Em idos de 2005, o tenista Alain Michel acordou mal. Tinha intoxicação alimentar. O problema é que era dia de quartas de final do principal torneio juvenil de tênis do país, conhecido como Brasileirão, e fazia 30 graus em Brasília.
“Eu mal conseguia sair da cama e enfrentaria o número 5 do ranking nacional num jogo dificílimo”, lembra. O treinador, encontrando-o daquele jeito, pediu que ele aparecesse em quadra para uma formalidade e fizesse apenas uma jogada. (Não aparecer, o chamado WO, significa perder muitos pontos no ranking nacional.)
O adversário também sabia o que estava acontecendo. “Ele esperava que eu desistisse logo no começo da partida, mas fui teimoso. Não conseguiria entregar algo que batalhei tanto para conseguir de mão beijada”, diz Alain. O que se seguiu foi uma demonstração de perseverança, a qualidade que ele mais destaca quando se trata do que trouxe das quadras para a vida.
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Jogou por três horas e passou mal oito vezes sob o sol forte. “Os espectadores estavam chocados com o que estava acontecendo”, fala. “Para surpresa de todos, venci meus limites e conquistei uma das vitórias mais relevantes da minha carreira. Não tanto pelo jogo em si, mas por deixar claro para mim mesmo o tipo de competidor que sou.”
Lições Praticante desde os sete anos, Alain ainda joga quando pode. “Meus pais se conheceram jogando tênis no Clube Suíço, em São Paulo, então posso dizer que faz parte da minha vida mesmo antes de nascer”, ri.
Jogou por anos, muitos deles competitivamente. Participou de torneios mundiais e profissionais e integrou o ranking nacional juvenil até se mudar para os EUA, onde estudou economia na Universidade Duke.
Bolsista da Fundação Estudar, ele também integrou o time da universidade por quatro anos. Equilibrar as demandas intensas de um atleta universitário no exterior – que inclui quatro horas de treino diário – e as obrigações acadêmicas exigiu muita disciplina, outro traço que ele desenvolveu em quadra.
Também o ajudou de outras maneiras. “Praticar um esporte majoritariamente individual exige que o atleta desenvolva uma capacidade ímpar de tomar decisões rápidas, lidar com pressão e administrar suas emoções sozinho”, explica. “Acredito que esses pequenos detalhes me ajudaram muito a me desenvolver como pessoa.”
De volta ao Brasil, Alain fundou uma nova empresa, que conta com grandes empresários brasileiros como investidores e ainda está em fase de implementação (e mistério). Em tempos olímpicos, ele também reflete sobre a tristeza inevitável da derrota.
“A principal lição que trouxe das quadras para a vida é que erros e derrotas são nossos aliados para o desenvolvimento”, diz. “É importante pararmos e pensarmos neles, pois indicam para onde devemos direcionar nossos esforços para melhorar e seguir evoluindo.”
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