Com mais de 25 anos de experiência como executivo, o CEO do BTG Pactual Roberto Sallouti já enfrentou diversas crises, originadas em distintos setores. Durante o evento virtual Conexão da Fundação Estudar, ele comentou sobre a crise gerada pela pandemia do coronavírus, seus impactos no mercado, processos de gestão de crise e tendências pós-pandemia. Confira alguns dos destaques da palestra do executivo.
Lidando com a gestão de crise
Roberto Sallouti afirma que o grande diferencial dessa crise é ela ter sido oriunda de um problema sanitário e de saúde, algo que o mercado ainda não tinha enfrentado. Contudo, o que sua experiência o ensinou é que uma crise nunca é resolvida de forma simples e rápida. “Claudio Galeazzi me disse algo que eu nunca esqueci: quando se está em crise severa é preciso tomar decisões por mais doloridas que elas sejam. Se você não garante o presente da sua empresa, ela não terá futuro”, compartilha.
Isso significa que muitas vezes os líderes precisam fazer escolhas difíceis, inclusive abrindo mão de algo que seja estrategicamente importante para a companhia.
“Se a crise for financeira, tem que cortar custos e se equilibrar, senão desanda. Muitas vezes, os executivos resistem em abrir mão de pontos importantes. É dolorido, difícil e pode custar caro no futuro, mas você só tem uma chance de pensar no futuro se a empresa conseguir sobreviver. São pequenas atitudes todos os dias que vão resolver. O mesmo acontece agora”, pondera.
Parte desse processo envolve estar consciente do momento de crise e agir de forma rápida. “Você pode sofrer muitos impactos na frente, mas precisa encontrar formas de sobreviver. No BTG, conseguimos antecipar a crise e de um ponto de vista empresarial fomos beneficiados por isso. É uma crise humanitária horrorosa, mas o negócio está saindo melhor do que entrou. Do ponto de vista corporativo, acredito que o executivo brasileiro é um dos mais capacitados do mundo. Vimos grandes empresários fazendo uma gestão humanizada e ao mesmo tempo protegendo a segurança de suas equipes”, compartilha.
E se as grandes empresas sofreram com os impactos, novos empreendedores e negócios de menor porte sentiram um baque ainda maior. Roberto Sallouti recomenda que os profissionais se ajustem para passar por períodos de “vacas magras” mais longos do que o imaginado. “O pior cenário possível provavelmente não vai acontecer, mas se você se prepara para ele consegue lidar melhor. Durante uma crise, é importante ser resiliente, se adaptar, estar disposto a aprender e entender como a tecnologia pode ajudar o negócio”, indica.
O executivo cita as empresas Magazine Luiza e Via Varejo como companhias que tinham o potencial de serem desvatadas pela crise, mas conseguiram se reinventar e prosperar. “Isso foi possível porque elas foram ágeis, apostaram em tecnologia e levantaram capital. Qualquer serviço que melhora a vida do cidadão com tecnologia encontra oportunidades. Se pegar qualquer dor que aflorou nessa crise e conseguir propor uma solução melhor e mais barata, vai ter mercado para isso”, garante.
Tendências de mercado e o novo normal, segundo Roberto Sallouti
Roberto acredita que o home office veio para ficar, mas não necessariamente como a única modalidade. Além disso, ele enxerga três grandes movimentos: o aprofundamento financeiro (termo referente à crescente prestação de serviços financeiros), o aprofundamento digital (voltado para o aumento do uso da tecnologia) e uma adoção maior à agenda 21, que busca promover a construção de sociedades sustentáveis, com responsabilidade socioambiental.
“Temos uma aceleração da taxa de juros indo para zero, as pessoas se sentindo mais confortáveis em realizar tarefas pelo celular e uma cobrança cada vez mais por responsabilidade socioambiental, de vigilância e atuação ativa das empresas. Tudo isso tem potencial de ter um impacto econômico positivo, gerar valor para as empresas e contribuir para um mundo melhor. Também vemos novos modelos de trabalho. Acredito que o family office é uma ferramenta a mais para usar e dar mais qualidade de vida para os times”, aponta.
Contudo, para que tudo isso seja possível as empresas precisam oferecer aos colaboradoras as ferramentas necessárias para realizar o trabalho, que antes se limitavam ao escritório. Além disso, Roberto Sallouti observa que as empresas devem se comunicar o máximo possível, dentro e fora da companhia, inclusive em ambientes digitais.
“O novo normal é o velho normal melhorado com a pandemia. O home office pode ser útil porque nem tudo precisa ser presencial. Podemos trabalhar mais pelos dispositivos, mas não devemos deixar de ter o prazer de conviver com as pessoas. Não acho que o mundo mudou totalmente. Acho que ele vai ficar melhor, pegando o que costumávamos fazer e agregando com o aprendizado que tivemos com essa experiência”, analisa.
Principalmente em cenários como esse, a liderança deve ser conquistada e não imposta aos colaboradores, de acordo com o executivo. “Se você tem que impor, provavelmente não vai durar muito. Se você lidera pelo exemplo e a equipe te pede orientação é porque está funcionando. É uma liderança de dar ajudar quando os outros precisam, não de demandar e cobrar. Hoje temos líderes melhores que abraçam mais a diversidade. Os líderes dão certo porque são eternamente otimistas”, avalia.
Dicas para jovens profissionais
Quem ainda está no início da vida profissional pode se sentir angustiado com o cenário atual mas o conselho de Roberto Sallouti é seguir em frente. “A vida é o que é, então vai com tudo e aproveita. Com coisas fora do nosso controle, não dá para fazer nada. Não adianta se lamentar, você tem que fazer o melhor com a situação. É preciso muita resiliência e não deixar nunca de aprender e se atualizar. Seja em qualquer momento da carreira, você precisa estar aprendendo e se desenvolvendo. Sempre tenho um frio na barriga achando que preciso aprender mais. É normal, nunca vamos saber tudo”, indica.
E, independente da área de atuação, desenvolver conhecimentos em programação e computação podem ser muito benéficos. “Se te falta alguma hard skill, esse é o momento de correr atrás. Aproveita o tempo extra, se tiver, para complementar sua formação e se atualizar no mercado sobre economia e tecnologia. Temos tanta informação que é muitas vezes barulho superficial. Saber avaliar no que se aprofundar é um grande diferencial”, observa.
Além disso, Roberto Sallouti recomenda paciência e a busca pela motivação. “Se você não insistir, não vai chegar lá. Tem que trabalhar com algo que te motive a acordar de manhã. Isso é mais importante que acertar o mercado, empresa ou projeto. Tem que fazer algo no qual você vai dar 100% de si. Também não se esqueça de quem te ajudou pelo caminho e, quando possível, ajude outras pessoas que não tiveram as mesmas oportunidades que você”, sugere.