“Trabalhar em uma grande consultoria coloca um selo brilhante no seu currículo”, brinca Marcelo Binder, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e consultor na área estratégica. Para ele, trata-se de uma experiência profissional valorizada em toda parte do mundo e capaz de alavancar carreiras em diversos mercados. O rigoroso processo seletivo dessas empresas, somado à vivência em diferentes indústrias e ao intenso treinamento interno são alguns dos fatores que explicam tal prestígio.
A carreira em consultoria costuma ter como ponto mais alto o cargo de sócio, oferecido aos melhores funcionários após um longo período de dedicação – de 10 a 12 anos, em média, nos escritórios brasileiros, segundo o pesquisador. “A questão é que muitas pessoas que entram nessas empresas não têm a pretensão de virar sócio”, explica Marcelo.
Diante da alta taxa de rotatividade entre seus funcionários, as consultorias já não se surpreendem ao ver talentos migrando para outras empresas ou saindo para abrir seus próprios negócios. O sistema de promoção up-or-out gera um fluxo constante de pessoas que saem do emprego em condições amigáveis. Como o mercado costuma ser bastante receptivo com esses egressos, não é raro encontrar um ex-consultor que acabou encontrando sucesso como empreendedor, investidor, escritor ou até mesmo na indústria do entretenimento. O músico John Legend trabalhava no Boston Consulting Group (BCG), sabia?
Leia também: Saiba como funciona o sistema de promoção ‘up-or-out’ das consultorias
Transição de carreira Em 2008, um estudo realizado pela revista USA Today calculou as chances de egressos de diversas faculdades e empresas tornarem-se CEOs de grandes companhias. A consultoria estratégica McKinsey & Company liderou o ranking, seguida pela Deloitte. Outro estudo, de 2011, apontou que mais de 150 ex-funcionários da McKinsey dirigiam empresas com lucro anual superior a 1 bilhão de dólares.
Para chamar atenção dos recrutadores, os nomes com maior apelo são normalmente as Big Three (McKinsey, Bain & Company e BCG), maiores empresas de consultoria estratégica, e as Big Four (Delloite, EY, PricewaterhouseCoopers e KPMG), maiores auditorias internacionais. Todas elas têm seu próprio hall da fama que prova isso.
Pela McKinsey passaram o ex-chairman da IBM e do Carlyle Group, Louis Gerstner, e o CEO da Boeing, James McNerney, entre vários outros. No portfólio da Bain está o CEO do eBay, John Donahoe; a presidente da TAM, Claudia Sender; e o ex-candidato à presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney. O primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e a CEO da PepsiCo, Indra Nooyi, trabalharam no BCG. Já o co-fundador da Nike, Phil Knight, é ex-PwC. Ufa! A lista completa é enorme e não caberia nessa página.
“Para quem vê consultoria como forma de acelerar a carreira, um bom momento de saída é na metade da escalada profissional, antes de ascender a posições mais altas – o que talvez lhe renda um cargo de gerente júnior em alguma empresa para qual você fez um projeto”, defende Marcelo. “Você provavelmente teve mais contato com pessoas importantes da empresa do que seu amigo que trabalha lá há anos, e isso é uma excelente porta de entrada”, conclui.
Ainda assim, ele chama atenção para o fato de que essa mobilidade é possível em qualquer cargo, até mesmo entre os sócios, que podem sair para assumir a diretoria de bancos ou grandes organizações, como acontece com os alumni mais notáveis.
Leia também: Presidente da TAM fala sobre experiência em consultoria e por que deixou a área
Rede alumni de consultores
Tomando emprestado um conceito do mundo das universidades para se referir aos ex-alunos, essas empresas têm criado redes alumni para manter contato com seus ex-funcionários, buscando engajá-los em um ecossistema de troca de conhecimento e oportunidades.
A McKinsey foi a primeira empresa a criar uma rede alumni online, que hoje conta com cerca de 30 mil antigos consultores, muitos dos quais foram trabalhar em potenciais clientes para a consultoria. Eles têm acesso a uma plataforma com oportunidades de trabalho e análises de tendências feitas pela própria McKinsey, além de poderem aproveitar esse ambiente de pessoas altamente qualificadas para trocar informações e debater tópicos de interesse. Ao estreitar essas relações, a McKinsey pretende torná-los embaixadores da marca.
O BCG também quer continuar em contato com seus ex-consultores. Para isso, não hesita em ajudá-los a encontrar novas oportunidades e, mesmo depois que saem, continuam recebendo gratuitamente conteúdo estratégico produzido pela empresa. Na Bain, a rede já conta com mais de 10 mil antigos consultores, e há inclusive um mural onde é possível buscar ou mesmo postar vagas de empregos, para aqueles que procuram um funcionário com o pedigree da consultoria.
Com as grandes auditorias não é diferente. A Deloitte costuma ajudar os funcionários de saída a atualizar seus currículos, na esperança de que isso sirva de incentivo para permanecer em contato com a empresa, e a PwC, além da rede alumni, lançou nos escritórios norte-americanos uma campanha de recrutamento de ex-funcionários que querem voltar a trabalhar part-time ou fazer parte de um ou outro projeto específico.
Leia também: Como resolver ‘cases’ nos processos seletivos para consultoria
Esta reportagem faz parte da seção Explore, que reúne uma série de conteúdos exclusivos sobre carreira em negócios. Nela, explicamos como funciona, como é na prática e como entrar em diversas indústrias e funções. Nosso objetivo é te dar algumas coordenadas para você ter uma ideia mais real do que vai encontrar no dia a dia de trabalho em diferentes setores e áreas de atuação.