A automação é uma realidade para os profissionais do futuro, que precisam cada vez mais se aprofundar em conhecimentos de tecnologia. Dentro do mercado financeiro, uma vertente de trabalho tecnológica que têm crescido é o algo trading. O termo se refere a todo tipo de negociação financeira que parte de um algoritmo de forma automatizada, conforme explica Mateus Lana, fundador da SmarttBot, fintech especializada em investimento automatizado na bolsa de valores.
“Ao invés de ter alguém apertando botão ou ligando para o corretor, tem o computador que dispara as ordens de compra e venda. No algo trading, para compradores em geral, existem robôs que você pode mexer na configuração e aqueles que já vem com estratégias fixas e definidas. Nosso objetivo é empoderar o investidor pessoa física com tecnologia avançada em linguagem acessível”, relata.
A grande vantagem do algo trading é possibilitar pessoas com pouco conhecimento do mercado financeiro conseguirem operar com estratégias conhecidas e comprovadas, afirma o fundador da empresa Algo Trading, Fabiano Oliveira. “Além disso, facilita a questão do tempo porque você não precisa ficar na frente do computador toda hora, apenas checar o andamento de vez em quando. A maior parte das pessoas que perdem dinheiro no mercado financeiro é por questões de disciplina, então o algoritmo trabalha com parâmetros pré-definidos, tirando a questão emocional”.
Profissionais do algo trading
Jerckns Cruz, head da mesa de Algorithmic do banco de investimentos BTG Pactual, afirma que existem, pelo menos, três perfis diversos de profissionais que atuam no algo trading. “É um setor amplo porque existe essa cadeia de indivíduos diferentes que são necessários para o processo funcionar. Você precisa de alguém de computação, de modelagem (que vai trabalhar com ciências de dados) e alguém que compre e venda ativos financeiros com noções de algoritmos”, aponta.
Segundo o especialista, o profissional de computação vai cuidar da simulação de dados históricos, para avaliar se a estratégia imaginada trará resultados positivos ou negativos. Cientistas de dados, físicos, matemáticos e estatísticos irão criar modelos estratégicos a partir dos dados coletados. Por fim, um economista que entenda de trading fica no fim do processo, trazendo o modelo desenhado para a realidade do mercado financeiro e validando a estratégica.
“Habilidades na área matemática, estatística e computacional são muito importantes no algo trading por causa de pesquisa intensiva para criar regras, tirando o caráter subjetivo. Mas no final, sempre tem o indivíduo. Não existe inteligência artificial no mercado financeiro. Você usa várias técnicas avançadas de machine learning, fórmulas matemáticas e leis da física, mas o indivíduo que traz as ideias, cria as regras e desenvolve a estratégia”, aponta Jerckns Cruz.
Leia também: Os robôs vão roubar seu emprego? Site estima o risco que mais de 700 profissões correm com a automação
Profissionais do setor financeiro tradicional que queriam introduzir a tecnologia em seus processos, como o algo trading, devem entender que o algoritmo precisa ser respeitado fielmente, defende Jerckns. “O processo precisa passar por testes e simulações antes de ser realizada qualquer mudança. A dinâmica deixa de ser aquela de agilidade de pensamento para modelos validados por dados. Os profissionais precisam de noções de programação e ciência de dados“, exemplifica.
Mateus complementa que profissional da computação também é responsável pelos servidores e criar a infraestrutura necessária de comunicação entre o algoritmo e o mercado financeiro. Apesar de economistas e analistas financeiros serem os formuladores de estratégias mais comuns, qualquer profissional que utilize técnicas para analisar e prever dados pode criar regras para os algoritmos. “Eu já vi um geólogo que estudava uma técnica de previsão de terremoto e a utilizou no mercado financeiro. O essencial é ter uma capacidade analítica muito forte”, opina.
Fabiano observa que muitos negociantes do mercado financeiro migraram para o algo trading e ficam encarregados de fazer o acompanhamento da performance do algoritmo. “Muita gente acha que não precisa olhar nunca, mas sempre pode acontecer alguma coisa como desligar o computador, acabar a luz, a internet ou alguma ordem ser rejeitada pela bolsa. Então, o acompanhamento é importante, mesmo que ele opere automatizado”, garante.
Leia também: 5 lições de carreira do executivo multidisciplinar que foi da presidência da Eli Lilly ao comitê da WWF
Todos os especialistas em algo trading tem uma visão positiva do mercado e grandes expectativas de crescimento. Eles percebem que tanto do lado acadêmico, como do profissional, há um grande interesse de desenvolvimento do setor. No mercado norte-americano, 70% das empresas já fazem uso dessa tecnologia. No Brasil estima-se que esse número esteja em torno de 25%. A tendência mundial é que os países se equiparem aos Estados Unidos.