Buscar investimento é uma parte importante da etapa inicial de qualquer empreendimento, mas esse processo pode ser um pouco diferente quando se trata de arrecadar recursos para um negócio social. Especialistas opinam que as empresas do terceiro setor costumam trazer mais soluções criativas e demandar menos dinheiro de seus patrocinadores, além de trazer grande impacto. Conheça algumas formas de arrecadar recursos para um negócio social:
Especialista em gestão de projetos sociais e captação de recursos da Fundação Estudar, Tadzia Schanoski explica que quando se trata de negócios sociais, além dos investidores tradicionais como o anjo, muitas empresas investem nesses projetos como forma de cumprir sua responsabilidade social. “As corporações têm diversificado suas áreas de responsabilidade social para investir em negócios de impacto e que agreguem serviços voltados ao empreendedorismo social. Geralmente, elas apoiam causas que tenham algum relação com a área ou a região na qual atuam”, aponta.
Ela complementa que quando se trata de Organizações não Governamentais (ou ONGs) as fontes de arrecadar recursos são diversas. “Mas o governo ainda é um grande financiador das organizações do terceiro setor, o que é um problema. Temos um cenário em que esses negócios ainda estão se profissionalizando, principalmente os que são mais pequenos e voltados para assistência social ou comunitária”, exemplifica.
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Para arrecadar recursos para um negócio social de médio porte, é comum começar a captar com indivíduos. “A melhor forma de fazer isso é entender a causa e qual a relevância dela para o público, tanto o que será atendido quanto o que irá financiar. Sempre é preciso fazer uma análise de como a estratégia de captação está alinhada ao histórico da pessoa a ser abordada. Uma forma de captação que dá muito certo com indivíduos é o face to face, que são aquelas pessoas que abordam doadores na rua. Dá certo. É uma captação que custa muito caro mas, ao mesmo tempo, tem retorno”, indica.
Contudo, Tadzia faz a ressalva de que a estratégia não é vantajosa para todos os negócios. “Para a Fundação Estudar, por exemplo, ela não faria sentido por causa do nosso público. Mas para organizações de grande alcance como Médicos Sem Fronteiros funciona. Mas as empresas precisam investir na captação de recurso e isso depende de um capital inicial a ser aplicado. Propagandas da televisão, operações de telemarketing e face to face são estratégias caras”, avalia.
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Outra forma de arrecadar recursos para um negócio social é o licenciamento de produtos, praticada adotada pela Havaianas e o Instituto Ipê. “É legal e gera muita visibilidade de marca. Quando você alia um produto a uma organização, além do benefício de recurso, você também tem o benefício de imagem. Para as empresas com poucos recursos financeiros, indico a captação online e o financiamento coletivo. O custo é baixo, mas o impacto é grande por causa do alcance de audiência que é possível conseguir. Você também consegue segmentar o público e é uma forma muito legal de criar engajamento e valor”, afirma.
Foi pensando nessa demanda de custo baixo que surgiu a eSolidar, plataforma de impacto social que oferece às instituições de caridade ferramentas para arrecadar recursos para um negócio social. Entre elas estão loja solidária online, com compras, vendas e leilões, financiamento coletivo, doação direta e voluntariado. “Nossa operação acabou de chegar ao Brasil e está tendo uma receptividade muito boa das empresas. Quando o assunto é arrecadar recursos para um negócio social é difícil esse tipo de empresa ter um alcance grande, que é facilitado com o acesso a todos esses mecanismos”, aponta Telma Figueiredo, Country Manager da eSolidar.
A gerente afirma que uma das dificuldades enfrentadas por ONGs é não conseguir passar qual é a proposta deles de forma rápida e fácil na hora de arrecadar recursos para um negócio social. “Com isso, não inspiram uma confiabilidade para arrecadar fundos. Nossa ideia é que esses negócios consigam usar a tecnologia a favor deles e aumentar seu alcance. As próprias empresas já exibem quais são as suas necessidades e corporações ou pessoas interessadas em ajudar já podem doar algo específico que o negócio precise, que pode ser de dinheiro, ajuda profissional até voluntários”, explica.
“As pessoas não conhecem tantas formas de ajudar essas instituições. Elas geralmente só pensam no voluntariado. E a grande dificuldade na hora de fazer doação é que as pessoas não confiam nos projetos. Elas só doam se conhecerem ou se alguém indicar. Até porque as ONGs não conseguem dar um retorno do que é feito com doações. Mas de um lado temos as ONGs que precisam de ajuda e do outro pessoas que querem doar mas não sabem como. Falta essa comunicação. Às vezes a pessoa não quer se deslocar até um dos projetos porque, em geral, são realidades bem sensíveis”, avalia Telma.
Gerenciando os recursos
Tadzia recomenda que os projetos trabalhem com várias formas de arrecadar recursos para um negócio social e não dependam de um único investidor. “Se mais de 50% da receita for de uma única fonte, é um problema porque você pode perder a renda e comprometer o funcionamento da empresa. É interessante ter várias empresas com ticket médio alto e doação de um grande número de pessoas físicas. Se for utilizar o governo, não colocar o recurso em um projeto de muita relevância. É preciso ser estratégico na hora de ver para onde o dinheiro de cada financiador vai”, sugere.
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Outro fator relevante é mensurar o retorno do investimento, levando em conta impactos diretos e indiretos. “É super importante olhar para essa questão, não só sob o aspecto financeiro. Faz muito sentido para quem está recebendo a proposta para investir. Se o investidor percebe que quem está a frente do negócio consegue fazer esse nível de mensuração, verá que a pessoa está olhando de forma profunda para o que está fazendo. É um diferencial que acaba fazendo com que buscar esse investimento não seja tão difícil. Além disso, negócios sociais trabalham com soluções que acabam sendo mais criativas e econômicas e isso acaba agregando um valor que o negócio tradicional não tem”, pondera.
Para a especialista, empresas preocupadas com inovação estarão mais sensíveis a receber uma proposta para investir em um negócio social. “O investimento em negócios sociais por parte de empresas ainda é algo que está no inicio. Ainda é pequeno, mas escalável. As empresas precisam ver se esse investimento faz sentido para ela. É mais uma questão de comunicação com o interlocutor com do que o fato de ser um negócio tradicional ou não”, opina.