Eles criaram uma startup para fazer brasileiros viverem mais e melhor

Dois homens segurando um tablet
[Caetano Dable]

Onde há um problema, há uma chance. É essa a essência do empreendedorismo, especialmente evidente quando se trata de startups. A Plataforma Saúde, criada por Tales Gomes e Felipe Dias, se baseia tanto nessa ideia quanto na possibilidade de mudar o status quo da saúde pública no país.

“O benefício de empreender no Brasil é que existem muitas oportunidades para melhorar serviços públicos ineficientes, seja de forma incremental ou ao introduzir uma solução que muda completamente uma indústria, como o Uber faz na mobilidade urbana e o Nubank no mercado financeiro”, explica Tales. “É o que queremos fazer pela atenção primária.”

O território é fértil. Segundo o Ministério da Saúde, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como diabetes, doenças cardíacas e hipertensão, respondem por 72% das causas de mortes no Brasil. Entre os fatores que elevam o índice estão baixo nível de atividades físicas, alimentação desequilibrada e excesso de peso.

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A lentidão do Sistema Único de Saúde é outro ponto importante e, literalmente, questão de vida ou morte. De acordo com Tales, os resultados que o Plataforma Saúde entrega em 20 minutos podem levar até 12 meses via SUS.

“São doenças que podem ser evitadas com mudanças de hábito e diagnosticadas de forma precoce com equipamentos e exames muito simples”, diz. Foi aí que os dois, que ocupam o cargo de CEO e CTO respectivamente, enxergaram uma chance de fazer a diferença.

Como funciona Em 2014, investiram o próprio dinheiro para desenvolver um produto que oferecesse acesso a serviços de saúde rápidos e humanizados com foco na atenção primária. O jeito que encontraram foi criar um aplicativo para web que gerencia os dados de saúde do paciente e lhe entrega os resultados, assim como as ferramentas e informações necessárias para adotar hábitos mais saudáveis de vida.

Plataforma Saúde - Empreendedorismo Social
[divulgação]

Para chegar aos beneficiados, criaram a ação Saúde Agora. Enfermeiros visitam comunidades carentes com estruturas móveis e oferecem quinze exames básicos, como índices de glicemia, colesterol e triglicerídeos. Há também um questionário sobre estilo de vida. Todo o processo custa R$ 20.

A missão, resume Tales, é empoderar indivíduos a assumirem o controle da própria saúde e tratar problemas de forma preventiva, ao invés de só procurar ajuda médica quando eles afloram.

Empreendedorismo Depois de um ano de funcionamento, já acumulavam prêmios. Foram escolhidos pelo Massachussetts Institute of Technology (MIT) para integrar a lista de 35 inovadores com menos de 35 anos do EmTech, evento voltado para tecnologias emergentes. Também foram reconhecidos pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como a startup mais criativa da América Latina e pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD).

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Com mais de cinco mil brasileiros impactados na bagagem, a Plataforma Saúde quer crescer. Para expandir a capacidade de atuação, inaugurou uma nova unidade de atendimento e firmou parcerias com o SEBRAE e com a Universidade Estácio de Sá – onde Tales se formou em Marketing –, além de angariar o apoio das ONGs CDI e Saúde Criança.

Os fundadores gostam de acompanhar as ações com a equipe, tanto para buscar o feedback dos usuários quanto para ver o impacto de perto. “Este primeiro ano de operação permitiu que aprimorássemos o produto e nos posicionássemos para servir mais pessoas nos próximos anos”, conta Tales.

Atuar num setor tão importante – e com regulamentações em constante evolução – tem seus percalços. Além das dificuldades financeiras habituais que um novo negócio enfrenta, a falta de mão de obra qualificada e alta carga tributária são desafios constantes.

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Para enfrentar os obstáculos, que ultimamente incluem também a crise econômica e política, tiram das prateleiras obras como “Zero to One”, de Peter Thiel, “Exponential Organizations”, de Salim Ismail, “Good to Great”, de Jim Collins, e “Sonho Grande”, de Cristiane Correa.

Conversar com outros empreendedores também é fundamental. “São pessoas que, como nós, vivem os problemas diários de colocar de pé um negócio no país.”

Tipo exportação A preocupação social que levou à criação do Plataforma Saúde não é novidade. Ao longo dos anos, Tales e Felipe, ambos com 28 anos, engajaram-se de diversas maneiras. De servir comida para pessoas em situação de rua a reformar casas e ensinar matemática financeira para crianças carentes, foram fisgados pela possibilidade de causar um impacto.

“Participar de programas sociais é um caminho sem volta”, fala. “É dedicar-se a minimizar as distâncias sociais do nosso país, e isso serve de motivação para levar a startup adiante.”

A questão da saúde tornou-se claramente pertinente: 80% das mortes prematuras poderiam ser evitadas, explicam, e os grandes afetados são os 150 milhões de brasileiros na base da pirâmide. “Decidimos focar na saúde porque acreditamos que a tecnologia pode ajudar a resolver este problema de forma rápida, simples e de baixo custo.”

Com expectativa de chegar aos 15 mil atendimentos até o fim do ano, o Plataforma Saúde pode bem se provar uma solução global inovadora. Em fevereiro, a dupla recebeu recursos do governo chileno para implementar a plataforma por lá. “São semanas, dias, às vezes minutos que fazem a diferença na hora de salvar uma vida”, conclui Tales.

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