Pode ser que a solução esteja ali, na sua frente, e você não vê. Falta perspectiva. Ou às vezes você vai longe demais, rápido demais, e as coisas dão errado. Falta experiência.
Essas duas situações são frequentes, em maior ou menor grau, ao longo da vida – e ter alguém com quem discuti-las pode tornar seu desenvolvimento profissional muito mais fácil.
“Quando jovens profissionais recebem mentoria de gerentes experientes, se sentem menos sozinhos, menos confusos e menos sobrecarregados aos saber que outros conseguiram passar por situações similares antes”, fala a psicóloga Daniele Levy. “Ter alguém para consultar no caso de um tema crítico pode tornar a jornada menos desafiadora e o processo mais proveitoso.”
Além de anos de experiência como mentora de jovens mulheres, ela também é facilitadora de um programa voltado para executivas em Stanford, que as ajuda a buscar crescimento pessoal e a superar dificuldades impostas pela desigualdade de gênero.
Um facilitador, vale lembrar, é como um condutor: alguém que auxilia um grupo a pensar sobre certas questões, angariando a força e o conhecimento coletivo para criar soluções ou trocar experiências.
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Para Daniele, tanto a mentoria quanto grupos que contam com a presença de um facilitador estão em ascensão em empresas de alta performance. “À medida que os locais de trabalho dependem mais da colaboração entre áreas e do poder da diversidade, a facilitação deve sustentar e potencialmente aumentar seu momentum”, aposta.
A brasileira se mudou para os EUA em 1995, quando foi fazer seu MBA na Stanford Graduate School of Business, como bolsista da Fundação Estudar, e acabou ficando no Vale do Silício.
Obteve seu mestrado e seu doutorado na Pacific Graduate School of Psychology – onde pesquisa temas como vício em trabalho, especialmente entre mulheres – e hoje atua como psicóloga e como consultora de lideranças organizacionais. (Um assunto que ela conhece bem: seu posto mais recente em uma corporação foi vice-presidente de marketing de produtos do Yahoo!.)
“Amo a energia, entusiasmo e otimismo de mulheres de alto potencial que estão começando suas carreiras”, diz. “Para mim, é uma oportunidade única de trabalhar com algumas jovens incríveis que estão se preparando para mudar organizações, vidas e o mundo.”
Abaixo, Daniele fala sobre os benefícios da mentoria e da facilitação tanto para indivíduos quanto para empresas e o que é preciso saber na hora de buscar, ou aceitar, uma relação de mentoria.
Você é mentora e facilitadora. Quais são as principais diferenças entre um e outro?
Como facilitadora, meu papel é criar um espaço seguro em que elas possam trocar ideias, mostrar vulnerabilidade, aprender umas com as outras e crescer no processo. Estou tentando cultivar o poder coletivo do grupo – sou mais um maestro deixando que elas criem a música.
Quando atuo como mentora, eu que estou compartilhando minhas próprias experiências e opiniões. É um processo mais um a um, em que sou vista como “expert” em um tema em particular e espero que o mentorado possa aprender algo com minha experiência pessoal.
Há diferença entre mentorar lideranças organizacionais em grandes empresas e startups?
Sim. Em grandes empresas, há mais tempo e espaço para mentorar jovens talentos e planejar desenvolvimento de carreira de uma maneira que maximize as chances de sucesso. O processo de mentoria pode ser deliberado e acontecer num ritmo mais brando, frequentemente com o apoio explícito da área de Recursos Humanos num programa bem organizado.
Na vida de startup, geralmente são situações de “vida ou morte”. O ritmo é acelerado, as oportunidades são temporárias e não há estrutura. Um indivíduo geralmente precisa procurar mentoria fora da organização, já que todos os outros funcionários da empresa estão tão exaustos e sobrecarregados de trabalho quanto ele. Apoio e conselhos precisam ser muito mais pontuais, variados e dinâmicos.
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Mentoria e liderança feminina
Qual é a importância da mentoria na busca pela igualdade de gêneros?
Mulheres que alcançaram posições corporativas de liderança há décadas o fizeram com pouquíssimo apoio. Felizmente, hoje há um número suficiente de líderes mulheres no mercado de trabalho para que elas apoiem o crescimento de uma nova geração de mulheres que buscam deixar suas próprias marcas.
Quando mulheres são mentoras de outras mulheres, podem ajudar a ampliar as definições e expectativas de liderança feminina. Igualdade de gêneros significa não apenas que mulheres tenham o mesmo número de posições influentes que homens, mas que possam liderar como elas mesmas ao invés de serem caricaturas de modelos masculinos.
O que um mentor e um mentorado devem saber?
Primeiro, o mentor precisa ter condições de firmar um compromisso de tempo para estar disponível para seu mentorado. Segundo, precisa estar preparado para alavancar seus contatos e abrir portas e fazer conexões quando for necessário. Por fim, é importante que reconheçam os limites de seus conhecimentos e respeitem que o mentorado precisa construir suas próprias habilidades e know-how.
Quanto ao mentorado, os elementos mais importantes são humildade e abertura. Humildade para admitir que não tem todas as respostas e abertura para escutar de verdade, aceitar o conselho e colocá-lo em prática.
[Daniele Levy / Reprodução]
O que você, a mentora e facilitadora, aprende nos processos?
Ser exposta a jovens profissionais maravilhosamente criativos, ambiciosos e motivados (no meu caso, majoritariamente mulheres) renovou minhas esperanças de que podemos mudar as desigualdades no local de trabalho – e na sociedade em geral.
Aprendo com eles a manter meu espírito empreendedor vivo e a continuar lutando por coisas melhores no futuro. Pensando em algo mais mundano, frequentemente aprendo sobre novos aplicativos, sites, serviços, livros, gerentes, empresas e teorias que estão motivando e inspirando a próxima geração de líderes.
Como um empreendedor ou líder corporativo pode implementar sistemas de apoio como esses na empresa?
Não é tão difícil construir um sistema corporativo de mentoria. Primeiro, precisa vir de cima: você precisa do apoio executivo, que pode incluir comunicações regulares sobre o programa, encorajar [funcionários] a participar e mostrar apoio na forma de eventos sociais e de networking.
Também é preciso ter um conjunto diverso de mentores, que reflita a composição dos funcionários. E ambos mentores e mentorados precisam ter um tempo reservado para se engajarem com o programa e de privacidade para trocar ideias fora de seus papeis normais de trabalho.
Outras organizações, como associações profissionais (de engenharia, de psicologia, redes de contato de ex-alunos), também podem oferecer oportunidades ao criar programas que conectam membros mais velhos com membros mais novos, online e offline.