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Saúde mental no trabalho: o tamanho do problema e como as organizações podem ajudar

saúde mental

Por Shirley Canabrava

 

Estamos chegando ao fim do mês da campanha de prevenção ao suicídio, o Setembro Amarelo, que é também um chamado para falarmos mais abertamente sobre saúde mental como um todo. Por mais que o tabu em falar desse assunto ainda persista, os números mostram cada vez mais como é necessário desmistificar e descomplicar o tema, inclusive no lugar onde muitas vezes é forte a percepção de que “aqui não é lugar para falar de questões emocionais”: o ambiente de trabalho.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em 2020 a depressão será a doença mais incapacitante do mundo e o principal motivo de afastamentos do trabalho. Em 2019, a OMS destacou também que uma em cada cinco pessoas no local de trabalho experimenta alguma condição de doença mental. Aliado ao fato de que o Brasil ocupa hoje o 1º lugar entre os países com mais pessoas ansiosas no mundo, vemos como realmente as ações não podem ficar limitadas ao mês de Setembro.

Saúde mental no trabalho: como as organizações podem ser agentes de mudança?

É essencial destacar que quando falamos de Saúde Mental – ou emocional – no Trabalho  não estamos nos referindo apenas aos problemas psicológicos que foram causados em função do trabalho.

Ainda que muitos dos problemas tenham origem além da empresa, por questões psicológicas, familiares ou sociais, é preciso que o olhar seja mais amplo; dando destaque às empresas como possíveis agentes de mudança, que tem a capacidade de ajudar suas equipes, tanto promovendo ambientes de trabalho mais saudáveis – como com políticas e práticas que equilibrem a expectativa por resultados com o entendimento da real capacidade de entrega de cada um –  quanto auxiliando pessoas com as mais diversas demandas.

Casos de ansiedade, depressão, estresse e síndrome de burnout (sendo este último um esgotamento mental relacionado especificamente à rotina de trabalho) são os mais frequentes e se repetem nos mais diferentes tipo de empresas e culturas. Sai à frente no gerenciamento desses problemas empresas que buscam informação, capacitação para líderes, times de Gente e Gestão e da equipe em geral para lidar com esses assuntos tidos como “delicados”. Essas empresas entendem que programas ou ações de saúde mental estão fortemente relacionados à melhoria do clima organizacional, atração e retenção de talentos, além de visar a melhora no desempenho do time, dado que não são poucas as pesquisas que apontam como funcionários mais felizes geram mais resultado.

Um dos estudos recentes, o Projeto Aristóteles, promovido pelo Google, passou dois anos acompanhando 180 equipes e concluiu que as mais bem sucedidas compartilham cinco principais características. Uma delas é o que chamaram de Segurança Psicológica, quando as pessoas se sentem confortáveis em assumir riscos, expressar suas opiniões ou conversar dentro da empresa sobre qualquer assunto que julgarem importante.

Sabemos que o movimento para cuidar da saúde emocional no trabalho é recente, mas já cresce com constância a busca por soluções corporativas como a terapia via plataformas online – subsidiada em parte ou total pela empresa – para que a pessoa possa fazer em sala reservada no próprio trabalho ou de casa.

Leia também: Por que você não precisa (e não deve) ser workaholic para ter sucesso

Medidas que podem ajudar

Além de soluções individuais como a terapia, existem alternativas com o objetivo de desenvolver habilidades socioemocionais, como autoconhecimento e inteligência emocional, de maneira coletiva por meio de palestras, workshops, treinamentos ou Team Building; sem deixar de lado também as já inúmeras soluções para incentivo da prática de exercícios físicos, meditação e alimentação saudável, grandes aliados na manutenção do bem-estar físico e mental.

É importante que se trabalhe um misto de práticas de promoção, prevenção e intervenção para lidar com as muitas demandas de saúde mental no contexto organizacional. Podemos entender como os “primeiros socorros” da saúde mental atitudes como falar abertamente sobre o assunto, buscar aprender mais como identificar os sinais, observar e escutar ativamente quem está a sua volta, pedir ou oferecer ajuda e ser empático.

Ter uma visão de que a empresa ou determinado líder quer apenas prejudicar alguém propositalmente gera mais sentimentos negativos e pouco resultado para que realmente se chegue ao objetivo principal, que é ter pessoas mais saudáveis, eficientes, felizes e satisfeitas com seu trabalho, com sua vida e consigo mesmas. No geral o que falta não é boa intenção, e sim conhecimento sobre como agir nessas situações, o que acaba sendo muito mais relevante, à medida que isso leva à ação: “o que eu ou a empresa podemos aprender para melhorar e preencher esse gap de conhecimento?”.

 

Sobre a autora

Shirley Canabrava é formada em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Atua como psicóloga clínica, com atendimentos online e no seu consultório em São Paulo. É cofundadora da Mental Happy, consultoria de saúde mental para empresas especializada na saúde emocional de lideranças e funcionários.

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