No dia a dia, sentir emoções (fortes ou fracas) é inevitável. O que é evitável, no entanto, é se deixar levar por elas de maneira exagerada ou reativa.
Pelo menos é o que garante Daniel Goleman, psicólogo especializado em inteligência emocional e autor do bestseller Inteligência Emocional.
Em um artigo para o LinkedIn, ele explica as consequências profissionais de um descontrole emocional, porque o assunto é especialmente importante para líderes e que técnicas podem ser utilizadas para melhorar sua relação com suas próprias emoções.
Leia a tradução do NaPrática.org abaixo:
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Como lidar com emoções no trabalho
A cena: Justin, o chefe regional de vendas de uma empresa de produtos para animais, acaba de apresentar um novo produto para Alice e sua equipe, compradores de uma grande rede.
Justin acabou sua apresentação e, assim que ele sai, Alice se vira para a equipe e diz: “O que ele tinha? Ele quer que nossas lojas vendam os produtos ou não? Marcamos essa reunião há um mês, ele está fazendo esse pitch há um ano. Mas parecia estressado e sem entusiasmo. E não entende nem nossos objetivos mais básicos ou o que nossos clientes querem. Não nos vejo avançando aqui.”
Justin não percebeu, mas Alice viu que algo estava errado.
E aqui está a história anterior à apresentação sem graça: Justin estava no meio de uma tormenta de mudança de equipe e uma crise causada pelo recall de outro produto.
Faltavam duas semanas para que um terceiro produto fosse lançado e o evento de lançamento estava muito atrasado. Muito precisava ser feito e as pessoas que geralmente fariam várias tarefas não estavam disponíveis. Ele estava sobrecarregado.
Tentando conseguir organizar uma longa lista de tarefas que ainda precisavam ser feitas, Justin começou a entrar em pânico – e um jeito que isso surgiu foi naquela performance desconexa na reunião.
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O que acontece quando falta autocontrole emocional
Muitas vezes, as pessoas pensam que emocionalmente descontrolado é alguém que grita constantemente ou chora com a menor provocação.
Mas a falta de autocontrole emocional tem muitas formas: a incapacidade de Justin de lidar com sua ansiedade em relação ao planejamento do evento é apenas uma manifestação do traço de um líder que não consegue lidar bem com chateações e estresse.
Autocontrole emocional é uma competência chave no meu modelo Emotional and Social Leadership Competency Model. Líderes que dominam essa competência conseguem administrar suas emoções disruptivas e manter a cabeça fria e o foco mesmo quando estão estressados ou em meio a uma crise.
A ansiedade pode aparecer de diversas maneiras. Em um artigo recente, Victor Morrison, uma alta liderança com ampla experiência, escreveu sobre ser promovido a uma posição desafiadora, as emoções que sentiu e como aprendeu a lidar com as emoções disruptivas de maneira eficaz.
Victor explica os muitos jeitos que emoções têm de causar problemas, incluindo críticas frequentes em relação à equipe e controlando demais aqueles que trabalham para você – mesmo quando têm mais expertise relevante que você.
Leia também: Como funciona e qual é a importância da autoliderança para a carreira?
As consequências de emoções descontroladas
Além do fracasso naquela grande vende, o que aconteceria se a ansiedade de Justin também vazasse como críticas excessivas das pessoas ao seu redor? Provavelmente sua equipe guardaria suas ideias criativas por medo de tê-las negadas.
A habilidade de líderes de manter a calma sob pressão é crítica para o sucesso de um grupo inteiro.
Como mostram pesquisas da Yale School of Management, as emoções de um líder vazam e infectam o time inteiro.
Se o líder está engajado e entusiasmado, sua equipe também estará e a performance vai melhorar. Mas se o líder não tem habilidade de administrar suas emoções, o estresse vai ser contagioso e a performance vai sofrer.
Como lidar com suas emoções?
A boa notícia é que competências de inteligência emocional podem ser aprendidas. Assim como alguns passos fazem com que você melhore sua jogada de golfe ou outras técnicas físicas, você pode fortalecer suas habilidades emocionais.
O que Justin poderia fazer para construir sua habilidade de autocontrole emocional?
Primeiro, ele precisa reconhecer que tem emoções fortes e que estão causando problemas. Isso exige outra competência de inteligência emocional: consciência emocional, a habilidade de reconhecer seus sentimentos e como eles impactam seu comportamento.
Com frequência, um passo na direção dessa consciência é receber feedback de colegas de confiança ou mentores.
No caso de Justin, pode ser a Eva, a diretora de vendas da empresa com quem trabalha há anos e poderia lhe dar feedback sincero e confidencial.
Uma colega perceberia a situação estressante de Justin e perguntaria sobre a reunião com Alice e os boatos que ela escutou de criticas cada vez mais frequentes de Justin em relação à equipe.
No começo, Justin poderia ficar na defensiva. Com sorte, Eva poderia ajudar Justin a ver que, não importa quão desafiadora é a situação, ele precisa achar um jeito de lidar com ela sem que impactasse seu trabalho.
Após reconhecer que sua ansiedade está no caminho, como Justin poderia lidar com situações difíceis no futuro?
Meu colega George Kohlrieser, professor de liderança e comportamento organizacional do IMD, na Suíça, oferece conselhos em meu novo livro, Emotional Self-Control: A Primer.
Ele diz: “A ideia de manter a calma e a compostura é aprender os sinais de quando você está prestes a reagir e assim evitar que isso aconteça. Parte disso também é rearrumar seu cérebro para manter a calma. Você pode mudá-lo através da meditação, ao respirar profundamente ou encontrar alternativas saudáveis para liberar suas emoções, como anotá-las num papel. Seja qual for o método, precisa praticá-lo regularmente para que o corpo aprenda como retornar à calma.”
Essa é a chave: aprender a apertar o botão de pausa por tempo suficiente para evitar reagir de maneira exagerada.
A meditação mindfulness ensina a reconhecer pensamentos e sentimentos mas não se identificar demais com eles. Você nota quando estão presentes, mas não é levado por eles.
O autocontrole emocional em ação
E se Justin tivesse reconhecido seu nível de estresse e dominasse a competência de autocontrole emocional? Como ele poderia ter lidado com a reunião com Alice?
Assim que sentisse a ansiedade subindo, ele saberia que precisava tomar ações para mante-la sob controle.
Como uma canoísta profissional me disse, quando ela está prestes a passar por uma correnteza desafiadora, não é que ela não tem borboletas na boca do estômago: as borboletas estão voando de maneira organizada.
Ao respirar profundamente ou praticar mindfulness, Justin poderia perceber seus sentimentos e entender que ele tem uma escolha ao lidar com eles.
Antes de passar pela porta para a reunião, ele poderia deixar de lado os pensamentos sobre o evento de lançamento do produto, focar a tenção no trabalho que fez ao longo do ano para cultivar sua relação com a empresa de Alice e manter o foco.
Se tivesse feito isso, poderia ter saído da reunião no caminho para um contrato importante.
Além disso, essa competência pode ajudá-lo a dar um passo para trás e lidar com o problema real para evitar as condições que fazem essas emoções danosas surgirem.
Nesse caso, está claro que Justin está sobrecarregado com responsabilidades. Ao invés de levar essa ansiedade para seus supervisores e passar uma imagem de incapacidade, Justin poderia avaliar a situação toda e propor maneiras de tornar seu papel mais administrável.
Talvez isso significasse contratar outra pessoa para lidar com certas responsabilidades ou aprender a priorizar seu tempo. Uma vez que as emoções estejam equilibradas, fica muito mais fácil ver a situação por inteiro e criar soluções sustentáveis.
Artigo originalmente publicado no LinkedIn.