Quando começou a participar da gestão de um cursinho universitário popular, o catarinense André Servaes, 22, teve que aprender a lidar com muitos desafios. Da seleção de professores voluntários até a captação de recursos, o estudante de administração da UDESC (Universidade Estadual de Santa Catarina) percebeu que outros grupos também passavam por dificuldades parecidas. Foi aí que ele e mais alguns colegas tiveram a ideia de fundar uma rede nacional para fortalecer projetos que promovem o acesso ao ensino superior.
Das experiências à frente do Einstein Floripa, os jovens criaram a Brasil Cursinhos em 2016. “Queremos transformar a educação no país. Então vamos ajudar tanto os jovens de baixa renda que querem e merecem entrar no ensino superior, quanto os universitários voluntários que podem ser líderes capazes de mudar o país”, diz Servaes, que decidiu trocar a Engenharia pela Administração depois de experimentar o gerenciamento de um cursinho popular.
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Com uma equipe de 17 pessoas espalhadas pelo país, a rede apoia dez cursinhos universitários populares, que hoje somam mais de 700 voluntários e impactam cerca de 2500 estudantes. A ideia é oferecer mentorias e promover conexões para ajudar grupos a superarem uma série de desafios cotidianos, como gerenciamento financeiro e jurídico, organização de processos seletivos, seleção de voluntários e formação de professores.
Percebendo que são criados e também fechados cursinhos populares todos os anos, a rede usa algumas estratégias para ajudar entidades estudantis a melhorarem seus processos. Entre elas, as principais são organizar simulados e pesquisas nacionais para identificar resultados, dificuldades ou boas práticas, oferecer mentorias para os grupos e promover um encontro nacional. “Também estamos começando a escrever materiais e conteúdos para ajudar os cursinhos”, complementa o universitário.
O valor da educação
Diferente dos cursinhos tradicionais, com foco totalmente voltado para aprovação no vestibular, Servaes diz que os integrantes da rede trabalham com propostas mais conectadas ao universo dos estudantes. “Quem está dando aula são os universitários, e isso traz uma possibilidade muito grande”, diz o jovem, ao mencionar que os professores voluntários estabelecem uma relação mais próxima com os adolescentes.
Se por um lado a iniciativa tem impacto no acesso de estudantes ao ensino superior, por outro, ele também aponta que ela muda a relação dos próprios voluntários com a educação. “O que a gente vê, cada vez mais, é que os voluntários levam [adiante] o valor da educação, independente da carreira que decidem seguir”, observa o catarinense.
Na sua experiência pessoal com a educação, jovem conta que começou a se engajar com a causa depois de perceber que para reduzir impactos ambientais também era preciso transformar o campo educacional. “Eu velejava bastante e acabei participando de grandes campeonatos por muitos mares. Em 14 anos, pude perceber o impacto da atividade humana no ambiente. Até que teve uma hora que eu me machuquei e quis fazer alguma coisa para ajudar a diminuir a poluição e a degradação”, lembra.
Atualmente, a Brasil Cursinhos se mantém por doações de pessoas físicas e empresas interessadas em fortalecer a manutenção e a criação de cursinhos universitários populares de todo país. Como próximas ações, o grupo de jovens está organizando em encontro presencial de toda a rede de voluntários, que deve acontecer em São Paulo, no mês de setembro.
Artigo originalmente publicado em Porvir.org
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