou acompanhando a irmã na aula de judô.
Em 8 de agosto de 2016, Rafaela ganhou sua primeira medalha de ouro olímpica, exatamente com o judô. Foi também a primeira do país nos jogos do Rio de Janeiro. Além de comemorar a conquista, a alguns quilômetros da comunidade e num estádio cheio, a judoca superou a traumática desclassificação nos Jogos Olímpicos de 2012, após um golpe irregular em sua segunda luta. Era sua primeira Olimpíada.
Em Londres, ela não apenas perdeu o prêmio como teve que lidar com comentários violentos e racistas. “Tinha [tweets dizendo] que lugar de macaco era na jaula e não nas Olimpíadas, que eu era vergonha para a minha família”, lembrou. Entrou em depressão e considerou abandonar o esporte.
A crise exigiu uma preparação psicológica intensa com uma coach motivacional para que mudasse de ideia. Em 2013, já de volta, ganhou seu primeiro ouro nos Jogos Panamericanos. No mesmo ano, tornou-se campeã mundial de judô. Foi a primeira brasileira a conquistar o título.
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Wellington Trindade
Wellington Trindade é membro da rede de Líderes Estudar, jovens talentos apoiados pela Fundação Estudar. Formado no Ibmec, onde cursou Administração de Empresas, teve como um dos seus principais projetos o Programa ProLíder, curso gratuito que começou em maio de 2016 com o objetivo dar boas bases para futuras lideranças públicas no Brasil.
Ainda no ensino médio, teve vivência intensiva na realidade da gestão pública quando ganhou bolsa para estudar na Escola Parque, na Gávea, área nobre do Rio de Janeiro. Foi convidado por uma professora a passar as noites em uma escola pública da região para evitar o (longo) trajeto diário até São Gonçalo, onde morava. Para retribuir, Wellington se oferecia como monitor voluntário e ajudava na limpeza.
Estudando com bolsa em uma escola de primeira linha, ficou indignado com os contrastes entre o ensino público e particular. “Quando faltava algum professor – e sempre faltava! –, eu entrava para dar monitoria. Houve dias que entrei de segunda à sexta”, lembra.