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A carreira em petróleo continua promissora? Veja como Lava Jato e mudanças climáticas impactam essa indústria

Em 2015, o Brasil subiu uma posição em um ranking importante. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Petróleo, o país se tornou o 12º maior produtor de petróleo do mundo, produzindo cerca de 2,5 milhões de barris por dia.

A expectativa da indústria de óleo e gás nacional, conduzida pela estatal Petrobras, é que a produção aumente significativamente com a exploração do pré-sal, mas a história não é tão simples.

O futuro deve envolver novas regras para combater mudanças climáticas (pense em taxas por emissão de carbono, por exemplo), reservas cada vez mais difíceis de alcançar e uma competição mais acirrada tanto entre petrolíferas quanto com outras fontes de energia, como a energia solar. Soma-se a isso as expectativas de preços menores por barril, situação que pode ser explicada pela tradicional lei da oferta e demanda – uma situação internacional complexa faz com que, hoje, a oferta de petróleo no mercado supere amplamente o consumo previsto. 

“O boom de gás de xisto nos EUA e o Acordo de Paris mudaram a perspectiva de futuro da indústria de óleo e gás”, escreveu o Fórum Econômico Mundial em um relatório recente. “Num cenário em que o uso de combustíveis fósseis é restrito para limitar o aquecimento global a 2°C, o consumo de petróleo pode ser relativamente estável mas certamente não expandirá na mesma medida que as expectativas existentes do tipo business as usual.”

Commodity estratégica

Embora esteja rumando para um cenário delicado, o petróleo – hoje responsável por 32.9% do consumo global de energia e por 47% do consumo brasileiro – continuará sendo fundamental para a sociedade moderna e uma carreira promissora, com bons retornos e possibilidades de crescimento.

“Ainda é uma commodity estratégica e o pré-sal tem demonstrado altos níveis de produtividade, o que representa uma variável chave no interesse de exploração e produção petrolífera“, explicam Robson Dias da Silva e Manuel Victor Martins de Matos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autores de um artigo recente sobre a influência econômica do petróleo no Rio de Janeiro.

Para eles, o pré-sal deve movimentar esse mercado. “A disputa pelo market share no mercado internacional e os problemas financeiros das petrolíferas internacionais fazem com que estas busquem ativos com menor risco e maior produtividade, caso do pré-sal brasileiro”, continuam.

Leia também: Como é trabalhar com investimentos no BNDES, um dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo

Mas explorar bacias marítimas é uma tarefa complexa e extremamente cara (o pré-sal, por exemplo, fica a pelo menos 5 mil metros de profundidade). No Brasil, ela é custeada em sua maioria pela Petrobras, que vive a maior crise de sua história.

Portanto, quando a Agência Nacional de Petróleo (ANP) recebeu autorização do governo para estudar uma nova rodada de licitação de blocos em 2017, o mercado se animou. São as licitações que, através de leilões do governo, permitem que outras empresas disputem o direito de explorar ou produzir petróleo e gás natural no Brasil. Até 1997, essa atividade era monopólio do Estado e da Petrobras, porém desde então diversas outras petrolíferas vem atuando no país, como Shell, ExxonMobil, Chevron, e outras menores.

A rodada deve acontecer já dentro de um novo cenário. Em 29 de novembro, o presidente Michel Temer sancionou uma nova lei que desobriga a Petrobras a participar de todos os consórcios de exploração do pré-sal brasileiro, abrindo em definitivo a oportunidade para investimentos estrangeiros.

“Esse projeto reativa o setor do petróleo e gás e dá um novo impulso”, defendeu Temer em uma coletiva de imprensa. A partir de agora, a estatal escolhe se participa ou não dos leilões e tem prioridade caso demonstre interesse em algum.

Crise e recuperação

Em 2016, é impossível falar sobre a Petrobras sem lembrar do escândalo bilionário de corrupção ao seu redor, investigado na Operação Lava Jato, que teve (e tem) uma série de consequências financeiras graves para a empresa e para o país.

Criada em 1953 por Getúlio Vargas, a Petrobras chegou a ser a segunda maior empresa do continente americano em valor de mercado, e a quinta maior do mundo. Representava, sozinha, mais de 10% do PIB do país. Isso foi no final da década de 2010, em um cenário impulsionado pelo otimismo decorrente do pré-sal.

Nos próximos cinco anos, a empresa veria seu valor ir da casa dos 300 bilhões para 100 bilhões de dólares, numa queda causada tanto pela crise interna enfrentada pela organização quando pela queda no preço do barril.

De todo fracasso, no entanto, é possível extrair aprendizados. “Talvez o maior legado dessa crise seja a reflexão sobre o papel central da indústria de petróleo para a economia brasileira, e acreditamos que a governança tende a melhorar com novas práticas de gestão”, dizem Robson e Manuel, que também destacam o aspecto positivo da maturidade das instituições públicas que investigam o caso.

Mesmo com os reveses apontados acima e uma dívida milionária, é preciso reconhecer que a empresa continua uma gigante. Tem, atualmente, 13 refinarias, com capacidade para processar 2,1 milhões de barris de petróleo por dia, o que faz dela a quarta maior companhia de petróleo e gás do continente. Em valor de mercado, é a segunda maior empresa do Brasil, segundo a Forbes. Cresceu 90% de 2015 (ápice da crise) para este ano, e criou também mecanismos internos de compliance e governança para evitar novas irregularidades e recuperar o prestígio no mercado.

Ainda que o setor atualmente esteja passando por uma ‘tempestade’, é preciso lembrar que sua dinâmica de investimentos e empregos tem lógica e perspectiva de longo prazo”, falam eles. “Seja qual for o modelo adotado [pela Petrobras], mais ‘nacionalista’ ou ‘liberal’, as expectativas de aumento da produção indicam uma necessária ampliação do investimento – em produção, logística, pesquisa e desenvolvimento – que terá fortes efeitos sobre o mercado de trabalho brasileiro, especialmente no segmento de técnicos especializados.” 

Rafael Oliveira dos Santos, Gabriel Gariglio e Matheus Eduardo Martins, todos ex-bolsistas da Fundação Estudar e engenheiros por formação, representam facetas dessa indústria diversa e compartilharam com o Na Prática o que pensam sobre o futuro profissional.

Petróleo e o setor privado

Engenheiro de petróleo pela Escola Politécnica da USP, Rafael decidiu seu rumo ainda na universidade. “Conclui que teria mais chances de ser parte importante de grandes projetos nessa área”, lembra. “Meu interesse aumentou ao notar como essa indústria está literalmente na base de toda a civilização atual ao ser capaz de fornecer energia, no sentindo mais amplo do termo, a baixo custo.”

Em 2012, quando terminava o curso, passou no processo seletivo para engenheiros de perfuração da Shell Brasil e começou no ano seguinte. Após uma temporada trabalhando em plataformas nos Países Baixos, voltou ao Brasil para atuar como engenheiro de poços no Rio de Janeiro, onde analisa e valida operações de parceiros nos campos de pré-sal.

“Estive em operações em alto mar com 156 pessoas a bordo lidando com tarefas de alto risco e custando literalmente milhões de reais por dia e também na área estratégica da companhia, acompanhando como diretores decidem se alocam ou não um ou 2 bilhões de dólares em um projeto”, conta. “Isso tudo muda muito a maneira como se lida com o dia a dia.”

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Atento às mudanças sociais, ambientais e políticas que cercam sua indústria, Rafael acredita que sua geração terá menos tempo para se adaptar às responsabilidades que a anterior. “Vejo uma passagem cada vez mais abrupta de responsabilidade”, diz. “Há ainda a questão de países pobres que precisarão de energia barata para poder melhorar seu padrão de vida – e uma corrida para tentar tornar isso possível usando energias de fontes renováveis.”

Para ele, a Shell, que também está envolvida com gás natural e energia eólica, estará entre as empresas capazes de encarar os desafios. “Ela já possui uma estrutura global e um conhecimento organizacional suficientemente grandes”, conta. Trata-se, afinal de contas, da quinta maior empresa do mundo, segundo levantamento da Forbes. “Por via das dúvidas, planejo minha vida para ser sempre alguém com atributos desejáveis em qualquer ambiente e que lide bem com incertezas.”

Petróleo e o setor público

Não há lugar mais importante (ou disputado) na indústria de óleo e gás nacional que a Petrobras, onde Matheus e Gabriel trabalham desde 2008 e 2014, respectivamente.

No ranking da consultoria Universum sobre as empresas mais desejadas pelos estudantes de engenharia brasileiros, a Petrobras aparece invicta em primeiro lugar há anos. Caiu em pontos percentuais desde que a Operção Lava Jato foi deflagrada, mas não o suficiente para ser desbancada por nenhuma outra empresa.    

Engenheiro ambiental pela USP São Carlos e hoje engenheiro planejador da Petrobras Distribuidora em Porto Alegre, Matheus faz o gerenciamento ambiental das redes de postos de combustíveis, bases de distribuição e clientes consumidores no Sul do país.

Na prática, lida com algumas das consequências ambientais da exploração de petróleo, como fazer gestão de resíduos, monitorar e remediar emergências químicas e áreas contaminadas com hidrocarbonetos e cuidar de licenciamentos e consultorias ambientais em geral.

Para ele, a queda do preço por barril esperada para os próximos anos significa que as empresas precisarão se tornar mais eficientes e competitivas – e os engenheiros ambientais ganharão destaque, assim como quem inovar para criar materiais, técnicas, processos e cadeias logísticas menos poluentes.

“Nesse contexto, a prevenção de passivos e acidentes ambientais, a sustentabilidade corporativa e a responsabilidade socioambiental ganham importância e o foco muda da mitigação para a prevenção de impactos”, fala. “Aspectos de segurança, meio ambiente e saúde serão cada vez mais reforçados e novas oportunidades serão criadas para profissionais da área.”

Já Gabriel, engenheiro de petróleo no Rio de Janeiro, trabalha em uma gerência que coordena a aprovação e implementação de projetos. Na rotina estão reuniões com outras gerências e a elaboração de estudos de viabilidade técnica e econômica, sempre em busca do melhor retorno para a empresa.

Ele concorda com o colega sobre a necessidade geral de buscar eficiência. “Vi a importância do treinamento contínuo numa indústria de tecnologia de ponta, que precisa se modernizar para permanecer competitiva”, fala. “A competitividade se mostrou ainda mais importante com a queda do preço do petróleo, que nos obrigou a correr atrás da redução de custos.”

Sua aposta é que parte dessa modernização virá da necessidade de reduzir os custos de exploração de pré sal, ainda muito altos, uma mudança útil também para campos maduros, como são conhecidos aqueles com menor produtividade e reserva recuperáveis já bastante exploradas. “Concentraremos esforços para aproveitar melhor e buscar o óleo não drenado nesses campos aplicando novas tecnologias”, conta.

O futuro da indústria e da carreira, Gabriel vê com otimismo. Acredita que as empresas do setor irão se tornar mais abrangentes ao focar em fontes energéticas alternativas e que a crise da Petrobras abriu caminho para um futuro corporativo melhor.

“A companhia está passando por uma reestruturação e acredito que, após esse processo, abrirá concursos com regularidade para alimentar o fluxo natural de renovação dos empregados”, diz ele, destacando que a área de compliance da empresa cresceu e houve um programa de incentivo à demissão voluntária que atraiu muitos profissionais em fim de carreira.

“É um excelente momento para contribuir com seu reerguimento, trazendo novas ideias e demonstrando seu comprometimento e capacidade de inovação”, conclui.

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Lideranças transformadoras

No começo desse ano, um grupo de pesquisadores da UFRJ publicou um artigo sobre o papel dos líderes na atual indústria de petróleo e gás do país – uma indústria em intensa transformação. “O futuro próximo e como será a evolução desse mercado é nebuloso”, escreveram. “O líder tem papel fundamental nesse contexto, pois ele passa a ser um direcionador para a gestão de mudanças e pessoas, e não simplesmente para as metas”.

“A indústria do petróleo passa por um período de crise e mudança, que está transformando toda sua cadeia produtiva e não tem previsão de término”, resumem os pesquisadores. Nessa conjectura, a liderança tem papel fundamental para manter as corporações no caminho certo, sendo capaz não só de propor mudanças mas também de engajar todo o time em realizá-las.

Segundo o artigo, esse líder precisará demonstrar ao time que a organização está se movimentando para reagir e, ao mesmo tempo, dar liberdade para que as equipes possam trabalhar com criatividade e ajudar nas soluções dos problemas. No final das contas, tudo se resume a uma palavra: pessoas. E, para quem busca desafios do tipo, a  indústria de petróleo é um prato cheio.

 

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