Até o ano de 2005, o antigo Ibmec (hoje Insper, uma das mais importantes faculdades de negócios do Brasil) ocupava no centro do Rio de Janeiro um prédio pouco adequado às suas atividades: era muito alto, com pouco espaço para circulação de pessoas e que não favorecia e convivência entre alunos e professores. A direção, então, adquiriu um novo prédio e iniciou as reformas. Foi quando André Peixoto chegou à empresa e passou a coordenar todas as operações que envolviam a obra.
Ele revisou contratos, aprovou projetos, acompanhou de perto o trabalho de todo o pessoal: arquitetos, engenheiros e pedreiros. Quando tomou pé da situação, assegurou à chefia: “Podemos nos mudar já no próximo semestre.” Desconfiada, a direção perguntou: “Com base em que você diz isso?” André tinha resposta na ponta da língua: “com base no trabalho duro que vamos dar até lá.” E assim foi. “Na manhã da segunda-feira, no primeiro dia de aula, eu estava instalando os últimos projetores nas salas de aula. Quando os alunos chegaram, estava tudo pronto. Deu tudo certo.”, conta. “Foi um dos maiores riscos que assumi na minha carreira.”
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Eficiência
A história acima ilustra com bastante clareza os desafios que se impõem ao profissional de operações: agilidade, dinamismo e comprometimento com a eficiência. André ressalta que é difícil generalizar, pois a área de operações possui muitas ramificações e permite diferentes atuações. “De forma geral, o profissional de operações busca a eficiência dos processos, isso significa tornar os processos mais eficientes para reduzir os custos da empresa. Isso é o centro da atividade – e é apaixonante”, conta.
Paixão, aliás, é um ingrediente importante nessa receita. “Sem paixão você não chega a lugar nenhum. Costumo dizer à minha equipe: somos um time apaixonado, que trabalha duro gastando sola de sapato. Com simplicidade, construímos nossos resultados surpreendentes.”
Hoje, André comanda uma equipe de 3.000 funcionários na Casa & Vídeo, empresa líder de vendas no varejo fluminense, nos setores de utilidades domésticas, ferramentas, climatização e eletroportáteis. São 82 lojas, “vendendo de pano de chão a celular”. O trabalho de André é organizar toda essa equação, atividade que realiza desde 2012. Reportam-se a ele setores como os de vendas, merchandising, engenharia e manutenção, gestão de espaço e logística. “Sempre me perco nessa enumeração”, ri.
O cotidiano de André é marcado pelo dinamismo e constantes desafios. “Não tenho mesa. Fico andando pelo escritório, perturbando a vida dos meus colaboradores. Porque diretor não tem muito o que fazer – só perturbar os outros”, se diverte. Apesar da descontração, os resultados precisam aparecer. “Tem que cortar gastos todos os dias. Costumo dizer que gasto é igual unha: se você para de cortar, ele volta a crescer.”
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Trajetória
Antes de ingressar na Case &e Vídeo, e após deixar o Ibmec, André teve uma importante passagem pela rede varejista BRMalls. O período, segundo ele, foi o grande alavancador da sua carreira na área de operações.
Ao chegar na empresa, não tinha uma atuação definida. Era coordenador de si mesmo, como diz. Aos poucos, foi se envolvendo com as atividades e buscando a eficiência em cada etapa. Entre outras importantes conquistas, montou um centro de serviço compartilhado, o que provocou uma mudança nos processos administrativos e financeiros da empresa. Ao deixar a empresa, já possuía cerca de 100 funcionários sob seu comando. “Alavanquei minha carreira na BRMalls, mas também ajudei muita gente a construir sua carreira lá. Isso é gratificante”, conta, dizendo ser essa uma característica que o atrai na área: “O barato não é procurar emprego. O barato é gerar emprego.”
Para André, um diferencial em sua carreira em operações foi ter passado por todas as etapas, sem buscar atalhos. Foi estagiário, analista, coordenador, gerente júnior e sênior e, enfim, chegou à diretoria. “É legal ser milionário aos 30 anos se você tem uma grande ideia, mas o jovem não deve se pautar por isso. Cumprir etapas é muito importante, isso faz com que você tenha uma percepção diferente.”
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Perfil profissional
Duas das características mais marcantes de André são suas habilidades de comunicar e motivar as pessoas. Esses dois traços de suas personalidades caem bem ao profissional de operações uma vez que o trabalho em equipe e a multidisciplinaridade são marcas da atividade.
Mas, para o diretor, a principal característica de um jovem que aspira ingressar nessa área deve ser o comprometimento com a eficiência. Um bom exercício, aconselha, é fazer uma autoavaliação e perceber se a eficiência é uma preocupação cotidiana. “Como, por exemplo, organizar a casa de modo que ela seja mais eficiente. Ou se, no supermercado, o sujeito gosta de analisar que fila anda mais rápido. Essas são, em geral, as pessoas que têm um instinto natural de fazer as coisas com mais eficiência.”
Aos estudantes que se interessam pela área de operações em varejo, André aconselha: “Não dá pra ter o devaneio de achar que a faculdade vai te ensinar a trabalhar. É balela. Na faculdade, você aprende matemática. Seja dedicado, se torne um excelente aluno – esse é seu cartão de visita. Dentro da indústria é que você vai aprender as especifidades.” Palavras de quem sabe muito bem o que diz. Melhor anotar.
Esta reportagem faz parte da seção Explore, que reúne uma série de conteúdos exclusivos sobre carreira em negócios. Nela, explicamos como funciona, como é na prática e como entrar em diversas indústrias e funções. Nosso objetivo é te dar algumas coordenadas para você ter uma ideia mais real do que vai encontrar no dia a dia de trabalho em diferentes setores e áreas de atuação.