Aluna do ITA explica como tem se preparado para empreender

Menina atrás de cidade

Embalsamado e sob a custódia do Museu da Academia da Força Aérea, no Rio de Janeiro, fica o coração de Alberto Santos Dumont. Apaixonado pelo ar, o brasileiro voava de balão diariamente por Paris como se fosse uma bicicleta. Em casa, almoçava nas alturas, em cadeiras tão altas que precisavam ser fixadas por cabos no teto. Em 1906, a bordo do avião 14 BIS, por fim deixou de ser visto como uma figura excêntrica para se tornar um dos maiores inventores da história.

Sua aventura também fez nascer, nos compatriotas brasileiros, um orgulho nacional relacionado à aviação. Cansada de buscar seus profissionais no exterior, a Aeronáutica resolveu investir na formação de engenheiros especializados no Brasil e, em 1950, criou o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos.

Até hoje administrado pelos militares, o ITA tem um dos vestibulares mais concorridos do país. Em 2016, foram cerca de 12 mil inscritos para 140 vagas de graduação, divididas nas especialidades engenharia aeronáutica, mecânica, civil, eletrônica, de computação e aeroespacial. Quem passa enfrenta uma rotina puxada de estudos e laboratórios, com dedicação praticamente total.

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“A sensação é de que se está no lugar mais disputado de todos, então você está cercada por pessoas diferenciadas e isso faz muita diferença para mim”, diz Jaqueline Dias, atualmente no segundo ano de engenharia aeronáutica e bolsista da Fundação Estudar. “É gente muito boa, que faz coisas muito legais e te estimula a fazer coisas muito legais também.”

Tamanha intensidade acadêmica já produziu grandes nomes, como o astronauta Marcos César Pontes – que levou até um chapéu panamá como aquele de Santos Dumont para o espaço – e Ozires Silva, fundador da Embraer.

Alberto Santos Dumont

Inspirações

Não seria exagero dizer que Ozires inventou a aviação verdadeiramente brasileira. Através de muita persistência e trabalho duro – e uma ótima sacada no começo, quando o foco eram aviões menores e praticamente não havia concorrentes –, a Embraer, que ainda tem sede em São José dos Campos, se tornou a terceira maior fabricante de aeronaves do mundo.

Hoje com 85 anos, Ozires é uma constante inspiração para ela, que também admira os empresários Jorge Paulo Lemann, Abílio Diniz e André Street. Em comum, todos têm uma forte veia empreendedora, que criou disrupção em mercados já estabelecidos.

O sonho profissional de Jaqueline é de fato grande. Tão grande, na verdade, que cabe num hangar. “Nunca pensei em ser engenheira de empresa de aviação”, conta. “Quero empreender em aviação ou no setor de aeronáutica, provavelmente em turbinas aéreas, uma área em que vejo futuro.”

A paixão pelo tema surgiu pela primeira vez no ensino médio em Coronel Fabriciano, no interior de Minas Gerais. A escola surpreendeu os alunos com provas da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Aeronáutica (OBA) e, para alegria dos professores, ela saiu medalhista.

Jaqueline Dias e Ozires Silva
[acervo pessoal]

A mineira é a primeira da família a ter ensino superior e está acostumada a grandes responsabilidades. Ajudava na colheita de café na infância e, aos catorze anos, quando sua mãe faleceu, passou a ter papel fundamental na casa. Ela já estudava engenharia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) quando decidiu se dedicar ao vestibular do ITA, sua faculdade dos sonhos.

Não passou de primeira, então deixou a casa do pai para estudar. Foram quatro anos de esforço até que fosse finalmente aprovada. “Estudar numa universidade federal já era uma coisa inimaginável na minha vida e, quando comentaram por lá que eu tinha muito potencial, coloquei na cabeça que queria estudar no ITA”, lembra. “Nunca pude estudar onde eu queria e isso foi uma motivação muito forte. Eu pensei: ‘Eu escolho, eu quero e eu vou’.”

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Desafios


Na indústria aeronáutica, onde tudo é grande e custa caro, é preciso se manter atento aos motores internos de um negócio. Por isso, entre estudos – o ITA oferece oito tipos de aulas de cálculo, aliás – e sempre que possível, ela se dedica a aprender noções de empreendedorismo tanto em atividades complementares quanto em estágios nas férias.

Em 2015, chegou até a trancar sua matrícula para dedicar-se ao estágio na startup de pagamentos online pagar.me, fundada por outros bolsistas da Fundação Estudar

“Todos os meus estágios são voltados para entender mais sobre empreendedorismo”, fala ela, que já passou pela Stone Pagamentos e pela Somos Educação. Atualmente, trabalha na Núcleo Capital. “Quero aprender como funciona uma startup: como surge, como cresce, como devemos lidar com as pessoas para que acreditem em seu sonho e evoluam com você.”

Os conhecimentos que angaria no ITA durante a graduação serão de grande valia na hora de montar o negócio – “Vou entender tudo sobre o funcionamento interno de um avião e vai ser bem difícil me enganar”. Mas ela já traça planos profissionais que também incluem outro setor: o mercado financeiro.

“Não tem como começar uma Embraer do zero e, para me alavancar financeiramente, o mercado financeiro é a melhor opção”, diz. Há seis meses, tornou-se diretora de estratégia da ITA Invest, uma iniciativa estudantil na área. Gostou tanto do tema que já pensa num MBA no exterior.

Jaqueline Dias e ITA Invest
[acervopessoal]

“Você entende o mundo e, querendo ou não, um empreendedor responde para seus acionistas”, explica. “Se você quer entender como gerar valor de verdade dentro de uma empresa, precisa fazer finanças.”

Ela aproveita para explicar a situação atual aeronáutica e o nicho que enxerga. A maior parte da matéria prima usada pela Embraer é importada, então por que não fabricar as peças principais ou relacionadas aqui mesmo?

É possível, mas os desafios são grandes. Taxas altas de licenciamento, falta de apoio governamental e enormes investimentos iniciais são alguns dos exemplos. (Vale lembrar também que, por muitos anos, a Embraer foi uma empresa estatal.) Há, no entanto, indícios positivos. Ela cita a Polaris, fabricante de turbinas brasileira fundada em 2014 por um ex-iteano, como exemplo de que é um sonho possível.

Pragmática, Jaqueline simplesmente mantém os obstáculos em mente enquanto se prepara. Durante seu primeiro ano, em 2014, trabalhou como gerente de projetos e assessora presidencial na ITA Júnior, empresa júnior da instituição e que tem grandes companhias, como a Microsoft, entre seus clientes. Da época, destaca a importância de entrar em contato com o mercado assim que possível.

“Se você demora muito para sair da universidade, vai ser um profissional defasado. Numa empresa júnior, você visita o cliente, enxerga e descreve o problema, age como um canal entre o cliente e o consultor e monta uma solução”, diz. “É uma aceleração profissional.”

Leia também: Por que investir em olimpíadas científicas importa

Quando descobriu o ITA Invest, criado em 2008 e retomado recentemente, decidiu apostar em sua importância. “Foi algo criado para suprir a necessidade de um conhecimento básico”, explica. “Queremos que os membros entendam as diferenças entre asset, valuation e investment banking, descubram que existe todo um universo.”

A ideia inicial é preparar eventos e ensinar aos interessados mais sobre a área, para que eles possam largar na frente após a formatura. No futuro, o ITA Invest quer também gerenciar o fundo de endowment da instituição, que seria abastecido com doações de ex-alunos, como acontece nas grandes universidades americanas.

Sempre cheia de ideias, Jaqueline já pensa num novo projeto, que a levaria de volta a Minas Gerais. “Quero voltar à Escola Estadual Doutor Joaquim Gomes, a minha escola, para fazer olimpíadas de exatas e plantar uma sementinha na cabeça dessas crianças”, fala. “Em cidade pequena, as pessoas simplesmente não pensam em estudar numa federal. Quero chegar lá e falar que existe, que é possível e que eu consegui.”

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