Foi apostando no potencial da economia compartilhada que Eduardo Baer e o sócio Fernando Gadotti lançaram, em 2014, a DogHero – marketplace que funciona como um ‘Airbnb canino’, conectando donos que vão se ausentar com amantes de cachorros dispostos a receber os animais.
A ideia tomou forma após o MBA de Eduardo em Stanford, como bolsista da Fundação Estudar, e surgiu de um problema pessoal do empreendedor (que tinha receio de ter um animal de estimação por viajar muito e não ter onde deixá-lo) e de uma posterior pesquisa de mercado que indicava potencial: o Brasil, segundo ele, tem o maior mercado pet do mundo e quase metade dos lares abrigam um animal de estimação.
O Na Prática conversou com o Eduardo para entender melhor os desafios de começar uma startup no Brasil, e descobrir o que sua experiência pode ensinar aos jovens empreendedores. Confira:
Como surgiu a ideia de criar a DogHero?
“Eu sempre gostei de fazer coisas”, ele conta. Formado em Administração pela Universidade de São Paulo (USP) e em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), sua primeira experiência empreendedora foi ainda aos 13 anos, com um site de download de músicas em formato mp3 – iniciativa que, proibida pela lei, teve vida curta. “Eu nem sabia o que era pirataria, mas queria construir alguma coisa”, admite. O site saiu do ar, mas o tino empreendedor permaneceu.
Como você se descobriu empreendedor?
Durante a faculdade, viveu experiências empreendedoras na empresa júnior e trabalhou na DiskCook, startup recém-criada e focada no delivery de comidas. Na época, tinha apenas quatro funcionários. “Comecei muito com essa pegada de carregar o piano, ir fazendo as coisas que precisavam ser feitas”, conta sobre suas primeiras experiências profissionais. Numa época em que o país era ainda incipiente em investimentos venture capital (aportes típicos para alavancar startups), ficou inseguro quanto ao destino da empresa e, em vias de se formar, ingressou na consultoria estratégica Bain & Company.
“Atuar como consultor foi super bacana, tive a chance de trabalhar com pessoas muito inteligentes e disciplinadas, mas vi que aquilo não era o que eu queria fazer mesmo”, conta. Na Bain, trabalhou com projetos de viés empreendedor, incluindo a criação de uma ONG na amazônia, e percebeu que queria estar do outro lado da mesa; preferia a perspectiva do seu cliente, que estava montando algo.
Como a Dog Hero foi viabilizada financeiramente?
Depois de alguns anos, e de uma vertiginosa curva de aprendizado, saiu da Bain e voltou para ser sócio do seu ex-chefe, recomeçando – e reformulando – a DiskCook. Chamou alguns amigos para se juntar à empreitada, e assim nasceu o iFood. O app, hoje, chega a receber 2 milhões de pedidos em um mesmo mês.
Quais lições o iFood trouxe para a DogHero?
Criar o DogHero, no entanto, seria diferente. Não se tratava da transformação de um modelo anterior, mas sim da criação de uma startup do zero. Já decidido a fundar a própria empresa, a busca por um MBA foi exatamente para amadurecer profissionalmente e se preparar para o desafio. “Queria aprender com os erros dos outros”, conta. Também aproveitou o network proporcionado por Stanford para levantar capital no exterior e começar o negócio no Brasil, junto ao sócio, assim que retornou.
“Pensei se valeria a pena trabalhar um pouco lá [nos Estados Unidos], ganhar experiência, mas queria começar logo, estava ansioso para fazer coisas”, Eduardo completa. Com as taxas do curso para pagar, ver os seus colegas de MBA recebendo ofertas de trabalho generosas foi uma espécie de provação, mas que não o fez adiantar seus planos. “Você nunca está cem por cento preparado para empreender. É aquele tipo de coisa que você só faz fazendo. Tem que de fato começar e fazer”, resume.
Como Stanford te ajudou a empreender?
Nos primeiros meses da DogHero, na época de validar as primeiras hipóteses do negócio, os próprios sócios passavam o dia telefonando para potenciais clientes, em ligações muitas vezes demoradas para detalhar e vender o produto recém-lançado no país. Para montar o time, buscou as mesmas características que fazem um empreendedor suceder: “um senso de produto e cliente muito porte, e a necessidade de construir algo que realmente resolva o problema de um cliente”. Deu certo.
A empresa, que tem crescido a uma taxa de 20% ao mês, acaba de levantar 12 milhões de reais em uma rodada de investimentos envolvendo fundos e investidores anjos. Já conta com 6 mil anfitriões cadastrados, mais de 20 funcionários (e várias vagas abertas!), e acaba de expandir para o segundo andar do sobrado que ocupa, no bairro da Vila Mariana, em São Paulo. Para Eduardo, esse ainda é o tímido começo do sonho grande que ele tem para a companhia.
Como um empreendedor deve lidar com erros?