Por Lucas Braga Machado
Quando assumi uma pequena equipe pela primeira vez, aos 26 anos, cometi tantos equívocos que chego a ficar envergonhado! Para dar uma noção mais clara, houve um período em que quase toda vez que passava pela mesa do meu time, eu perguntava a eles se estava tudo bem ou se precisavam de algum auxílio. Minha ingênua intenção era me mostrar presente e prestativo.
Obviamente, as pessoas logo se sentiram pressionadas e expuseram o desconforto para meu chefe, o gerente da área na época. Por isso, quando converso com pessoas próximas sobre este assunto, costumo dizer que assumir um cargo de gestão de pessoas aos vinte e poucos anos é como andar de bicicleta pela primeira vez – só que agora com o time na garupa!
O que é liderança e por que ela é tão importante para uma carreira de sucesso
Lembro-me bem da época em que comecei a liderar aquela equipe. Meses antes, eu havia deixado a Falconi para entrar numa multinacional. O objetivo era auxiliar a empresa no amadurecimento do seu Sistema de Gestão, estruturando indicadores, metas e padronização. A proposta me atraía porque, pela primeira vez, conduziria dois trainees e um aprendiz. Era um desafio que eu desejava enfrentar.
Entretanto, foi nesse período que percebi as maiores falhas na minha formação. Nenhuma das matérias que eu havia cursado na engenharia tinha me dado respaldo para aquela fase de carreira. Mesmo que tentasse não externalizar o sentimento, a falta de preparo em liderança de pessoas me trouxe insegurança. A verdade é que eu não sabia exatamente o que estava fazendo.
Meu raciocínio era simples: testar, errar e corrigir.
E é por isso que este artigo foi escrito! Inúmeros profissionais, anos depois de saírem da universidade, encontram-se nesta situação. Por isso, o intuito aqui é facilitar o caminho do jovem, compartilhando lições aprendidas.
Lições aprendidas como gestor aos 26 anos
Lição 1: Resultados surgem por meio do time
Minha maior dificuldade foi virar a chave da execução para a direção. Até então, minha carreira de analista havia exigido sempre a mesma coisa: que eu fosse produtivo. Naquele período, a disciplina em trabalhar com as bases de dados e a agilidade para defender análises bastavam.
Agora, a realidade era outra. Quando passamos a gerir pessoas, a prioridade deve ser a gestão das pessoas! Isto pode parecer óbvio ou até mesmo redundante, mas a prática mostra o contrário. Foram inúmeras as vezes em que desviei o foco. Minha tendência era colocar a mão na massa, ao invés de direcionar o time.
Todas as pessoas têm sua curva de aprendizado e eu acreditava que, por já dominar algumas ferramentas, deveria logo partir para cima dos problemas. Essa atitude gerava frustração na equipe, que não se sentia desafiada, reduzindo o ritmo de aprendizado.
Hoje, acredito que o papel do gestor é esclarecer expectativas, dando suporte para que as pessoas aprendam e liberdade para que assumam responsabilidades, e também monitorando esporadicamente o andamento do trabalho.
Lição 2: Primeiro vem o ser humano
Nessa mesma época, observei o comportamento de dois superiores. Um deles, o “José”, era uma pessoa bem preparada e foi o melhor chefe que tive na vida. O outro gestor, o “João”, era tecnicamente brilhante – daqueles profissionais que entendem as minúcias dos processos da empresa.
A diferença fundamental entre eles era a forma como tratavam as pessoas. O José abria a porta para você, cumprimentava com energia e sorriso no rosto, ligava no aniversário e levava um salgado ao final da tarde, umas duas vezes no mês. Era o tipo de pessoa que sabia com maestria quando cobrar e quando descontrair.
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O resultado era que eu e meu time, sob a gerência dele, trabalhávamos alegres mesmo quando era necessário virar madrugadas resolvendo problemas. Com uma atitude diametralmente oposta, o brilhantismo técnico do João se apagava diante da sua postura. A rotatividade de sua equipe só crescia. Com isso, a empresa perdia o conhecimento e experiência que aqueles profissionais haviam adquirido.
O ponto aqui é: creio que quase ninguém se demite das empresas. Pessoas se demitem de seus chefes! Por isso, para quem lidera, primeiro vem o ser humano. Temos que cuidar das pessoas e tratá-las bem. Além de ética, esta postura gera muito mais resultado.
Lição 3: O diabo mora no detalhe
Dificilmente uma pessoa vai falar para seu chefe em alto e bom som “estou muito descontente por este motivo aqui”, “você está se equivocando nisto” ou “esta instrução foi mal dada, não entendi”. A relação líder-liderado naturalmente constrói barreiras. A consequência é que as lideranças devem estar atentas a detalhes de comportamento dos seus times.
Muitas vezes, precisamos notar o desconforto das pessoas nas pequenas atitudes. Alguém tem se mostrado quieto? O time descontrai quando está com você? É comum o pessoal se abrir sobre assuntos pessoais? A equipe convive fora do trabalho? Pessoas diferentes precisam de atenção e cuidados diferentes. Mas, em quase toda circunstância, essas perguntas são uma métrica da harmonia da equipe. Às vezes, o dia a dia nos empurra ao automático, porém as verdades que estas reflexões evidenciam podem fazer a diferença.
O que funcionou?
Embora eu tenha aprendido essas lições na marra (errando), acertei em outros pontos. O principal, sem dúvidas, foi entender de Gestão Generalista. Algo que poucos jovens sabem, é que a Gestão, assim como a Física ou Química, é uma ciência! A experiência na Falconi me permitiu amadurecer cedo nesta competência, algo que todo líder de pessoas precisa dominar a fundo. Este conhecimento me trouxe maturidade em negócios e visão sistêmica. Ajudou muito!
Em poucos meses, a equipe que eu conduzia cresceu para mais de 20 pessoas e os resultados apareceram proporcionalmente. Hoje, três anos depois, lidero uma empresa que se dedica integralmente a compartilhar conhecimento com o jovem. Vejo isto como algo que traz benefícios imensos à sociedade e satisfação aos envolvidos.
Autoconhecimento: tudo que você precisa saber para se entender e tomar melhores decisões
Para aqueles que quiserem saber mais sobre a Gestão, recomendo o livro “O Verdadeiro Poder” do professor Vicente Falconi. Além disso, outras sugestões interessantes são a entrevista do Prof. Falconi à Estudar em 2012, o estudo de caso “Mercadona” da HBR e o Módulo Gratuito do preparatório da Ivy Room. Isto tudo além do clássico da Fundação
Estudar, o “Sonho Grande” da Cristiane Correa, que fala muito sobre como o Jorge Paulo Lemann e o grupo de investimentos 3G Capital disseminaram o conhecimento gerencial em suas empresas.
Sobre o autor
Lucas Machado é graduado em Engenharia Mecânica pela UTFPR e cursou Engenharia Aeroespacial na Cornell University. Iniciou a carreira como trainee na Falconi e atualmente é facilitador voluntário da Fundação Estudar e lidera a Ivy Room.