Como deixar o emprego em uma cultura que te diz para “nunca desistir”?

reflexo de jovens

Olivia Barrow é, em muitos aspectos, uma millennial quintessencial. Decidiu deixar o emprego fixo para viver como freelancer, mantém-se profissionalmente ativa na internet (se diz “blogueira por acidente”) e está à procura de um vínculo empregatício que a satisfaça.

Ao mesmo tempo, é consumida por dúvidas, assim como a maioria dos colegas na mesma situação. Como um currículo cheio de mudanças é visto no mercado? Será que mudar de carreira vale a pena? O que fazer se este for o caminho errado? (Existe caminho, a essa altura do campeonato?)

Em um post recente, publicado no LinkedIn, ela fala sobre a experiência de deixar um emprego garantido e buscar uma mudança na carreira como autônoma. O texto repercutiu e já tem mais de mil comentários com dicas, conselhos e palavras de encorajamento da comunidade. “Se podemos fazer os sonhos dos outros darem certo, por que não os nossos?”, questiona um usuário. Confira o ensaio de Olivia abaixo, traduzido pelo Na Prática:

“Você está oficialmente desempregada agora, certo? Parabéns!” Foi o que me disse uma amiga no sábado, dois dias depois do meu último dia em minha primeira empresa, após quatro anos.

Recebi muitos parabéns desde que me demite, tanto de pessoas que sabiam que eu estava infeliz quanto de quem estava alheio. “Obrigada”, eu respondia, sem muita certeza do que falar. Sem certeza de que os parabéns eram sinceros – a outra pessoa realmente aprecia o que foi necessário para sair de um trabalho bem pago e procurar minha felicidade, sem algo fixo alinhado no meio tempo? Será que estava secretamente com inveja? Ou é um reflexo do tipo ‘a pessoa faz grande mudança profissional → dê os parabéns.

Ou será que sabem algo que eu não sei? Do meu ponto de vista, eu poderia ter cometido um grande erro.

Pessoalmente, não tenho certeza que mereço ser parabenizada.

Foi corajoso? Ou foi covarde? De um lado, demitir-se parecesse uma derrota. “Eu não desisto”, eu disse aos 15 anos para minha mãe, com meus braços cruzados no peito e lábios tremendo, quase chorando enquanto enfrentava os testes (tão dramáticos!) de física avançada.

“Não desista”, disse o cara com uma regata da Nike, um ultramaratonista que me ultrapassou correndo na ciclovia. “Nunca desistam”, disseram as mulheres no inspirador e empoderador evento Women of Influence em Milwaukee, no mês passado. Mas, com o mesmo fôlego, elas gritam: “Sigam seus sonhos!”.

E se seguir um sonho significar desistir de outro? A mensagem de “mantenha o curso” me bombardeia de todos os cantos. E os pivôs estratégicos? Há uma diferença entre recuar para reagrupar e fugir dos desafios?

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Alguns amigos fazem uma pergunta de follow-up: “Você está assustada?”

SIM. Na verdade, estou aterrorizada. Estou saindo da trilha. Estou deixando um emprego que me garante credibilidade instantânea com o apoio de uma instituição comunitária. Quando você diz que é reporter do Milwaukee Business Journal, as pessoas se ajustam para dar espaço ao seu ego e fazem um respeitoso aceno com a cabeça. Vamos supor que você seja freelancer. Esse aceno muda imperceptivelmente para o lado, conforme o respeito vira dúvida.

É provavelmente assim que alguém que ganha a vida como artista deve se sentir. Meus parabéns, artistas, e minhas infinitas desculpas por todas as vezes que meu aceno tinha um quê de dúvida.

Uma grande surpresa foi a reação de meus mentores sênior. Sem exceções, todos me dão apoio. E isso vem da geração que valoriza a resistência, a lealdade, passar por tudo para chegar ao objetivo final, uma aposentadoria confortável. São eles que criticam os millennials por sonharem com encontrar satisfação instantânea no primeiro emprego.

E mesmo assim, quando conto que estou pensando em mudar de carreira, me demitir para me tornar freelancer e me dedicar a descobrir minha verdadeira paixão, eles dizem: vai em frente.

Mas as dúvidas ainda estão na minha cabeça:  Não se demita. Você não vai conseguir sobreviver por conta própria. Faça o que é mais esperto. Você não está se esforçando o suficiente.

Quando era pequena, nunca sonhei em ser jornalista. Sonhava em ser uma autora. Comecei meia dúzia de livros e passei semanas sonhando acordada com relacionamentos complexos e reviravoltas nas histórias. Ao longo do caminho, a realidade apareceu – crianças de cinco anos poderiam ter escrito essas histórias – e eu deixei esse sonho de lado.

Decidi tentar jornalismo porque, nas minhas palavras aos 17 anos, “no jornalismo, alguém te diz o que escrever”. Mal sabia eu. Mais tarde, eu diria aos outros que estava presa no jornalismo pelas pessoas que eu encontrava e pelo fato de que eu podia fazer perguntas como “qual é sua maior insegurança?” cinco minutos depois.

No ano passado, enquanto continuava trabalhando como jornalista, comecei a me identificar como escritora pela primeira vez – principalmente por causa do sucesso que tive escrevendo no LinkedIn.

Simultaneamente, também foi a primeira vez desde a faculdade que realmente considerei ganhar a vida fazendo outra coisa que não escrevendo, conforme percebi que não precisava ganhar a vida escrevendo para que pudesse continuar escrevendo.

Mas agora é de verdade. Olivia Barrow, escritora de aluguel.

É um grande passo rumo ao desconhecido, longe da segurança de um salário. Pode ser um passo insensato. É provavelmente insensato. Posso fugir do auto-emprego em alguns meses e correr de volta para o abraço de um empregador.

As boas novas são que a única pessoa que preciso consultar agora sou eu. As más novas são que a única pessoa que preciso consultar agora sou eu, e eu sou minha pior crítica. Aqui vai.

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Este artigo foi originalmente publicado em LinkedIn

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