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Alfabetização midiática em tempos de IA: por que ela é importante?

Homem jovem, de regata e cabelo curto, olhando para a tela do celular

Já encontrou um boato de WhatsApp hoje? Ou um vídeo que você não tem certeza se é verdadeiro?

Em um mundo onde qualquer pessoa com acesso à internet pode criar, compartilhar e modificar conteúdos, distinguir o que é verdadeiro do que foi manipulado tornou-se uma habilidade indispensável, especialmente diante do avanço das inteligências artificiais e das sofisticadas deep fakes. Nesse contexto, a alfabetização midiática se consolida como uma competência fundamental: só assim para navegar com segurança e senso crítico.

Mais do que ensinar a identificar fake news, a alfabetização midiática envolve o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre a produção, circulação e impacto da informação. Trata-se de formar pessoas que compreendem os mecanismos por trás do que consomem e que são capazes de interagir com os meios de comunicação de forma ética, responsável e criativa.

Leia também: Pensamento crítico: o que é e como colocar em prática?

O que é alfabetização midiática?

Alfabetização midiática é a capacidade de acessar, analisar, avaliar, criar e agir usando todos os tipos de mídia. De acordo com Suéller Costa – jornalista, educadora, mestre em Ciências da Comunicação pela USP e doutoranda em Educação na mesma universidade –, tudo começa com leitura e escrita.

Elas são as bases que dão sustentação a qualquer outro tipo de letramento, inclusive o midiático, o informacional e o digital. “Se a leitura e a escrita não forem efetivas, todas essas outras linguagens que chegam nas nossas mãos vão ser mais desafiadoras”, afirma.

Ela, que também atua na educação básica, afirma que a infância e a juventude são fases ideais para esse tipo de formação: “É nesse momento que conseguimos construir algo mais sólido e duradouro. Preparar essa geração é fundamental não apenas para o futuro dela, mas também para que possa apoiar pais e avós nesse processo, é uma aprendizagem compartilhada.”

Mesmo assim, Suéller defende que a educação midiática não deve se restringir às crianças e jovens. “É para todos. Estamos em um momento de muitas inovações, e precisamos incluir também os adultos e a terceira idade, que são especialmente vulneráveis a golpes.”

O papel das políticas públicas

A importância da alfabetização midiática já foi reconhecida por organismos internacionais como a ONU e a Unesco, que desde 2011 promovem a Global Media and Information Literacy Week. Durante essa semana, governos, escolas, ONGs, universidades e outras organizações promovem eventos, debates, oficinas e campanhas para destacar a importância de desenvolver habilidades críticas para acessar, analisar, avaliar, usar e criar conteúdos de mídia e informação de forma ética e responsável.

No Brasil, o Ministério da Educação (MEC) e a Secretaria de Comunicação Social (Secom) lançaram em maio de 2025 um Guia de Educação Digital e Midiática. O documento orienta educadores sobre como trabalhar o tema em sala de aula de forma transversal.

País-exemplo

A Finlândia é considerada o modelo global e criou uma política nacional de educação midiática em 2013. Em 2019, a alfabetização midiática passou a ser parte formal das disciplinas do ensino fundamental e médio, tornando-se um componente obrigatório do currículo nacional.

As habilidades midiáticas são ensinadas em disciplinas variadas, como língua materna, literatura e tecnologia da informação. O foco é claro: formar estudantes capazes de questionar, analisar e produzir conteúdo de maneira crítica e ética.

As aulas finlandesas incentivam os alunos a perguntar:

  • – “Quem produziu esse conteúdo?”
  • – “Por que ele foi publicado?”
  • – “Onde posso verificar essa informação?”

Mais do que detectar fake news, os estudantes aprendem a entender a lógica dos algoritmos, a intencionalidade por trás das imagens e a ética da produção de conteúdo digital.

Neste curso online de 2018, o canal Crash Course fala sobre alfabetização midiática

Inteligência artificial e deep fakes: novos desafios

Com a popularização de ferramentas de IA generativa, como editores de imagem e vídeo hiper-realistas, e a ascensão dos deep fakes, a necessidade de uma população crítica e informada se torna urgente.

Segundo Suéller, é essencial trabalhar o olhar investigativo e a desconfiança como ferramentas pedagógicas. “A principal coisa para não ser enganado é desconfiar. Nos vídeos feitos por IA, por exemplo, você percebe que tem algo estranho, que não é natural. Mas, como as pessoas estão se informando de forma acelerada e menos profunda, acabam acreditando com facilidade.”

Para ela, mais do que aprender a usar tecnologias, é preciso compreendê-las como parte de um espaço discursivo. “A IA envolve a criação e desafia nosso trabalho com leitura e escrita. Se automatizamos tudo, deixamos de incentivar o pensamento crítico e autoral.”

Suéller afirma que é preciso trazer para o centro do currículo a discussão sobre linguagem, algoritmos, intencionalidade e cidadania digital, assim como na Finlândia. “A alfabetização midiática tem que estar no plano pedagógico da escola. Hoje, muitas vezes, é um trabalho solitário dos professores, que colocam o tema em seus projetos, mas sem apoio institucional”.

Leia também: Inteligência Emocional: entenda o que é, a importância e como desenvolver

5 dicas para se proteger da desinformação

Com a IA facilitando a criação de vídeos falsos (deepfakes), vozes clonadas e imagens geradas artificialmente, o cuidado ao consumir informação precisa ser redobrado mesmo entre quem sempre teve a Internet nas mãos.

Aqui vão algumas dicas práticas para se proteger:

  1. Verifique a fonte – prefira veículos de imprensa reconhecidos e confira se a informação aparece em mais de um lugar confiável. Desconfie de sites pouco conhecidos ou sensacionalistas.

  2. Cuidado com emoções fortes – notícias falsas costumam provocar medo, raiva ou choque para se espalharem mais rápido. Se algo parecer “bom (ou ruim) demais para ser verdade”, provavelmente é.

  3. Use ferramentas de checagem – sites como Boatos.org, Aos Fatos e Lupa fazem a verificação de notícias virais. O Google Imagens e o InVID também ajudam a conferir a origem de imagens e vídeos.

  4. Analise o conteúdo com senso crítico – pergunte-se: quem se beneficia com essa informação? Faz sentido? Há alguma prova concreta?

  5. Esteja atento a deepfakes – fique de olho em inconsistências visuais (movimentos artificiais, sombras estranhas, olhos que não piscam) ou sonoras (áudios robotizados, cortes abruptos). Ferramentas como Deepware Scanner ou Hive Moderation podem ajudar a identificar manipulações.

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