A série Severance, disponível na Apple TV+, voltou às telinhas do streaming da maçãzinha em 17 de janeiro de 2024, após dois anos de hiato. A produção de ficção científica se passa em um cenário moderno e ao mesmo tempo retrô na qual os funcionários de uma empresa, a Lumon Industries, possuem suas memórias separadas entre o trabalho e a vida pessoal. O protagonista, Mark Scout, funcionário da empresa, se junta à sua equipe após perceber algumas pistas no ambiente e começam a investigar quem de fato eles são e o que fazem naquele escritório.
A série tem se destacado por provocar questões acerca das relações de trabalho corporativas contemporâneas, refletindo as tensões entre a vida pessoal e profissional. A repercussão e o sucesso foram tão significativos que a segunda temporada se tornou uma das produções televisivas mais caras da história: 20 milhões por episódio.
Mas, afinal, quais temas a série trata a respeito das relações de trabalho que tanto tem envolvido os espectadores? É esse o assunto que o Na Prática vai explorar hoje.
O equilíbrio nas relações de trabalho
A separação entre a vida pessoal e profissional é o cerne de Severance. Embora o mecanismo de ruptura apresentado na trama não seja viável na realidade, a série provoca uma reflexão profunda sobre a busca por um equilíbrio saudável entre essas duas facetas do nosso “eu”. Até que ponto devemos permitir que aspectos da vida pessoal influenciam nosso desempenho no trabalho? E como podemos maximizar a produtividade sem comprometer nosso bem-estar emocional?
Embora a desconexão das memórias pessoais possa, em algumas situações, parecer benéfica para a eficiência no ambiente corporativo, essa abordagem também levanta questões sérias. A perda de identidade e o afastamento de necessidades emocionais essenciais podem resultar em problemas graves, como o burnout. Quando deixamos de lado tarefas e relações que são tão importantes quanto o próprio trabalho, corremos o risco de comprometer nossa saúde mental e nossa satisfação na vida.
Propósito e motivação
Os personagens de Severance seguem rigorosamente um conjunto de regras inscritas em um manual elaborado pelo próprio dono da Lumon Industries. Em várias cenas, eles recitam essas diretrizes de memória, quase como se fossem mandamentos sagrados. Essa abordagem não apenas destaca a rigidez do ambiente corporativo, mas também serve como uma crítica ao propósito do trabalho dentro do escritório. Com a introdução de um livro externo, os personagens começam a questionar o significado de suas funções na Lumon, refletindo sobre como muitos trabalhadores se sentem desmotivados ou alienados em suas ocupações.
A série provoca o espectador a considerar seu propósito não apenas no trabalho, mas também na vida pessoal. Além disso, levanta questões sobre como os conceitos de Missão, Propósito e Valores são comunicados aos funcionários. É fundamental que esses princípios sejam mais do que apenas palavras decoradas; eles devem ressoar com a verdadeira importância do trabalho e sua conexão com a vida dos colaboradores. A série nos convida a refletir se estamos apenas seguindo uma rotina ou se realmente compreendemos e nos identificamos com o que fazemos diariamente.
Relações entre setores
Em Severance, as interações entre os diferentes setores da Lumon Industries revelam uma dinâmica complexa e muitas vezes tensa. A série ilustra como a falta de comunicação e a fragmentação das memórias podem criar barreiras entre as equipes, resultando em um ambiente de trabalho isolado e desconectado. Os personagens, que operam em silos, enfrentam dificuldades em entender o impacto de suas funções nas atividades dos colegas, o que leva a uma cultura organizacional marcada pela desconfiança e pelo medo.
Essa representação serve como uma crítica ao modelo corporativo atual, onde a colaboração muitas vezes é sacrificada em nome da eficiência. A série provoca uma reflexão sobre a importância de relações interdepartamentais saudáveis e da transparência nas comunicações. Quando os funcionários não têm uma visão clara do quadro geral, eles se tornam meros executores de tarefas, perdendo a conexão com os objetivos maiores da empresa e com o impacto de seu trabalho na sociedade. Assim, Severance nos convida a reconsiderar como as organizações podem promover um ambiente mais colaborativo e integrado, onde todos os colaboradores se sintam valorizados e parte de um propósito comum.