No começo, Sandrine Ferdane queria ser música.
Ela tinha estudado o tema a vida inteira e passava onze horas por semana no conservatoire, escola francesa onde aprendia temas como teoria musical, piano e música de câmara.
Quando chegou a hora de escolher sua graduação, decidiu ter também algo mais tradicional no currículo. Estudou Administração na Emlyon Business School, em Lyon, onde tomou gosto por finanças.
Começou a trabalhar no então banco Paribas logo após se formar, em 1992, e descobriu que tinha talento na área – e ainda conseguia ter suas aulas de música.
Foi uma decisão acertada. Hoje com quase 25 anos de experiência, Ferdane é CEO da operação brasileira do BNP Paribas, banco líder na zona do euro e onde fez toda sua carreira. “Em 2014, de forma muito surpreendente para mim, fui chamada para assumir a posição de presidente do banco”, conta ela, que aceitou imediatamente. “Eu estava focada no que fazia.”
A carreira no BNP Paribas
A cultura do banco é um dos motivos de sua permanência. “É um lugar em que você se sente bem, que é grande mas preza muito pela interconexão”, explica. “E gosto de estar numa empresa que é líder no que faz.”
Foi essa mesma cultura também lhe permitiu transitar entre diferentes áreas e passar do financiamento estruturado na França ao departamento internacional e à América Latina, em 1995, sua introdução à região.
“Comecei com Argentina e Chile”, lembra ela, destacando que aquele fluxo interno é algo comum no BNP Paribas. “O Brasil não era o que é o hoje: era um país mais fechado, tinha uma dinâmica diferente e sua importância para os bancos era bem menor.”
Três anos depois, visitou o país ao lado do marido pela primeira vez. Mesmo em uma época turbulenta, enxergaram potencial de desenvolvimento e decidiram ficar pelos próximos cinco anos.
Em 1999, Ferdane passou a integrar o BNP Paribas Corporate Banking, uma das áreas de atuação da instituição no país e onde trabalhou até 2003, ano em que retornou para Paris.
Leia também: Qual é o perfil esperado de um profissional do mercado financeiro?
Pelos próximos quatro anos, utilizando sua experiência in loco, ela trabalhou como chefe de finanças de exportação para América Latina.
Em 2007, já com três filhos, o casal fez as malas mais uma vez e se instalou em São Paulo.
Durante os sete anos seguintes, Ferdane trabalhou como diretora e chefe de corporate coverage da operação nacional. As tarefas mudaram em outubro de 2014, quando foi convidada a assumir o cargo de CEO no Brasil.
“O que me motiva é fazer da melhor maneira possível a tarefa que tenho”, afirma. “Focar, fazer bem e ir a fundo nas coisas é a equação para o sucesso.”
Foco e resultado
Essa, para ela, é a palavra mágica para quem quer ascender na carreira: foco. “É fazer bem o que você faz, extrair todo o conhecimento que puder e ter uma cultura de resultado”, fala. “Seja uma empresa grande ou pequena, ou você tem ou não tem resultado.”
No Brasil desde 1950, o BNP Paribas atualmente opera em várias frentes, como banco de investimentos, gestor de ativos, financeira e seguradora. E, ao longo das décadas, inevitavelmente presenciou muitos altos e baixos da economia.
Se em 2015 – o primeiro ano completo no cargo para Ferdane – os resultados foram bons, em 2016 foi hora de “jogar na defesa” para se proteger do pior da crise. Diante da incerteza das receitas que entrariam, o banco atuou cortando custos e ganhando eficiência. A estratégia traçada pela equipe de Ferdane também investiu na diversificação de clientes e produtos, sem duvidar que tempos melhores virão.
“Em 2017, já podemos pensar em crescimento de receita através da diversificação”, afirma Ferdane. “Tenho certeza que é só o começo para o Brasil.”
Liderança feminina
“Havia na proposta [da presidência] o fato de que eu era mulher”, fala ela, que é uma dentre as apenas duas mulheres à frente de grandes bancos no país. No mundo, vale lembrar, apenas 9% dos CEOs são do sexo feminino.
“É fato que há poucas mulheres no setor financeiro”, diz Ferdane. “E conforme você sobe, há uma dispersão. É isso que as empresas querem mudar.”
Mãe de três filhos, ela afirma que é essencial que cada um encontre as melhores soluções para equilibrar cuidados com a família e com a carreira, encontrando uma maneira de ter tempo qualitativo com os filhos sem pensar no trabalho e vice-versa. “Sem esse equilíbrio, eu não conseguiria estar focada no trabalho.”
É igualmente essencial, para a sociedade, capacitar e incentivar o desejo feminino de liderança, que acaba sendo desfeito em ambientes dominados por homens e que premiam comportamentos tipicamente masculinos.
“É preciso trabalhar muito, competir, se posicionar, defender suas opiniões. É difícil para todos, mas as mulheres precisam estar preparadas como os homens estão”, afirma.
“A solução não são mulheres entrando e se adaptando a esse mundo de homens, mas contribuindo e transformando esse mundo executivo. Não é um combate, é uma parceria.”
O mercado financeiro do futuro
Para alguém de qualquer gênero, estar à frente de um grande banco atualmente significa presenciar inovações tecnológicas que estão transformando a indústria, como inteligência artificial, em áreas que vão da escolha de ações a relacionamento com clientes.
A razão para a velocidade das mudanças é simples. “As inovações permitem que os bancos entreguem os mesmos serviços de forma mais eficiente”, diz Ferdane. “Todos os bancos estão enxergando esse desafio e essa oportunidade ao mesmo tempo.”
Ter conhecimento sobre tecnologias se tornará essencial para ter sucesso, assim como ser proativo e um bom colaborador. “Num mundo complexo, é perda de tempo querer saber tudo. É mais eficiente tentar saber tudo através da rede a qual você pretende e que potencializa o que você faz.”
Para quem quer começar no mercado financeiro, essa é uma boa notícia.
Segundo Ferdane, tais mudanças terão consequências para o perfil dos executivos, tanto em termos de habilidades quanto de comportamento, e pode facilitar a ascensão de jovens num futuro próximo, já que a troca de conhecimentos entre profissionais juniores e seniores será mais intensa e igualitária.
“O mundo está evoluindo nessa direção e não cabe ter medo, mas se capacitar para encarar esses desafios para fazer parte dessa transformação”, conclui ela. “Ser jovem no mundo hoje é fantástico.”
Inscreva-se no curso por e-mail: Como iniciar a carreira no mercado financeiro