Mario Mello tinha o sonho de ser presidente de uma multinacional. Aos 44 anos, assumiu a diretoria geral do PayPal na América Latina, liderando um time de 400 pessoas. Cinco anos depois, o sonho mudou.
“Eu tinha estabilidade financeira, mas estava sendo muito impactado pela história política do país. Eu estudei na Poli, meus estudos foram pagos por impostos, então comecei a me sentir culpado por ter interferido pouco no mundo político.”
Depois de uma aula em um curso de Ciência Política em Harvard, esta culpa se transformou em ação. “Percebi que precisava parar de reclamar e tentar agir para causar mudanças”, conta. Com isso, começou um processo de um ano e meio, para se desligar do PayPal e abrir espaço para uma nova empreitada: um negócio social que aproximasse o cidadão da política.
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O Poder do Voto
Naquele mesmo ano, Mário começou a se dedicar, de forma parcial, ao desenvolvimento de um aplicativo que usasse tecnologia como instrumento de transparência e cidadania. O Poder do Voto coleta os dados de votações no congresso nacional, disponíveis graças à Lei de Transparência, e os disponibiliza de forma simples para os usuários cadastrados.
É possível inclusive encontrar seu “match” no legislativo, ao identificar quem foram os parlamentares que votaram de forma semelhante a você em determinadas pautas. “[Se o candidato votou diferente do esperado] ao invés de brigar, vamos trocar de deputado”, brinca Mello.
Além disso, a ferramenta funciona também como um instrumento de cobrança, já que os congressistas recebem um relatório com a opinião de sua base. “Eles recebem automaticamente os e-mails e é uma forma construtiva de acompanhar a opinião pública, baseada no que os eleitores desejam.”
A organização sem fins lucrativos que hoje opera de forma leve, com um corpo de voluntários e consultorias pro-bono, almeja atingir 2 milhões de usuários cadastrados. Junto aos resultados de votações no congresso federal, a plataforma também tem um pilar educativo – em que organizações colocam seus pareceres sobre determinados assuntos.
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De executivo a empreendedor
Para Mario, muitas das competências que ele desenvolveu ocupando cargos executivos em grandes empresas foram importantes para sua atuação no O Poder do Voto – principalmente com relação à tomada de risco e criatividade na solução de problemas. “Sempre fui um executivo empreendedor – inclusive, sofri em alguns lugares em que a inovação pode ser vista como problema.”
Mas, para ele, não existe um caminho ideal para empreender. “Para mim, foi um processo lento que foi catalisado pelo meu momento de vida. Sou muito grato pelos meus movimentos de carreira: me formei em engenharia, fui trabalhar construindo pontes e não gostei. Então a hora de experimentar é, mesmo, no começo da carreira. Tenho uma preocupação grande de as pessoas ficarem esperando ‘o momento certo’ ou ‘o caminho certo’. Eu acho que você vai trabalhar e descobrir sua paixão no caminho”, aconselha.
Desafios de empreender
A atuação no setor privado, porém, não o preparou para atuar sem recompensas financeiras para o time. “Nunca havia liderado sem bônus, sem ações… Hoje, minha habilidade de liderança é voltada à orientação de equipes de voluntários, que se dedicam tanto quanto”.
Por fim, as passagens de liderança também permitiram estabelecer redes de contatos que, hoje, oferecem serviços pro-bono – como a hospedagem do aplicativo e a consultoria jurídica. “Profissionalmente, se você fica velho e não fez coisas erradas, as pessoas retornam suas ligações”, ri.