De 45 milhões de brasileiros que possuem algum tipo de deficiência, apenas 1% está empregado, segundo levantamento da Relação Anual de Informações Sociais (Rais). Esse percentual é, em parte, uma conquista da Lei de Cotas (Lei 8.312/91), que determinou que empresas com mais de 100 funcionários devem incluir pessoas com deficiência (PCDs) no quadro de pessoal. Mas apenas promover essa inclusão não é suficiente. É preciso que as organizações e os profissionais tomem alguns cuidados para respeitar PCDs no ambiente de trabalho.
Por isso, no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, o Na Prática convidou gestores e trabalhadores conectados com o tema para compartilhar dicas de como respeitar PCDs no ambiente de trabalho. Confira!
7 práticas para respeitar PCDs no ambiente de trabalho
#1 Não coloque a deficiência antes da pessoa
Anna Karolyne Prado é deficiente visual e trabalha na área de gestão de pessoas do Grupo Med Mais. “Eu trabalho disposta à aprender e ensinar. Eu não coloco minha deficiência antes da minha capacidade porque acho que todos nós somos capazes e todos possuem algum tipo de dificuldade, seja ela qual for. Trabalhamos não procurando a perfeição, mas sim ajudar uns aos outros. Eu sempre fiz as pessoas me respeitarem pelo trabalho que eu faço, não pela minha deficiência”, compartilha.
#2 Ofereça ajuda e não seja evasivo
Para o farmacêutico Miguel Mesquita, que é cadeirante, uma atitude que é sinônimo de não respeitar PCDs no ambiente de trabalho ocorre quando as pessoas passam pelos deficientes e só olham quando eles precisam de algum tipo de ajuda. “O certo é que as pessoas se oferecerem pra ajudar pois, no meu ponto de vista, é assim que conquistamos o respeito das pessoas em geral. As pessoas no ambiente de trabalho, podiam ser mais pacientes, compreensivas e principalmente parceiras. O objetivo de uma equipe é ajudar uns aos outros e não ignorar ninguém”, analisa.
#3 Não julgue a pessoa sem saber sua história
Muitos deficientes possuem limitações que não são tão visíveis. Como é o caso da servidora pública Roberta Vajas, que possui uma deficiência física que faz com que suas pernas tenham tamanhos diferentes. “Às vezes, é constrangedor utilizar algum serviço preferencial, como vaga de estacionamento, por exemplo. As pessoas têm preconceito por não saberem exatamente qual é a sua condição. Mesmo não sendo cadeirante, eu tenho minhas limitações, mas tem gente que olha e não vê. Simplesmente te rotulam e te olham de cara feia”, aponta.
#4 Se prepare para receber as limitações do profissional
Recepcionista do Laboratório Exame, Kalebe Melo possui paralisia cerebral e distrofia muscular. Ele analisa que existe uma falta de preparo do mercado de trabalho para receber profissionais com deficiência. “Que são profissionais capazes, com força de vontade, mas que tem limitações como todo mundo. Um dos grandes problemas das empresas é evitar ao máximo contratar profissionais deficiências porque vão exigir mais dedicação dos outros profissionais. Às vezes o gestor está preparado, mas os colegas não, e eles acabam sendo por vezes ofensivos com pequenos comentários. Infelizmente, é algo que acontece”, argumenta.
Leia também: Onde as empresas erram na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho?
Kalebe comenta que é preciso entender a realidade do profissional para recebê-lo bem. “A pessoa precisa agregar no profissional, independente de ele ter uma deficiência ou não”, argumenta. Anna Karolyne Prado afirma que as empresas não devem esperar que uma situação constrangedora aconteça para fazer adaptações, que buscam respeitar PCDs no ambiente de trabalho. “Precisa ser um ambiente que inclui todas as pessoas”, opina.
#5 Dê tempo para adaptação
Atleta paraolímpico e deficiente visual, Leandro Moreno é massoterapeuta do Grupo Med Mais e acredita que os desafios trazidos pela deficiência são momentâneos. “Quando você chega em uma empresa, por exemplo, existe uma dificuldade de saber onde ficam as coisas. Mas rapidamente é possível se acostumar com o ambiente e as pessoas se acostumam com a gente. As pessoas muitas vezes querem ajudar, mas acabam fazendo da forma errada, mas com o tempo tudo flui bem”, percebe.
Contudo, ele ressalta, principalmente em relação à sua condição, que é importante que as empresas não mudem as coisas de lugar para respeitar PCDs no ambiente de trabalho. “Para o deficiente visual, a questão de adaptação é mais necessária em ambientes maiores. Quando as pessoas oferecem ajuda, eu aceito para eles entenderem que, de vez em quando, realmente precisamos de um auxílio. Mas é importante verificar se realmente precisamos desse apoio. Temos limitações, mas não é isso que nos impede de fazer algo”, garante.
#6 Trate-os da forma mais natural possível
Tanto Anna Karolyne Prado como Kalebe Melo acreditam que uma das formas de respeitar PCDs no ambiente de trabalho é ter uma convivência normal. “Isso torna mais prazeroso e confortável o ambiente de trabalho. Ficar o tempo todo achando que a pessoa não vai dar conta de algo por causa da deficiência é algo que jamais pode existir. Tem que tratar de forma profissional”, ressalta Anna.
#7 Transforme limitações em vantagens competitivas
Deficiente auditiva, Rebeca Menezes desenvolveu um alto grau de foco e concentração, que a ajudam em performar como assistente administrativa no Grupo Med Mais. “É preciso bastante empatia respeitar PCDs no ambiente de trabalho. Eu tenho dificuldades de me comunicar, mas consigo entender tudo quando falam devagar ou utilizam a Língua Brasileira de Sinais. Apesar disso, consigo usar minha falta de audição para ter uma performance melhor do que a maioria das pessoas em tarefas que exigem muita atenção”, relata.
Rebeca considera que risos e piadas sobre as “incapacidades” de deficiente são atitudes que demostram falta de respeito. “Também quando fazem cobranças, mas sem explicar o que quer que seja feita. Também precisamos de orientações para fazer um bom trabalho. Queremos ser incluídos como todos. É legal quando as pessoas nos puxam para bater papo, nos conhecer, oferecer ajuda, repassar informações sobre algo que aconteceu e nos tratam como um igual”.