Nascido em Salvador, Vinicius Neris descobriu o seu sonho em São Paulo. Quando tinha 16 anos, sonhava em se tornar engenheiro. Aos 22, começou a empreender durante o curso de Engenharia, na Universidade de São Paulo (USP). Aos 24 anos resolveu trancar a faculdade para focar completamente em seu negócio, depois de ter passado por programa de aceleração na Europa e ter vivenciado a forte cultura empreendedora do Vale do Silício — lá, foi o único brasileiro da sua turma selecionado para temporada na Draper University com jovens de mais de dez países diferentes.
Ele também é membro do Núcleo, a comunidade alumni dos programas presenciais do Na Prática. A seguir, deixa o seu relato sobre as dificuldades de empreender e a decisão de ter interrompido a faculdade para se dedicar a esse sonho:
Como todo jovem brasileiro, eu também tinha o sonho de chegar a uma universidade pública no Brasil. Aos 15 anos, quando morava em Salvador, descobri o que era sonhar grande: naquela época era ser aceito no curso de Engenharia no ITA, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, graças a um professor de Física e a outro professor de Matemática. Foi também quando, meio sem querer, percebi que precisava ter mentores, pessoas experientes que iriam me levar a lugares bons que não ainda conhecia, e esses professores se tornaram meus mentores.
Eu não teria muitas chances se permanecesse no colégio que eu estudava, por isso resolvi tentar a sorte em São Paulo, na cidade de São José dos Campos. Só consegui isso graças a esses mentores e a um colega que também nutria do mesmo sonho que eu. Juntos conseguimos uma bolsa de estudo para nos prepararmos para o ITA e também nos tornamos grandes amigos. Ali percebi que precisava ter pessoas boas ao meu lado lutando pelo mesmo sonho que eu. Precisa preencher as minhas fraquezas e também suprir as de outros, nos complementando e nos incentivando.
Em 2010 ingressei na Escola de Engenharia de São Carlos, da USP, no curso de Engenharia Mecânica, local que me proporcionou um ambiente rico de trocas, contatos e aprendizados para que começasse a empreender. Eu não me adaptei à sala de aula na faculdade. Até fui um bom aluno nos primeiros anos, principalmente pela forte bagagem de exatas do ensino médio, mas a minha vida era nos ambientes de interação com outros alunos da faculdade. Me envolvi com grupos acadêmicos, esportes e eventos.
O que me motivava era criar, inventar, testar, fracassar, aprender e tentar de novo. A sala de aula não acompanhava esse ritmo de aprendizado, tudo era muito lento e o sonho de se tornar engenheiro ficava distante.
Então, no início de 2013, comecei a descobrir sobre empreendedorismo, entender melhor sobre startups e acompanhar grandes empreendedores que estavam motivando pessoas como eu, um tanto desiludidas dos caminhos pré-definidos pela sociedade.
Naquele momento, percebi de fato que os meus aprendizados não podiam ficar limitados à sala de aula e à um diploma. Eu precisa fazer da minha vida a verdadeira escola e aprender todos os dias em qualquer situação que vivesse e através de qualquer canal. Na época em que vivemos, a informação e o conhecimento estão amplamente disponíveis na internet.
Foi aí que a figura do mentor ressurgiu na minha vida e muitos desses empreendedores que eu seguia apenas nas redes sociais se tornaram referências reais pra mim, mesmo eu não os conhecendo pessoalmente ainda. Eu já tinha aprendido que precisava estar perto dos melhores, então faria de tudo para conhecer essas pessoas de sucesso com histórias incríveis e inspiradoras, pois elas me ajudariam a moldar uma atitude e comportamento empreendedor para chegar ao sucesso.
Então, em março de 2013, surgiu a oportunidade de estudar uma escola de empreendedorismo que acabara de ser criada no Brasil. O Seitii Arata, um dos mentores que eu seguia e sigo até hoje nas redes sociais, estava dando 10 bolsas para quem tivesse uma ideia, criasse um projeto e colocasse em prática em poucos dias.
O tempo era curto e eu teria que fazer algo acessível. Eu não tinha muita grana para criar nada muito inovador. Comecei então a olhar ao meu redor e pensar nos problemas que eu ou os meus colegas poderíamos enfrentar. Lembrei então que todos os dias eu ia almoçar no restaurante universitário e várias vezes esquecia caneca, por isso ficava sem tomar suco, e observando o ambiente, percebi que existia uma demanda, pois era algo que ocorria com muita gente também. Não perdi tempo: juntei o máximo de canecas que eu podia, fiz um cartaz e fiquei na porta do restaurante divulgando e emprestando canecas para quem estava sem.
Eu consegui a bolsa, e, além disso, essa atitude chamou a atenção do meu futuro sócio, um grande empreendedor e desenvolvedor de software, a pessoa certa para me complementar nos negócios. Em novembro de 2013, nos tornamos sócios na InEvent, aplicativo mobile de comunicação e interação durante eventos.
Vinicius e os sócios Pedro Góes e Maurício Giordano [acervo pessoal]
Empreender era um sonho para mim e consegui começar esse sonho. Mas toda vez que você alcança um sonho você precisa de um outro maior para perseguir.
Vieram então os primeiros clientes e sabíamos que pra acelerar o nosso processo nada melhor do que uma aceleradora de negócios. Conseguimos uma do outro lado do Atlântico! Não pensamos duas vezes, pegamos o dinheiro que tínhamos de clientes e partimos para essa jornada no Lisbon Challenge. De novo, aquela sensação de adrenalina e felicidade de dar mais um importante passo.
Foram três meses muito intensos de aprendizados e altos e baixos no processo de aceleração com mais outras 29 startups do mundo todo. Nos dedicávamos dia e noite pelo nosso sonho e sobrevivíamos nos alimentando com menos de dez euros por dia para os três sócios. Até coelho a gente aprendeu a cozinhar! Voltamos então de Portugal sem novos clientes e com mais dúvidas do que quando fomos. Estávamos sem grana e, se nenhum novo cliente surgisse até o final do ano, a InEvent iria morrer.
Nesses momentos é hora de respirar, reavaliar nosso sonho grande, se ele permanecerá o mesmo ou não e traçar uma nova rota até esse sonho grande. O que não podemos fazer é ficar dando desculpas e não ter resiliência para prosseguir.
Nós somos uma geração de mal acostumados e incapazes de nos prepararmos para os nossos sonhos grandes — eles duram no máximo um mês de ralação. Adoramos falar que pensamos fora da caixa e que estamos criando a próxima ideia de um bilhão de doláres, mas somos incapazes de ter disciplina para estudar conceitos importantes para tornar o sonho viável e trabalhar horas e horas por isto, abrindo mão de curtir férias, finais de semana e baladas com os amigos.
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Foi aí que conheci um cara que também acreditava nisso: o criador do Epicentro, um festival de empreendedorismo no Brasil que reúne muita gente boa durante dois dias em Campos do Jordão. Eu acreditei no evento dele e decidimos que iríamos entrar como apoiador, fazendo o app do evento de graça pra ele. Graças a isso, conseguimos um cliente que ele nos apresentou e permitiu continuar rodando com a InEvent por mais alguns meses, era mais um fôlego.
Ao contrário do que a sociedade diz, decidi que não era preciso ter um diploma de graduação para ser bem-sucedido com a minha empresa. Resolvi trancar a faculdade pelos próximos meses.
Também deixei para trás a tranquilidade e conforto do interior paulista para vir morar em São Paulo. Abri mão da vida sossegada em São Carlos para ajudar a cumprir o propósito da nossa empresa: empoderar pessoas em eventos.
Queremos ser responsáveis por mudar a indústria de eventos no mundo e ter pessoas autônomas e felizes trabalhando com a gente, de qualquer lugar do Brasil ou do mundo, sem ter que ir para um escritório todos os dias. Empresas de Internet podem acessar o mundo inteiro, não acreditamos que deva ser diferente para quem trabalha conosco. Não estaremos em nenhum lugar, mas estaremos em todos ao mesmo tempo, graças ao poder que temos com a Internet.
Estamos passando por uma verdadeira montanha-russa todos os dias. O país passa por uma crise econômica e o corte de gastos vem se dando em todas as áreas. Nesse momento é preciso inovar ainda mais no nosso negócio, e não apenas no produto.
Nós podemos até fracassar, que será quando desistirmos de vez da InEvent, caso isso aconteça algum dia. Até lá nós vamos tentar de tudo, inclusive ir ao Vale do Silício captar dinheiro com investidores caso seja necessário. Se a sorte bater a nossa porta, ela vai nos encontrar trabalhando.
Eu sei que é difícil ter um diploma de engenharia por exemplo, mas é muito mais difícil ter um projeto e fazê-lo dar certo, nada vai te ensinar mais do que isso, nem mesmo um MBA de Harvard. Não queira apenas estudar em um MBA, queira sim se tornar um case de estudo e ter sua história estudada por alunos de um MBA. Você vai falhar muito pra tentar chegar lá. Pode ser que na InEvent a gente tente muito e nunca chegue, porém, se nunca lutarmos para isso, é fato que nunca estaremos lá e continuaremos sendo meros espectadores de nossa própria vida.
O Núcleo é a maior comunidade de jovens transformadores do Brasil, formada por ex-participantes dos programas presenciais do Na Prática. Os membros do Núcleo também têm essa coluna quinzenal no portal Na Prática, espaço exclusivo para contar suas histórias e inspirar mais jovens brasileiros! Saiba mais aqui.