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Engenheiro explica porque decidiu começar sua carreira na educação pública

Durante o último ano da faculdade, o engenheiro de produção Guilherme Desiderio teve uma sensação familiar para muitos: uma ansiedade que crescia a cada dia que buscava um caminho que combinasse com ele.

Por acaso, recebeu um e-mail sobre o primeiro processo seletivo do Ensina Brasil, organização que oferece, desde 2016, um programa de desenvolvimento de lideranças e quer transformar a educação brasileira. 

As inscrições para a segunda turma estão abertas até 25/09 e jovens formados em qualquer área podem participar. As inscrições podem ser realizadas por aqui!

O primeiro passo para que os “ensinas”, como são chamados os participantes, tenham impacto e afinem suas habilidades de liderança é colocar a mão na massa e trabalhar como professores em escolas públicas durante dois anos.

Alocado em Cuiabá, Guilherme dá aulas de matemática em uma escola pública há seis meses e encontrou na oportunidade um jeito de aliar sua vontade de fazer a diferença no país com desenvolvimento profissional.

“Para mudar a educação, é preciso conhecer a fundo as escolas e a importância do professor na vida e no futuro de seus alunos”, explica Guilherme sobre seus motivos.

No relato abaixo, ele fala sobre a incerteza da época universitária, a escolha difícil que fez ao apostar em um projeto novo e o que a experiência tem lhe rendido em termos profissionais e pessoais. 

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Como encontrei um trabalho com propósito na educação pública

Se me dissessem em 2016 que hoje eu estaria morando em Cuiabá e faria uma imersão numa escola pública, eu não acreditaria.

Nasci em Ribeirão Preto e fiz graduação em Engenharia de Produção na Universidade de São Paulo (USP São Carlos).

Desde o início de 2017, sou um dos 54 profissionais que integram a primeira turma de “ensinas” do país.

Para quem não conhece, o Ensina Brasil visa desenvolver uma rede de lideranças para a educação e seleciona jovens talentos de diversas carreiras para atuarem por dois anos como professores da rede pública, em escolas de contexto vulnerável. Eu, por exemplo, sou professor de matemática do Ensino Fundamental II em Mato Grosso. 

No meu caso, tudo começou em 2013, ainda na faculdade. Ao longo do curso, me envolvi em diversas atividades extracurriculares, incluindo a presidência do Centro Acadêmico do campus (o CAASO).

Além das funções cotidianas de um centro acadêmico, o CAASO é mantenedor de uma escola de ensino médio e cursinho pré-vestibular para pessoas de baixa renda de São Carlos. Envolvi-me muito com o colégio e me entusiasmava com a transformação que a educação promovia nos alunos, professores e funcionários.

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Essa experiência e as tantas histórias que meu avô contava dos tempos em que era diretor de uma escola estadual em Sertãozinho, no interior de São Paulo, fizeram crescer meu desejo de trabalhar por um propósito. 

O que eu não sabia ainda era como (e nem o que) eu faria.

Em busca de impacto social

A chance de trabalhar com algo que tivesse impacto social não veio logo.

À medida que o tempo passava no último ano de graduação e as inscrições para os processos seletivos de trainee se aproximavam, mais ansioso eu ficava.

Não me via feliz em nenhum daqueles anúncios de trainee e não enxergava como eu, então futuro engenheiro, poderia usar meus conhecimentos para “fazer a diferença”.

Eu queria algo que conseguisse unir impacto social com desenvolvimento pessoal e profissional – e as oportunidades que surgiam ofereciam uma coisa ou outra.

Foi então que recebi um e-mail que anunciava o início do processo seletivo para a primeira turma do Ensina Brasil. A mensagem convidava jovens a botar a mão na massa e ajudar a transformar a educação do país.

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Meus olhos brilharam e fui direto pesquisar mais sobre o programa e me inscrever.

Eu acreditava que, se um dia fosse trabalhar com educação, era fundamental conhecer a realidade da sala de aula e os desafios que o professor enfrenta diariamente.

A cada etapa em que eu era aprovado, aumentava tanto minha empolgação quanto a insegurança de fazer parte de um programa que estava ainda começando.

Guilherme Siderio, do Ensina Brasil, dá aula de matemática em uma escola pública brasileira[Guilherme em sala / Foto: Ensina Brasil]

Quando fui selecionado, veio a parte mais difícil: aceitar ou não fazer parte desse desafio?

Apesar de o Ensina Brasil fazer parte da rede Teach for All, que tem organizações de mais de 40 países, não havia referência no Brasil nem uma turma anterior que desse um testemunho da experiência. Além disso, teria que me mudar para Cuiabá e moraria longe da família e dos amigos. 

Entretanto, no fundo, eu sabia que não me arrependeria de fazer parte dessa história.

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A preparação do Ensina Brasil

Durante o mês de janeiro, passamos pela formação inicial do programa, que é presencial.

Entre os muitos temas abordados, discutimos o cenário da educação brasileira, gestão de sala de aula e planejamento escolar, liderança e corresponsabilidade.

Também tivemos conversas com pessoas engajadas em transformações, como Tiago Mitraud, CEO da Fundação Estudar, Tábata Amaral, co-fundadora do Mapa Educação, Denis Mizne, CEO da Fundação Lemann e Wilson Risolia, ex-Secretário de Educação do Rio de Janeiro e atual CEO da Consultoria Falconi.

Para termos experiências práticas, demos aulas de reforço para alunos de escolas públicas da grande São Paulo.

Mesmo com essa sólida preparação, eu sabia que entrar em sala de aula pela primeira vez como professor de matemática seria totalmente único e diferente.

Em sala de aula

As primeiras semanas foram um bombardeio de informações e emoções – tudo é novidade.

Não há como negar que os desafios iniciais existem: qual a melhor forma de trabalhar um conteúdo pela primeira vez? Como lidar com os diferentes níveis de aprendizagem de uma turma? Como cumprir todo o currículo em um calendário apertado, sendo que os alunos não conheciam muitos dos requisitos de anos anteriores?

Aos poucos, essas e outras questões foram sendo superadas, muito com o apoio dos educadores e profissionais da própria escola e da rede do Ensina Brasil.

Pensando hoje sobre o Guilherme do ano passado e o desse ano, vejo o quanto mudei com essa experiência como “ensina”.

Nesses seis meses, comecei a compreender melhor a dimensão da palavra vulnerabilidade.

Tenho muitos alunos que são carentes de recursos financeiros, de oportunidades e até de afeto. Há histórias muito difíceis e quase inimagináveis.

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Tenho alunos que chegam no sexto ano com uma defasagem muito forte, mas é incrível os avanços que acontecem só por eu ficar uma hora a mais depois das aulas ajudando cada um individualmente.

E ser professor também é ser aluno. Aprendi a enxergar cada um com um olhar mais humano. Vejo diferença que faz um sorriso e perguntar se está tudo bem.

Os alunos são todos guerreiros com um potencial imenso e nós temos o dever, enquanto educadores, de encorajá-los a voarem alto.

Desafios e resiliência

É importante reconhecer também a maratona que é ser professor, um trabalho que vai além do horário comercial. Essa imensa responsabilidade que é mediar o aprendizado certamente deveria ser mais reconhecida e valorizada.

E não são poucos os obstáculos que temos que enfrentar diariamente, como burocracias, falta de recursos financeiros, disputas de poder internas e falhas de comunicação com as instituições do sistema.

A primeira turma do Ensina Brasil[A primeira turma do Ensina Brasil / Foto: Divulgação]

Pensando em meu autodesenvolvimento, percebo que a resiliência e a persistência nunca estiveram tão presentes na minha rotina.Também vivencio de fato a complexidade dos desafios da educação.

Descobri que não há uma solução única, pelo contrário: precisamos de muita gente boa atuando em diversas frentes para garantir educação de qualidade a todos. 

Hoje sei que eu e meus colegas “ensinas” teremos o desafio de ajudar nossas comunidades e professores a terem voz na busca por uma educação melhor no país.

Tanto pelos momentos incríveis quanto pelos momentos difíceis, sei que participar do Ensina Brasil foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado no começo da minha carreira.

Por isso, faço um convite para todos que querem fazer a diferença na vida de muitas pessoas: conheçam mais sobre o Ensina Brasil e inscrevam-se no processo seletivoVai ser um prazer fazer parte dessa rede junto com você.

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