Em 2016, a NASA registrou quase 19 mil candidatos em seu processo seletivo para novos astronautas. Um detalhe: havia apenas 14 vagas abertas. A concorrência, de mais de mil candidatos para cada posição, torna esse processo equiparável aos mais concorridos programas de trainee, e cerca de 18 vezes mais disputado que o vestibular de Medicina da USP.
O time de astronautas da agência espacial, de fato, é um grupo bastante restrito. Desde que começou a recrutar astronautas, em 1959, somente 338 foram selecionados. Hoje, são cerca de quarenta os astronautas ativos, ou seja, elegíveis para serem enviados em missões espaciais.
Durante sua primeira tentativa para entrar na agência espacial norte-americana, em 2000, Chris Cassidy foi rejeitado. Aqui, não vale a máxima de “no ano que vem tem uma nova chance”. O recrutamento de novos astronautas não é anual, e ocorre de acordo com a necessidade da organização – sendo assim, é possível ter que aguardar anos até uma nova tentativa. Foi o que aconteceu com Cassidy, que esperou até 2004 por uma nova oportunidade – e dessa vez foi selecionado.
“Todo muito fracassa e é como você responde aos fracassos e os supera que define quem você é. É o que fiz no caso da minha candidatura. Não funcionou da primeira vez e eu fiquei decepcionado, mas sabia que tentaria de novo”, ele explica.
Os requisitos para o processo seletivo são bastante específicos, como ser cidadão dos Estados Unidos, ter visão quase perfeita, demonstrar aptidão física para o desafio por meio de um teste exigente aplicado durante a seleção, e ser formado em certos cursos, como Engenharia, Biologia ou Matemática. Engenheiro, Cassidy preenchia todos esses requisitos e, ainda por cima, era um militar. Mas, segundo ele, o diferencial que determina de fato a escolha dos astronautas é outro…
“Eu olhava em volta para os outros entrevistados, tinha 120 no meu grupo, e qualquer uma daquelas pessoas poderia ser uma ótima astronauta. Por que eles me escolheriam e não outra pessoa? Perguntei ao chefe de seleção exatamente isso”, ele conta. “Sua resposta foi simples: além de pessoas tecnicamente qualificadas, queremos pessoas boas, que conseguem interagir, são boas colegas de equipe, têm atitudes altruístas e vontade de ajudar outros. É isso que queremos numa nave espacial e em qualquer equipe.”
Hoje Chief Astronaut da NASA, a posição de liderança mais alta para um astronauta na organização, ele também está envolvido na escolha dos astronautas para cada projeto. “Meu trabalho principal é ajudar a escolher a tripulação, decidir quais astronautas irão em qual missão e como juntar essas pessoas com nossos parceiros internacionais, e compreender as personalidades e habilidades dessas pessoas para criar um time vencedor”, explica. “O que realmente queremos são boas pessoas que funcionam bem em equipe e têm habilidades básicas para enfrentar os desafios técnicos do trabalho, mas que além disso são pessoas legais que trabalham bem em grupo.”