O termo “impact investing”, ou investimento de impacto, passou a integrar o vocabulário do mercado financeiro em meados de 2009, na esteira da crise econômica mundial e cunhado pela Fundação Rockefeller. Trata-se de uma modalidade de investimentos que busca, além de retorno financeiro, um impacto social e/ou ambiental mensurável.
Embora ainda seja uma opção minoritária em relação aos investimentos tradicionais, sua presença vem crescendo: uma pesquisa recente do banco J.P. Morgan mostrou que 146 dos maiores investidores de impacto do mundo gerenciam US$ 60 bilhões.
No Brasil, uma das primeiras companhias a praticá-la foi a Vox Capital, fundada em 2009 por Antônio Ermírio de Moraes Neto, Daniel Izzo e Kelly Michel, que tem como objetivo investir em negócios promissores e escaláveis capazes de resolver problemas sociais no país nas áreas de saúde, educação e inclusão financeira.
“A quantidade de fundos e o volume sob gestão cresceram exponencialmente”, diz Antônio – que integrante do Líderes Estudar, rede da Fundação Estudar que potencializa jovens de alto potencial – sobre o cenário global de investimentos de impacto.
Neto do famoso empresário Antônio Ermínio de Moraes, do Grupo Votorantim, ele tinha apenas 22 anos e um diploma em Administração Pública pela Fundação Getulio Vargas quando cofundou a Vox Capital, que trabalha com um modelo de venture capital.
Dentro dessa estrutura, a Vox aporta o dinheiro em empresas que apresentem grande potencial de crescimento no médio a longo prazo e, como acionista, as auxilia no processo. Se tudo der certo, o fundo lucra com a eventual venda de sua participação na investida.
Hoje, uma das ideias que pauta a atuação do fundo é de que a tecnologia pode ser uma alavanca para resolver problemas socioambientais. “Por isso, começamos a investir mais e mais em healthtechs, edtechs e fintechs.”
Hoje são cerca de vinte investidas no portfólio, como a Avante, que oferece serviços financeiros para microempreendedores de baixa renda, e a Tamboro, uma plataforma digital de ensino baseado em jogos. “Um ótimo empreendedor vale infinitamente mais do que ótimas ideias sem o empreendedor certo por trás”, afirma Antônio.
Uma ideia “maluca”
Apesar da vontade de empreender ter origens familiares, o estalo veio na Índia. Antônio estava no terceiro ano de faculdade quando organizou, em 2008, uma viagem em grupo ao país, reconhecidamente inovador quando se trata de aliar retornos financeiros e sociais em áreas como microfinanças, saúde, educação, moradia e empoderamento feminino.
Por lá, conheceram figuras como Muhammad Yunus, considerado “pai” das microfinanças, e Govindappa Venkataswamy, criador de um hospital oftalmológico inspirado no modelo do franquias do McDonald’s onde custos de tratamentos são extremamente reduzidos.
[Antônio Ermírio de Moraes Neto / Divulgação]
E havia também o Aavishkaar, fundo pioneiro quando se trata de investimentos de impacto. Criado em 2001, a empresa de venture capital focou em empreendedores nas áreas rurais e menos favorecidas da Índia e tornou-se uma inspiração para o que viria a ser a Vox Capital.
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Entusiasmado com as possibilidades, Antônio voltou ao Brasil e, com Daniel Izzo, estabeleceu a companhia sob o olhar desconfiado de muita gente.
“Ninguém olhava para a gente sem pensar: ‘Esses caras são malucos’”, lembra. “E, pensando bem, fazia sentido: eu tinha 22 anos e não tinha grandes experiências com venture capital.”
O jeito de superar a desconfiança foi estabelecer um crescimento consistente e esperar que os resultados dos investimentos falassem por si só, através de elogios do Fórum Econômico Mundial, que convidou Antônio para se tornar membro de seu Conselho para América Latina, e da Harvard Kennedy School of Government, que transformou a Vox Capital em case de estudo.
Foi um processo “absurdamente trabalhoso e difícil”, admite Antônio, mas que eventualmente rendeu frutos. Hoje, a Vox conta com mais de quarenta investidores e gerencia cerca de R$ 120 milhões.
Preparação para o futuro
Dos Estados Unidos, onde cursa seu mestrado em Administração na Stanford University, ele conta que o mesmo pode ser dito do empreendedorismo em geral. “Como tenho escutado diversas vezes em Stanford, você só deveria empreender se essa é absolutamente a única coisa que você consegue se imaginar fazendo.”
Também é preciso ter uma ideia e um time excepcionais e de confiança e estar atento à janela de oportunidades que faz com quem correr riscos muitos altos valha a pena, continua.
Para quem prefere não empreender, também há possibilidades para entrar na área de investimentos de impacto – basta manter-se atento e preparado.
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“O setor tem necessidade de uma combinação de habilidades tradicionais de investimento em venture capital e private equity e, ao mesmo tempo, conhecimento e expertise em avaliação de impacto social e no relacionamento com diversos stakeholders”, explica Antônio, que indica a leitura do relatório Impact Investing 2.0 – Insights from 12 Outstanding Funds, do fundo Pacific Community Ventures.
Sua conclusão é de que o que está por trás dos investimentos de impacto não é um nicho, mas uma nova mentalidade que o setor privado faria bem em escutar assim que possível.
“Não vejo outro futuro senão aquele em que empresas privadas consigam articular e operar de acordo com um propósito claro e inspirador, que contribua para a sociedade, e que tenham uma postura impecável do ponto de vista ético e de sustentabilidade socioambiental.”
Quem não se adequar à nova lógica, avisa ele, enfrentará consequências. “Os negócios serão – e já estão sendo – fortemente afetados por crises de confiança por consumidores e colaboradores e terão cada vez mais dificuldade em competir”, continua, citando uma pesquisa da Edelman que aponta que apenas 37% das pessoas confia em CEOs no mundo.
Sob essa ótica, o objetivo da Vox Capital tem potencial para transbordar as fronteiras brasileiras – algo que está nos planos de seus fundadores. “Queremos criar impacto com ainda mais escala ao investir mais fortemente em negócios que empreguem tecnologia de ponta para resolver os grandes problemas do mundo”, conclui.