A tradição americana de commencement speeches, ou discursos de formatura, é um dos momentos mais esperados da temporada de formaturas – e não só para os formandos.
Grandes nomes são convidados a falar sobre suas próprias trajetórias e aconselhar formandos sobre como lidar com o mundo fora dos campi universitários e suas falas frequentemente se tornam fontes de inspiração disponíveis online.
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Entre os mais famosos speeches de todos os tempos estão, por exemplo, o discurso de Steve Jobs sobre propósito na Stanford University, o discurso de JK Rowling sobre resiliência na Harvard University e o discurso do autor David Foster Wallace sobre o sentido da vida na Kenyon College.
Em 2017, foi a vez de Mark Zuckerberg, cofundador e CEO do Facebook, voltar à sua alma mater, finalmente se formar e falar sobre comunidade, desafios globais e o futuro do trabalho, tudo do ponto de vista do propósito – e de um millennial para outro.
“Para manter nossa sociedade avançando, temos um desafio geracional: não apenas criar novos trabalhos, mas criar um novo senso de propósito”, disse Zuckerberg.
E isso, continuou, não é um trabalho para os outros. “Sei que muitos de vocês veem uma mudança no mundo que parece tão clara que vocês têm certeza que outra pessoa a fará. Mas não é outra pessoa. É você.”
Leia os melhores momentos do discurso abaixo, em português:
O discurso de Mark Zuckerberg em Harvard
Sou um orador inusitado. Não só porque deixei a universidade, mas porque pertencemos à mesma geração.
Andamos por esse campus com menos de uma década de diferença, estudamos as mesmas ideias e dormimos durante as mesmas aulas.
Tomamos caminhos diferentes para chegar até aqui, mas hoje quero compartilhar com vocês o que aprendi sobre nossa geração e sobre o mundo que estamos construindo juntos.
Mas antes disso, algumas boas memórias vieram à tona nesses últimos dias.
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Lembram-se de sua primeira aula em Harvard? A minha foi Computer Science 121 com o incrível Harry Lewis. Eu estava tão atrasado que só percebi depois que vesti minha camiseta do avesso e com a etiqueta para a frente.
Não entendi porque ninguém falava comigo exceto um cara, KX Jin. Acabamos resolvendo muitas lições juntos e hoje ele toca uma parte grande do Facebook. Viu, Classe de 2017, é por isso que vocês devem ser legais com as pessoas.
Minha melhor memória de Harvard é conhecer Priscilla [sua esposa]. Eu tinha acabado de lançar esse website pegadinha, Facemash, e o conselho queria “falar comigo”. Todos acharam que eu seria expulso.
Meus pais vieram para me ajudar a fazer as malas. Meus amigos fizeram uma festa de despedida.
Priscilla estava nessa festa com um amigo e nos encontramos na fila do banheiro. Com uma frase que deve estar entre as mais românticas de todos os tempos, eu disse: “Vou ser expulso em três dias, então precisamos marcar um encontro rapidamente.”
Não fui expulso – eu mesmo saí – e Priscilla e eu começamos a namorar.
Aquele filme [A Rede Social] faz parecer que o Facemash foi muito importante para a criação do Facebook, mas não é verdade. Só que sem o Facemash, eu não teria encontrado a Priscilla, a pessoa mais importante da minha vida, então posso dizer que foi a coisa mais importante que construi aqui.
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Por que propósito importa?
E hoje quero falar sobre propósito.
Mas não estou aqui para dar aquele discurso padrão sobre encontrar seu propósito. Somos millennials! Fazemos isso instintivamente.
Estou aqui para dizer que só encontrar seu propósito não basta.
O desafio da nossa geração é criar um mundo em que todos tenham um senso de propósito.
Uma de minhas histórias favoritas é aquela em que John F. Kennedy visita o NASA Space Center e, vendo um zelador com uma vassoura, pergunta o que ele está fazendo. O zelador responde: “Sr. Presidente, estou ajudando a colocar um homem na lua.”
Propósito é o senso de que somos parte de algo maior que nós mesmos, que somos necessários, que trabalhamos para algo melhor adiante. Propósito cria felicidade de verdade.
Vocês estão se formando numa época em que isso é especialmente importante. Quando nossos pais se formaram, propósito vinha de seu trabalho, sua igreja, sua comunidade.
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Hoje, tecnologia e automação estão eliminando muitos empregos. Muitas pessoas se sentem desconectadas e deprimidas e estão tentando preencher um vazio.
Para manter nossa sociedade avançando, temos um desafio geracional: não apenas criar empregos, mas um novo senso de propósito.
Eu me lembro da noite que lancei o Facebook, em meu pequeno dormitório. Lembro de dizer ao meu KX que estava animado em conectar a comunidade de Harvard, mas que um dia alguém conectaria o mundo inteiro.
Nunca me ocorreu que esse alguém poderia ser nós mesmos. Éramos apenas uns universitários. Não sabíamos nada sobre isso. Havia todas as outras grandes empresas de tecnologia cheias de recursos. Eu simplesmente assumi que uma delas o faria.
Mas a ideia estava tão clara para nós: as pessoas queriam se conectar. Então continuamos avançando todos os dias.
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Sei que muitos de vocês têm histórias assim. Uma mudança global que parece tão clara que você tem certeza que outra pessoa a fará. Mas não é outra pessoa. É você.
Só que não basta só você ter esse propósito. Você precisa criar um senso de propósito para outros.
Descobri isso do jeito difícil.
Eu nunca quis construir uma empresa, mas queria ter impacto.
E quando todas aquelas pessoas se juntaram à empresa, assumi que eles ligavam para isso também, então nunca expliquei o que esperava que fossemos construir.
Alguns anos depois, empresas grandes queriam nos adquirir. Eu não queria vender. Queria ver se conseguiríamos conectar mais gente.
Estamos construindo o primeiro feed de notícias e eu pensei: se pudermos lançar isso, pode mudar o jeito que aprendemos sobre o mundo.
Quase todo mundo queria vender. Estraçalhou nossa companhia.
Após um argumento tenso, um conselheiro me disse que, se eu não vendesse, me arrependeria da decisão para o resto da vida.
Os relacionamentos ficaram tão frágeis que, em um ano, todas as pessoas da equipe de administração saíram.
Foi minha época mais difícil no Facebook. Eu acreditava no que estávamos fazendo, mas me senti sozinho. Pior: era minha culpa.
Eu pensava se não estava errado, se não era um imposto, um menino de 22 anos que não fazia ideia de como o mundo funcionava.
Anos depois, entendo que é assim que as coisas funcionam sem um senso de propósito maior. Somos nós que devemos criá-lo para que todos possam continuar avançando.
Hoje quero falar sobre três maneiras para criar um mundo em que todos tem um senso de propósito: ao construir grandes projetos significativos juntos; ao redefinir o que é igualdade para que todos tenham a liberdade de perseguir esse propósito; e ao construir comunidades pelo mundo.
Construam grandes projetos
Vamos começar pelos grandes projetos significativos.
Nossa geração terá que lidar com dezenas de milhões de empregos que serão substituídos pela automação, como carros e caminhões autônomos.
Mas temos potencial para fazer muito mais juntos.
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É nossa vez de fazer grandes coisas. Sei que você provavelmente está pensando: mas eu não sei como envolver milhões de pessoas com alguma coisa.
Vou te contar um segredo: ninguém sabe quando começa. Ideias não aparecem totalmente formadas. Só se tornam claras conforme trabalhamos nelas. Você só precisa começar.
Filmes e a cultura pop apresentam tudo errado. A ideia de um único momento do tipo eureca é uma mentira perigosa.
Faz com que nos sintamos inadequados já que não tivemos a nossa. Faz com que pessoas que têm sementes de boas ideias não comecem.
E é bom ser idealista. Mas preparem-se para serem incompreendidos.
Qualquer um que trabalhe com uma grande visão será chamado de louco, mesmo que esteja certo no fim.
Qualquer um que trabalhe com um problema complexo será acusado de não entender o desafio inteiro, mesmo que seja impossível saber tudo logo no começo.
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Qualquer um que tome iniciativa será criticado por estar indo rápido demais, porque há sempre alguém que quer que você diminua a velocidade.
A realidade é que qualquer coisa que façamos terá problemas no futuro. Mas isso não pode nos impedir de começar.
O que estamos esperando?
Que tal parar o aquecimento global antes de destruirmos o planeta e envolver milhões de pessoas na manufatura e instalação de painéis solares?
Que tal curar todas as doenças e pedir a voluntários que compartilhem seus dados de saúde e seus genomas?
Que tal modernizar a democracia para que todos possam votar online e personalizar a educação para que todos possam aprender?
Todas essas conquistas estão ao nosso alcance. Devemos fazê-las de maneira que dê um papel a todos na sociedade.
Vamos fazer grandes coisas e não só criar progresso, mas também criar propósito.
Redefinam a igualdade
A segunda maneira é redefinir a igualdade para dar a todos a chance de perseguir seus propósitos.
Muitos de nossos pais tiveram empregos estáveis ao longo de suas carreiras.
Hoje somos todos empreendedores, seja na hora de começar projetos ou encontrar funções. E isso é ótimo.
Uma cultura empreendedora prospera quando é fácil testar um monte de novas ideias e os maiores sucessos vêm da liberdade de fracassar.
Hoje, porém, temos um nível de desigualdade social que machuca todos.
Quando alguém não tem a liberdade de pegar sua ideia e torná-la uma empreitada histórica, todos perdemos.
Hoje, nossa sociedade é muito focada em recompensar o sucesso e não fazemos o suficiente para facilitar as tentativas para todos.
Conheço muitos empreendedores, mas não conheço ninguém que desistiu de começar um negócio porque achou que não faria dinheiro suficiente.
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Mas conheço muita gente que não foi atrás de seus sonhos porque não tinham uma reserva caso falhassem.
Deveríamos ter uma sociedade que mede progresso não apenas com métricas econômicas como o PIB, mas com quantos de nós encontraram papeis que consideram significativos.
Deveríamos explorar ideias como salário mínimo universal para dar a todos uma reserva para que tentem coisas novas.
Todos vamos falhar, então precisamos de uma sociedade que foca menos em nos fechar ou nos estigmatizar.
E as tecnologias continuam mudando, então precisamos focar mais na educação contínua ao longo de nossas vidas.
É por isso que Priscilla e eu começamos a Chan Zuckerberg Initiative e oferecemos nossa fortuna para promover a igualdade de oportunidades.
Esses são os valores de nossa geração, que já é uma das mais beneficentes da história. Em um ano, três entre quatro millennials americanos fizeram uma doação e sete entre dez captaram dinheiro para caridade.
Não se trata só de dinheiro. Você também pode dar seu tempo. Prometo que uma ou duas horas por semana já bastam para ajudar alguém a alcançar seu potencial
Todos podemos achar tempo para ajudar alguém. Vamos dar a todos a liberdade de perseguir seus propósitos – não porque é a coisa certa para fazer, mas porque quando mais pessoas podem tornar seus sonhos reais, todos nos beneficiamos.
Construam comunidades
A terceira maneira que podemos criar um senso de propósito para todos é ao construir uma comunidade.
E quando nossa geração diz “todos”, queremos dizer todas as pessoas do mundo.
Entendemos que as maiores oportunidades hoje são globais – podemos ser a geração que acaba com a pobreza, com a doença.
Entendemos que os maiores desafios também precisam de respostas globais – nenhum país pode combater, sozinho, as mudanças climáticas ou prevenir pandemias.
O progresso requer união não só de cidades ou nações, mas de uma comunidade global.
Mas vivemos numa era instável. Há pressão para que nos voltemos para dentro. É a luta de nosso tempo.
E isso não vai ser decidido na ONU.
Vai ser decidido em nível local, quando um número suficientemente grande de nós com um senso de propósito e estabilidade em nossas vidas puder se abrir e começar a cuidar de todos.
O melhor jeito de fazer isso é começar a construir comunidades locais agora.
Todos extraimos signifcado de nossas comunidades. Sejam elas casas, equipes esportivas, igrejas, bandas… Elas nos dão uma sensação de pertencimento a algo maior, mostram que não estamos sozinhos. Elas nos dão força para expandir nossos horizontes.
Sei que podemos reconstruir nossas comunidades e começar outras porque muitos de vocês já estão fazendo isso.
Conheci Agnes Igoye, que está se formando hoje. Ela passou a infância em zonas de conflito em Uganda e agora treina milhares de policiais comunitários.
Conheci Kayla Oakley e Niha Jain, que estão se formando hoje. A dupla começou uma ONG que conecta pessoas sofrendo com doenças e pessoas em suas comunidades dispostas a ajudar.
Conheci David Razu Aznar, que está se formando hoje. Ele foi um conselheiro municipal que liderou, com sucesso, a batalha para tornar a Cidade do México a primeira cidade latino-americana a passar uma lei de casamento igualitário – mesmo antes de São Francisco.
E essa é minha história também.
Um universitário num dormitório que conectou uma comunidade por vez até conectar o mundo inteiro.
A mudança começa localmente.
Mesmo mudanças globais começam pequenas, com pessoas como nós.
Em nossa geração, a luta para se conectar cada vez mais e para conquistar as maiores oportunidades se resume a isso: sua habilidade de construir comunidades e criar um mundo em que cada pessoa sente que tem um propósito.
Classe de 2017, vocês estão entrando em um mundo que precisa de propósito. Criá-lo depende de você.
Boa sorte lá fora.
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