“Não ter visibilidade ou controle sobre tudo” é um dos grandes desconfortos de ser um líder, diz Christian Orglmeister, sócio do Boston Consulting Group (BCG) que administra o escritório da consultoria estratégica no Brasil. Para amenizá-lo, é preciso confiar no time, saber quem são as pessoas e o que elas fazem.
O segundo desafio: qualquer posição de liderança, segundo ele, requer certo nível de desprendimento pessoal. Isso significa estar à disposição dos outros, e não esperar que os outros estejam à sua disposição, “que venham e resolvam tudo para você”, explica. “Liderar é servir.”
No entanto, sua rotina é flexível o bastante para que favoreça o “equilíbrio entre dar e receber”. E seu cotidiano ajustável o agrada, porque reserva bastante espaço para a improvisação, seja para atender sua equipe ou mesmo lidar com o inesperado. “Acho que não dá para programar tudo; e que bom, também”. Não quer dizer que ele deixe de priorizar e guardar tempo para as duas ou três atividades mais importantes do dia.
Sua maior inspiração? Seus filhos. Eles aprendem “em uma velocidade muito maior do que a minha, apesar do tamanho deles e da idade pouca deles, me ensinando muitas coisas sobre esse mundo tão inovador de hoje”.
Aprendizado de geração para geração
No geral, Christian vê grande possibilidade de aprendizado a partir do contato dos mais velhos com os jovens. A disponibilidade em ajudar de forma mais genuína – “não porque você vai me dar algo em troca, mas porque eu simplesmente gosto” -, por exemplo, é uma forte característica do estilo de trabalho colaborativo e menos hierárquico que as novas gerações possuem.
Não só isso, o sócio do BCG também aponta maior facilidade em “encarar o novo” e de romper com os modelos estabelecidos pela sociedade.
Porém, a outra via também existe e é importante – os jovens devem ouvir mais os conselhos das gerações anteriores, principalmente de quem tem um perfil diferente.
“Me parece uma bobagem jogar fora tudo que o mundo já fez. A gente só está vivendo esse mundo hoje porque alguém o construiu.”
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Ainda que a velocidade em aprender seja um ponto positivo, Christian considera que falta aos jovens aceitar que o processo de desenvolvimento de ideias e amadurecimento humano exigem tempo e, consequentemente, paciência.
Para as empresas, um primeiro passo para se beneficiar do choque entre gerações (e ensinamentos), é promover maior heterogeneidade de experiência e perfis, diz o sócio do BCG. Na prática: “acelerar alguns talentos, promover mais rápido algumas pessoas – não de maneira generalizada”, explica.
Profissional do futuro
Há 10 anos, segundo Christian, os perfis de profissionais eram bem definidos e pautados por poucas carreiras, como a advogado, médico e engenheiro. Hoje, não só não existem tal limitação, como o papel da inteligência cognitiva (conjunto de habilidades mentais relacionadas à obtenção de conhecimento) diminuiu – porque, muitas vezes, é “suplementada pela máquina”.
“Quem está se destacando no ambiente de trabalho são os que conseguiram desenvolver grande capacidade socioemocional”
Para o futuro, Christian brinca lembrando que existem diversas estudos que mostram “que os empregos de daqui dez anos ainda nem foram inventados”. Mas considera que a “tendência de valorização cada vez maior pela habilidade de fazer coisas colaborativas, que envolvam não só o cognitivo, vão continuar sendo importantes”.