Por dentro da primeira escola de ‘design thinking’ do Brasil

Especialista em design thinking explica tema

“Nós acreditamos profundamente que dá para criar negócios incríveis sem investir um centavo.” A máxima de Ricardo Ruffo, 32, que juntamente à companheira de vida e de carreira Juliana Proserpio, 29, fundou a primeira escola de design thinking do Brasil, é de causar borboletas no estômago de todo empreendedor em início de trajeto. Ricardo e Juliana contam como chegaram até aqui de forma rápida, certeira e objetiva. Parece, realmente, que não têm um segundo a perder – e se tiverem, vão aproveitá-lo da melhor forma possível.

Ricardo é administrador de empresas e Juliana é designer. Apesar das duas carreiras não serem exatamente parecidas, os dois tinham muita vontade de abrir um negócio juntos. Juliana deu o passo inicial: em seus estudos pessoais, ela devotava uma atenção especial ao design thinking e ao design estratégico. Porém, no estúdio em que trabalhava, não havia muito espaço para colocar esse tipo de interesse em prática.

Na mesma época, Ricardo fazia um curso de extensão na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Foi lá também que, um dia, ele ouviu falar desse “tal” de design thinking, e ligou na hora para compartilhar a descoberta com Juliana. Foi neste momento que os dois interesses se encontraram e eles viram que era possível aplicar o conceito a novos negócios que se abriam e à resolução de problemas sociais, que era o que mais desejavam, como diz Juliana: “Queremos resolver questões reais da sociedade, como a questão da água em São Paulo, ou propor formas concretas de melhorar a vida de pacientes com câncer. Queremos projetos que tenham uma necessidade social envolvida”

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Mas o que é, exatamente, design thinking?

“É um acelerador de inovação. Um processo centrado no ser humano que resolve problemas complexos a partir de uma abordagem criativa que busca olhar uma situação por diferentes pontos de vista”, explica a designer.

Foi então que, em 2010, ano sabático que tiraram para fazer uma série de cursos no exterior – dois de Impact Design for Social Change na New York School of Visual Arts e um de Design Thinking no Hasso-Plattner-Institut em Postdam, na Alemanha – eles decidiram criar algo simples como um blog. O primeiro passo para o empreededorismo foi dado com o blog Design Echos.

Como é baseada em processos criativos, a metodologia da escola tem essa atmosfera lúdica.

“Foi a maneira mais prática de compartilhar um pouco das pesquisas que estávamos fazendo com o público mais curioso”, diz Ricardo. A audiência foi maior do que esperavam e chegou a 6 mil visitantes por mês. Assim, quando voltaram para o Brasil, os dois começaram a ser chamados para dar palestras sobre o tema. Em uma delas, na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), foram abordados por integrantes do extinto Instituto Vivo. Eles queriam aconselhamento para um projeto de inovação que iam desenvolver na empresa – e assim nascia a consultoria Design Echos.

Foi um projeto atrás do outro. Trabalharam para a Discovery Channel, Vivo, Telefonica, Tecnisa Imóveis e Instituto EDP, para citar alguns dos clientes. Atuavam naquilo que era uma grande brecha no mercado, já que não havia na época qualquer outra consultoria voltada para a inovação social, isto é, gerar um crescimento econômico que resultasse em melhoras para a sociedade.

Em meados de 2012, perceberam algo interessante: 40% do faturamento da empresa vinha de treinamentos e capacitações que eles ministravam dentro de outras companhias. E pensaram: por que não transformar o ensino e a formação em um outro negócio?

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Da consultoria à escola, a evolução do negócio

Com a verba do primeiro trabalho de consultoria, eles puderam alugar e mobiliar um espaço. Encontraram uma casa de 200 metros quadrados e dois andares em uma época em que apenas os dois dividiam todas as tarefas. Os amigos estranharam, achavam que não era necessário tudo aquilo. “É bacana porque notamos que esta grande oferta de espaço, principalmente vazio, possibilitou o surgimento de novas oportunidades de inovação e negócios”, conta Juliana.

A Escola de Design Thinking (EDT) abriu as portas no próprio casarão da Design Echos em 20 de dezembro de 2012. Até março de 2013, a primeira turma já estava formada. A divulgação foi particularmente muito importante, já que vários amigos e parceiros da consultoria e do movimento de design thinking deram força para a nova iniciativa, que bombou nas redes sociais. No primeiro ano, a EDT recebeu 70 alunos. Em 2014, foram 180, e este ano, a expectativa é que 520 alunos procurem os cursos da escola.

A primeira formação a ser lançada foi a de Imersão em Design Thinking. Com duração de quatro meses e aulas duas vezes por semana, o programa do curso já incentivava de cara o estudante a pôr a mão na massa, de acordo com a filosofia construtivista. Ricardo conta:

“Nosso objetivo era criar uma escola prática, que tira a pessoa de sua zona de conforto e a coloca pronta para fazer”

Assim, o programa inclui quatro projetos: um desafio de um dia, outro de uma semana, outro de um mês e o último, de seis semanas, que é realizado em parceria com uma empresa real. Hoje, já são dois cursos de longa duração – Imersão em Design Thinking e Enabling Action for Better Futures (ENACT) – além de quatro formações compactas – Business Design, Design Thinking Experience, Growth Hacking e Inovação Social. Estas últimas têm duração de um dia e custam 1.100 reais, enquanto os cursos mais extensos duram quatro meses e custam entre 6.000 e 7.000 reais.

Entre os que procuram a EDT há não apenas publicitários e jornalistas, mas enfermeiros, advogados, psicólogos…

A estrutura de ensino e o modelo de aprendizagem foram baseados nas escolas onde Ricardo e Juliana estudaram, fora do país. “A gente queria, justamente, oferecer uma opção aqui no Brasil que não obrigasse a pessoa que quisesse estudar esse tipo de assunto a ir para o exterior”, conta Ricardo.

A faixa etária dos inquietos que procuram a EDT é entre 30 e 40 anos, mas não existe uma profissão dominante. Há tanto recém-formados quanto aposentados; tanto jornalistas e publicitários quanto enfermeiros, advogados e psicólogos. O que os une? A busca pela inovação na prática. “Aprendemos que o mercado da educação é gigantesco, cada dia surgem novas demandas para novos cursos”, diz Ricardo.

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Para o futuro, duas novas empresas sendo gestadas

A consultoria Design Echos não deixou de existir com o surgimento da escola. Pelo contrário, cresceu e transformou-se em um laboratório de negócios, um lugar onde Ricardo e Juliana levam suas pesquisas em parceria com outros estudiosos do tema do design thinking. Atualmente, o próximo passo é torná-la uma venture building, isto é, uma empresa que crie empresas, retirando-se estrategicamente do controle total do próprio negócio.

Nesta linha, Ricardo dedica-se neste momento à criação da Inc Lab, uma incubadora criativa corporativa. “A gente identificou que vários microempreendedores que se lançam nos nossos cursos ou em pós-graduações e MBAs procuram uma forma de crescimento em suas próprias empresas, e muitas vezes não as encontram. Nós queremos descobrir como possibilitar este ganho de espaço dentro das companhias para que não haja uma evasão dos talentos; criar novos negócios dentro da empresa em que ele já trabalha”, explica o administrador.

Juliana, por sua vez, concentra-se em um projeto de empreendedorismo e inovação de impacto, para divulgar todo o conteúdo que se constrói na EDT nas zonas de periferia. O objetivo é empoderar as pessoas que estão à margem desta construção de conhecimento, tornando-as capacitadas a movimentar a economia e a gerar novos negócios na própria região em que estão inseridas. Daí, gerar o impacto social que é o objetivo principal de todas as ideias que o casal de empreendedores elabora.

A decisão de trabalhar juntos, viver juntos e tomar todas as decisões pessoais e profissionais juntos exigiu oito meses de profunda reflexão de Juliana e Ricardo. Porém, os números ajudam a provar que a parceria está dando certo: em 2014, a empresa faturou 900 mil reais e, para 2015, a previsão é de 2 milhões de reais só com a escola e a consultoria, sem contar com os novos projetos. E se as novas ideias não derem certo? “Tudo bem. Nós não temos muito medo de errar. Além disso, como nunca fazemos grandes investimentos financeiros, não tem muita dor se não for como a gente esperava”, diz Juliana. Um leve e frutífero modelo de negócios.

Este artigo foi originalmente publicado em DRAFT 

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