Por que algumas pessoas escolhem criar um negócio e não trabalhar em um que já existente? Pesquisadores descobriram que, na hora de decidir a carreira, os que optam por empreender geralmente consideram que as grandes empresas não valorizariam algumas de suas habilidades.
“Os empreendedores se consideram melhores do que [o que é retratado] em seus currículos e percebem que podem ganhar mais dinheiro indo sozinhos”, concluí o estudo “Asymmetric Information and Entrepreneurship”, que compreendeu 16.600 empreendedores dos mais diversos setores, com diploma e sem, de 30 anos ou mais.
Outros fatores podem influenciar categoricamente a decisão de abrir um negócio, como a possibilidade de maior flexibilidade, compensação econômica e a vontade de pôr em prática uma ideia. No entanto, a proposta do estudo era investigar exatamente o impacto que a consciência sobre as próprias competências têm nessa resolução.
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Habilidades cognitivas
Os resultados mostraram que os empreendedores têm pontuação maior em testes de habilidades cognitivas – mecanismos internos relacionados à processos de aprendizagem e de memorização – do que suas experiências educativas levam a crer.
E a habilidade cognitiva deles é maior do que daqueles com as mesmas referências educacionais e de trabalho que optam por atuar em uma organização. Esse conjunto de capacidades contribui para a vida profissional, mas não “cabe” nos modelos de currículo que o mercado de trabalho considera atualmente.
Dificuldades em traduzir habilidades para o currículo
Quando você procura um emprego, você “sinaliza” sua capacidade para os empregadores através de um currículo com uma lista de suas qualificações educacionais e histórico de trabalho.
As pessoas escolhem ser empreendedores quando sentem que são mais capazes do que os empregadores podem interpretar de acordo com seu currículo ou entrevista.
Segundo a pesquisa, isso explica porque grupos como os imigrantes tendem a gravitar para o empreendedorismo. Escolaridade desconhecida, sem licença para praticar a atividade, histórico de emprego não verificável, etc., são “sinais” com pouca credibilidade frente às companhias tradicionais.
E também explica porque é comum amigos e família financiarem negócios no início: eles conhecem e confiam na competência do empreendedor porque não dependem só do currículo como fonte de informações – como seria para um possível contratante.
Informações assimétricas
O nome do estudo reflete o teor das descobertas: Asymmetric Information (em português, “informação assimétrica”), basicamente, significa quando uma parte tem mais informações do que a outra.
Nesse caso, os empreendedores sabem algo que os potenciais contratantes não. Seu currículo (e demais fases dos processos seletivos tradicionais) não demonstram qualidades como resiliência, curiosidade, agilidade, desenvoltura, reconhecimento de padrões e tenacidade, por exemplo.
Isso afeta a todos que buscam lugar no mercado de trabalho, a diferença é que os empreendedores – inconscientemente ou não – buscam alternativas em que essas capacidades sejam reconhecidas, segundo a pesquisa.