Muito comentado nos últimos anos no país, o private equity é um dos mais expressivos setores do mercado financeiro, e se dedica a investir seu capital adquirindo participações em empresas já desenvolvidas ou em processo de consolidação.
O nome se refere, na realidade, à modalidade de investimentos por trás dessa estratégia, e muitas vezes as empresas investidas são gigantes do setor que, por alguma razão – normalmente a gestão mal conduzida – sofreram reveses em seus lucros e andam mal das pernas.
Assim, as firmas de private equity normalmente participam da gestão e influenciam o processo decisório das empresas em que investem – promovendo, algumas vezes, choque de gestão e mudança de cultura nessas empresas. O objetivo é lucrar com a venda de suas partes num horizonte de médio-longo prazo, entre quatro e dez anos.
O processo de investimento tem sete fases – criação de tese de investimentos, originação de negócios, diligência, negociação, investimento, monitoramento e, finalmente, venda – e tamanha variação resulta, para os profissionais que administram um portfólio diversificado, num cotidiano dinâmico, em que muitas informações e decisões precisam ser avaliadas.
É por isso que o setor busca gente com perfil analítico e habilidades comerciais, além de habilidades de comunicação. Afinal, é preciso estar em contato constante com os clientes e também com as investidas.
Para saber mais sobre o assunto, o Na Prática conversou com três pessoas que trabalham com private equity no Brasil e estão em diferentes fases da carreira. Todos são ex-bolsistas da Fundação Estudar, organização que está com seu processo seletivo para bolsas de estudo aberto até 24/3.
Pedro Henrique Fragoso, diretor no BTG Pactual
Formado em Economia pela Bucknell University, Pedro começou no mercado financeiro logo após a graduação, em 2008. Ficou quatro anos na área de fusões e aquisições do Goldman Sachs, experiência que ele considera excelente para qualquer profissional. Hoje é diretor de investimentos em infraestrutura no BTG Pactual, em São Paulo, onde trabalha desde 2012.
[acervo pessoal]
Como é seu dia a dia de trabalho?
Resumidamente, envolve análise e execução de novos investimentos e gestão nas empresas investidas. Na minha opinião, a combinação dessas duas coisas é essencial. Envolver-se nas operações te torna um melhor investidor – isso é circular.
O que é mais legal em relação a private equity?
A combinação entre finanças e a “vida real”. Considero uma atividade completa, que traz princípios de finanças, dívida e investimento, negociação, estratégia e operação. São atividades que qualquer bom investidor ou empreendedor precisa saber, seja com dinheiro de terceiros ou com seu próprio dinheiro. Se amanhã eu resolver abrir uma barraca de cachorro quente, vou aplicar as mesmas coisas que faço hoje no trabalho, não tenho dúvidas.
Qual foi o melhor conselho profissional que recebeu?
Pode parecer besteira, mas não é: prezar pela organização, em tudo. Na minha visão, só quem é gênio consegue se dar ao luxo de não ser organizado. Não sou e também não conheço tantos gênios, então sou organizado!
A organização sempre me ajudou a manter a disciplina, controle de qualidade nos trabalhos que passam por mim, o raciocínio lógico nas tomadas de decisão e em negociações. É importante mencionar também que organização não tem uma definição única, cada um encontra a sua forma de se organizar.
Que conselhos daria para os jovens que querem ter uma carreira de sucesso em private equity?
Não deixe nada passar sem compreensão. Se alguma coisa chega no seu prato pela primeira vez, você tem o direito (e quase obrigação, em alguns casos) de questionar, perguntar etc. Essa é a oportunidade de entender e evitar levantar a mão nas próximas vezes, dessa vez na hora errada. Portanto, não tenham vergonha de perguntar e questionar mesmo quando parece óbvio. Às vezes são as perguntas ‘burras’ que te que fazem entender a complexidade das coisas!
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Ana Fontes, vice-presidente sênior na Darby Private Equity
O primeiro contato de Ana com o mercado financeiro foi um estágio na Brookfield Asset Management, quando ela ainda estudava Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1998. A experiência foi tão boa que ela ficou por lá até 2007, mesmo ano em que entrou na Darby Private Equity.
[acervo pessoal]
Como é seu dia a dia de trabalho?
Uma parte do tempo é externa e dedicada a conhecer empresas e agentes de setores que nos interessam e ao relacionamento com nossas investidas. Outra parte é interna e dedicada às análises financeira e estratégica e discussões com colegas.
Um aspecto não tão divertido mas que faz parte é o fato de que estamos normalmente trabalhando dentro de um ambiente sujeito à regulação de diversos países (do Brasil, da sede da empresa, dos nossos clientes). Processos e documentação consomem tempo.
O que é mais legal em relação a private equity?
É planejar e construir: poder usar todo um ferramental técnico mas ao mesmo tempo executar o planejamento. Viver com seus resultados, erros e acertos e, no final, o sucesso significar que valor foi criado.
Qual foi o melhor conselho profissional que recebeu?
Umas das pessoas que me entrevistou antes que eu entrasse na Darby, há quase 10 anos, foi um veterano da indústria e uma das primeiras pessoas a fazer private equity na América Latina.
Ele aplicou uma espécie de “case” e perguntou no que eu investiria e o porquê. A pergunta era esperada e já fazia parte da minha preparação. A resposta foi detalhada e, acredito, estruturada também.
Ao final, ele me disse: “Você parece uma professora de matemática. Esqueceu das pessoas e as pessoas são importantes para os negócios.” Acredito que isso se aplica tanto na análise de investimentos quanto no dia a dia do trabalho.
Que conselhos daria para os jovens que querem ter uma carreira de sucesso em private equity?
Como a base analítica do trabalho é fundamental, a formação acadêmica em exatas precisa ser sólida. As exceções existem, mas são raras.
Leonardo Prado Damião, analista da Gávea Investimentos
Economista formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Leonardo descobriu o mercado financeiro em Paris, quando fazia um intercâmbio na Science Po. Através da rede da Fundação Estudar, o então bolsista recebeu um convite para estagiar no Gera Investimentos, fundo de private equity e venture capital brasileiro 100% focado em educação e onde trabalhou por um ano e meio. Desde 2014, é analista de private equity na Gávea Investimentos.
[acervo pessoal]
Como é seu dia a dia de trabalho?
Como um analista é responsável por diversas empresas e cada empresa está vivendo um momento diferente, nós podemos viver todas as etapas do ciclo de investimento ao mesmo tempo – não existe uma rotina.
Um dia você está pensando em uma tese de investimento e, no outro, negociando acordos de acionistas e contratos de compra e venda. Ou então está conduzindo um time de auditores contábeis, advogados e consultores num processo de diligência, modelando o plano de negócios da empresa, estruturando um IPO ou venda ou um pouquinho de tudo.
São infinitas combinações e que criam um dinamismo muito legal para a profissão.
O que é mais legal em relação a private equity?
A exposição às melhores cabeças do mundo empresarial: executivos de grande empresas e empresas de auditoria, escritórios de advocacia de ponta, consultores estratégicos, acionistas e analistas de outros fundos…
Isso permite que você, ainda muito jovem, aprenda as melhores práticas de diversas áreas que permeiam o mundo empresarial e adicione diversas competências técnicas a sua caixa de ferramentas.
Na Gávea, fico muito feliz em poder trabalhar com pessoas que considero brilhantes e que são referências para mim.
Qual foi o melhor conselho profissional que já recebeu?
“What you see is all there is” [o que você vê é o que tem, em português]. Ou seja, seja sempre humilde e tenha a consciência de que você não sabe muita coisa.
Outro é “você jamais terá controle sobre o resultado, mas trabalhe para ter o conforto de saber que o processo foi conduzido da melhor maneira possível com as informações disponíveis naquele momento”.
Que conselhos daria para os jovens que querem ter uma carreira de sucesso em private equity?
Seja dedicado, curioso, diligente, resiliente, humilde e honesto intelectualmente – este último é o mais importante, na minha opinião. Acho que isso vale para qualquer profissão.