O South by Southwest (SXSW) 2025, evento de mídia e tecnologia que acontece anualmente em Austin, Texas, continua sendo um farol de tendências para o futuro profissional, e as vozes dos participantes brasileiros ecoam aprendizados cruciais para quem busca se destacar.
Guilherme Paranhos e Lucas Marques, facilitadores do Na Prática,compareceram à última edição do evento e conversaram com a nossa reportagem sobre alguns aprendizados que tiveram no local. Os relatos oferecem uma visão multifacetada do SXSW 2025, com destaque para a Inteligência Artificial, a importância das interações informais e as transformações no cenário tecnológico global. Suas experiências e análises fornecem um panorama valioso para profissionais e entusiastas da inovação.
Inteligência Artificial
A Inteligência Artificial (IA) emergiu como um tema central nas discussões do SXSW, permeando diversos aspectos do futuro profissional e tecnológico. Guilherme enfatiza a presença da IA no dia a dia, afirmando que ela está presente em “todos os setores da economia e da sociedade”. Para ele, a postura dos profissionais deve evoluir do temor para a busca de formas de “trabalhar com ela” e “gerar mais valor por meio da IA”.
Lucas compartilha uma visão futurista sobre a evolução dessa tecnologia, mencionando uma conversa com uma especialista que apontou para a “conjunção de tecnologias” como o principal motor da inovação nos próximos anos. Essa combinação envolve a capacidade de análise de dados da IA, o desenvolvimento de sensores para captar mais informações do ambiente e a biotecnologia. A união desses campos pode levar ao que foi chamado de “living technology”, exemplificada pela ideia de “um computador quântico plugado em outro computador que é feito com neurônios produzidos em laboratório”. Essa perspectiva levanta questões éticas e utópicas sobre o potencial de máquinas com capacidades cognitivas e emocionais mais complexas.
Ainda no contexto da IA e suas implicações, Guilherme discute o impacto na criação de conteúdo e na importância da autenticidade. Em um ambiente de geração de conteúdo em larga escala, a capacidade de expressar uma identidade genuína se torna um diferencial crucial para pessoas e marcas. Ele argumenta que não é mais possível separar o profissional da pessoa, destacando que a autenticidade se tornou um diferencial valioso no mercado.
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A importância da conversa de corredor
Embora as palestras principais do SXSW 2025 ofereçam conteúdo relevante, tanto Lucas quanto Guilherme concordam que o verdadeiro valor do evento muitas vezes reside nas interações informais e nas “conversas de corredor”. Lucas observa que “boa parte do evento, as principais palestras e tudo mais não são coisas tão inacessíveis, muito do conteúdo pode ser encontrado online posteriormente”. Ele destaca que são as “pequenas nuances que você capta lá dentro que fazem a diferença”, como conversas com palestrantes após o evento, que podem gerar aprendizados significativos e até mesmo novas amizades e conexões profissionais.
Para quem tem vontade de conhecer o evento, Lucas aconselha a “não ficar palestreiro de plantão e assistir a várias palestras até cansar” e sim estar “ali circulando” para encontrar pessoas e oportunidades relevantes.
Ele conta sobre conexões valiosas feitas de forma inesperada, como conhecer executivos em eventos sociais ou puxar assunto com pessoas que falam português. A proatividade em buscar essas interações e saber ser o “protagonista e criar entradas também” é fundamental para um networking eficaz.
Guilherme também valoriza a troca de ideias e a capacidade de fazer perguntas relevantes em um cenário de incerteza. A habilidade de “entender os contextos e fazer as perguntas, para navegar em cima de todo esse cenário de incerteza” é mais crucial do que o mero domínio de ferramentas. Essas conversas informais podem proporcionar uma compreensão mais profunda dos desafios e oportunidades do mercado.
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Tecnologia e inovação global no SXSW 2025
A discussão sobre tecnologia no SXSW abrange desde a natureza combinatória da inovação até a redefinição da competição de mercado e a ascensão de novos polos globais. Lucas introduz o conceito do “caráter combinatório das inovações”, argumentando que “as próximas grandes sacadas da tecnologia, não vão ser grandes novas tecnologias, vão ser as conjunturas de tecnologias que já existem de uma forma convergente”. Essa ideia se conecta com a já mencionada fusão da IA com outras áreas, como biotecnologia e sensores.
Lucas oferece uma perspectiva interessante sobre a competição, ilustrando como a indústria do chiclete foi impactada pelo lançamento do iPhone. O problema que o chiclete resolvia (tédio) passou a ser atendido por outro produto, demonstrando que a competição se dá no nível da solução para o usuário, e não necessariamente entre produtos similares. Essa visão reforça a importância de focar no problema a ser resolvido em vez de se concentrar apenas nos requisitos de um projeto.
No âmbito do desenvolvimento de projetos e soluções, Lucas compartilha o aprendizado da “Mesa Company”, que propõe focar em dar uma missão clara em vez de criar um “project charter” excessivamente detalhado. Ao definir uma missão com os objetivos e restrições, mas deixando espaço para a equipe explorar soluções, promove-se a inovação e a diversificação de ideias.
Guilherme também ressalta a diversificação global da inovação, observando que “a gente tem polos muito fortes de inovação que vão muito além dos Estados Unidos e do Vale do Silício”. Ele encoraja os profissionais brasileiros a olharem para países como Índia, China e Coreia, que estão criando soluções para realidades distintas e com grande potencial de escala. Essa perspectiva desafia a visão de que a inovação se concentra apenas no “norte global” e abre novas oportunidades para profissionais com uma visão internacional e que valorizam seu contexto local.