Marcelo Milanello é coordenador do Centro de Informações Educacionais da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. O título é grande, mas a função é bastante moderna: melhorar a tomada de decisões do poder público ao baseá-la crescentemente em análise de dados.
Dados, de fato, não faltam. Em São Paulo, uma cidade de 12 milhões de habitantes, a rede municipal de educação é utilizada por cerca de 1 milhão de alunos e milhares de educadores e servidores em escolas, centros educacionais e creches, entre outros serviços.
É o tipo de desafio que incentiva Marcelo. Formado em Administração Pública pela Fundação Getulio Vargas, ele começou sua carreira trabalhando em uma consultoria estratégica para afinar seu conhecimento ferramental.
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Três anos depois, dedicou-se aos estudos e conseguiu fazer o salto que queria: ingressar no serviço público, mais especificamente na carreira de especialista em política pública e gestão governamental.
Em 2008, fez as malas e se mudou de São Paulo para Brasília, onde passou por um curso de formação de seis meses antes de ser alocado em seu primeiro cargo público, no Ministério da Casa Civil, onde onde monitorou o Programa de Aceleração do Crescimento.
Em 2011, mudou para a área de políticas sociais do Ministério do Movimento Social, onde ajudou a estruturar a governança do plano Brasil Sem Miséria e a formular o programa Brasil Carinhoso, voltado para a primeira infância. “Eu acompanhava um e dirigia o outro. Foi uma experiência dupla intensa”, lembra.
Em 2014, sentindo que precisava aprender mais sobre análise de dados e como utilizá-los em processo decisórios, viajou para os EUA e cursou seu mestrado em políticas públicas na University of California, Berkeley, com bolsas de estudos da Fundação Estudar e da Fundação Lemann.
Voltou com uma formação em análise quantitativa que atraiu a Secretaria de Educação da Prefeitura de São Paulo (na carreira de Marcelo, há a possibilidade de ser cedido a outro nível governamental), onde atua como coordenador do centro de informações educacionais desde janeiro de 2017.
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A experiência em São Paulo
Muito do dia a dia envolve análise quantitativa – uma habilidade cada vez mais fundamental, em sua opinião – e monitoramento de informações que incluem frequência de alunos, operação de matrículas e disponibilidade de vagas, entre outros, além da gestão de uma equipe de 16 pessoas.
“Tudo que falamos está na casa dos milhões”, explica. “A escala de impacto é muito bacana: uma melhoria pontual no processo de matrícula pode impactar 75 mil professores e um milhão de alunos. Isso é determinante para o futuro dessas crianças.”
É um impacto que ele consegue ver na ponta, em visitas a escolas e diretorias regionais – “Se caiu o muro de uma escola, isso afeta meu dia”, resume – e que discute com pesquisadores, professores, fundações e startups, ampliando e modernizando as possibilidades de programas e políticas públicas.
Prestes a encerrar seu trabalho em São Paulo no fim de 2017, Marcelo já consegue enxergar efeitos das mudanças que ajudou a implementar, principalmente ferramentas business intelligence que incrementaram o uso de dados para tomadas de decisão locais.
Após descobrir quais eram as perguntas mais estratégicas para a rede de educação municipal, sua equipe criou modelagens de dados, desenhou informações e indicadores e se dedicou à engenharia de dados, uma etapa atualmente em fase de finalização, para oferecer essas informações visualmente de diversas maneiras.
Em breve, será possível utilizá-las em paineis interativos e sumários executivos, alguns deles também abertos para uso público e todos atualizados diariamente. “É algo que vai contribuir para dentro e para forma”, afirma.
Entre os desafios que poderão ser melhor enfrentados com as novas ferramentas (muitas delas tecnologias de open source, instaladas rapidamente e sem custos adicionais) estão evasão escolar, absenteísmo docente, transparência e alocação de professores.
Exemplos de inovações
Um exemplo prático dessas inovações foi a implementação da iniciativa Pátio Digital, feita em parceria com a Fundação Lemann e com a UNESCO.
O objetivo é promover um espaço de colaboração entre governo, academia, sociedade civil e setor privado para melhorar os processos municipais em diversas frentes, do acesso aberto a dados ao fortalecimento de mecanismos de controle, meetups e criação de novos aplicativos e serviços digitais.
Um dos resultados desse novo ambiente colaborativo foi o Prato Aberto, um aplicativo recém-lançado que permite que se monitore a qualidade da merenda escolar e que surgiu em um desafio aberto.
Agora é possível consultar facilmente os cardápios de cada unidade escolar e acompanhar a alimentação das crianças, composta por mais de dois milhões de refeições diárias. A expectativa é agregar mais serviços ao robô interativo em breve, como avisos de transporte escolar e frequência.
Do lado de dentro da secretaria, o uso de dados também rendeu mudanças. “É uma inovação de processo”, fala Marcelo. “O que antes era feito de maneira manual, com atualização mensal, está automatizado com atualização diária. Isso melhora muito a tomada de decisão.”
[Jovem participa de atividade no Pátio Digital, em São Paulo / Foto: Prefeitura de São Paulo]
As motivações de uma carreira no setor público
Empolgado desde muito jovem com as possibilidades profissionais da gestão pública, Marcelo viu suas expectativas se concretizarem em mais prós do que contras.
“É um trabalho que tem uma motivação quase intrínseca – você dificilmente tem alguma crise de consciência – e organizações duradouras, que permitem que a gente estruture o trabalho de maneira que tenha continuidade”, fala sobre sua escolha de carreira.
Do outro lado, confessa, há uma dificuldade para realizar coisas que está enraizada nas burocracias de um órgão público.
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Para inovar de maneira sustável e ultrapassar essa barreira, Marcelo aprendeu que precisa envolver também as pessoas mais experientes, que têm uma expertise valiosa e know how sobre os meandros da gestão, além de ter uma dose de paciência.
“Ao mesmo tempo que inovações podem sofrer resistência no início, a implementação de novas políticas e processos acaba tendo maior chance de ser sustentável. Uma vez que a equipe está envolvida num projeto inovador, a chance de sucesso cresce”, explica.
“Agora, o maior mito é que o setor público não funciona”, afirma. “Os processos são mais demorados mesmo, mas é preciso entender quais são e quais são os processos alternativos. É o que diferencia uma gestão boa de uma ruim.”
Pensando no futuro do setor público e nos jovens que vêem ali uma carreira – Marcelo menciona iniciativas como Vetor Brasil, que aloca trainees em órgãos públicos, e o programa de formação de lideranças públicas ProLíder –, ele é otimista.
“Encontro cabeças novas inovando e fazendo coisas diferentes em todos os lugares, o que é muito legal. Se tiver muita gente boa com boas ideias na máquina, ela tem mais chances de dar certo”, finaliza.
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