“Esse ano está sendo e vai continuar o ano da tecnologia da educação”, defende o estudante de engenharia Alisson Bezerra, que atualmente trabalha com esse tema. “A área de tecnologia aplicada à educação tem sido alvo de muita pesquisa e discussão no Brasil e no mundo, precisa de muita gente boa e é um ótimo setor de atuação para quem quer impactar a sociedade”, acrescenta.
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O estudante passou grande parte de sua vida em Fortaleza, apesar de sua cidade natal ser Rio Negro, no Paraná. Saiu de lá para cursar Engenharia da Computação no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), em São José dos Campos – a capital cearense, a quase três mil quilômetros de distância, é responsável por cerca de um terço dos alunos aprovados no instituto todo ano.
Quando surgiu a possibilidade de realizar um summer job, que funciona como um estágio de verão durante as férias da faculdade, Alisson escolheu uma empresa em Fortaleza: o Sistema Ari de Sá (SAS), que licencia metodologia de ensino própria para escolas de ensino fundamental e médio. “Logo de cara eu me identifiquei muito com aquele ambiente, gostei da cultura e da equipe, que é muito jovem”, conta Alisson.
No ano seguinte, realizou um intercâmbio na Universidade Cornell, nos Estados Unidos. Lá, procurou uma grade curricular menos tradicional que a do ITA, e estudou áreas relacionadas a pesquisa de ponta e inovação. De volta ao Brasil, retomou o vínculo com SAS, mas dessa vez envolvido em um projeto mais ousado: montar um laboratório de inovação para a empresa, nas imediações do ITA, focado no uso de tecnologia para o setor educacional.
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“A ideia surgiu inspirada no caso de uma outra empresa com que tínhamos contato e que tem um escritório no Vale do Silício. Eles falaram que esse modelo dá muito certo e as pessoas realmente pensam muito fora da caixa”, explica Alisson, mencionando o famoso polo de tecnologia nos Estados Unidos, e que também fica próximo à Universidade Carnegie Mellon, Stanford e Universidade da California em Berkeley, entre outras.
“Enquanto pesquisávamos sobre o assunto, descobrimos várias outras empresas que levaram escritórios para esses polos tecnológicos próximos a grandes faculdades, para facilitar a proximidade com gente boa e também para estar em um local que respira tecnologia”, ele complementa. No Brasil, temos o exemplo do laboratório de pesquisa e desenvolvimento do Google em Belo Horizonte, próximo à Universidade Federal de Minas Gerais, e os tecnopolos de Campinas e São Carlos.
Assim nascia o SAS Labs, um centro de inovação educacional com o objetivo de desenvolver tecnologias para identificar deficiências no aprendizado e melhorar o resultado dos alunos em sala de aula. “Esse projeto irá desenvolver novos talentos, além de criar tecnologias voltadas para soluções educacionais. Nós queremos ter métodos pedagógicos modernos, colaborando com o desenvolvimento e engajamento do aluno ao longo do seu aprendizado”, afirma Bruno Veras, gerente de Operações Internas do Sistema Ari de Sá e responsável pelo laboratório.
Em outubro de 2014, a equipe começou a ser recrutada. Hoje são quatro pessoas no total – todas do ITA, apesar deste não ser um requisito para a contratação. “A principal coisa que buscamos é aquele brilho no olho, e o interesse e gosto pela área de educação”, explica Alisson, acrescentando que a expectativa é expandir a equipe nos próximos meses.
Ele próprio sempre foi um entusiasta da área da educação: durante três anos atuou como professor voluntário no cursinho comunitário CASD Vestibulares, organizado pelos alunos do ITA e do qual chegou inclusive a ser diretor. “Foi muito bom quando eu percebi que dava para casar atuação profissional com educação”, ele revela.
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No SAS Labs, o foco está em grandes e novas tecnologias voltadas para educação. “A gente busca várias formas diferentes de inserir tecnologia no meio educacional, e também de medir o impacto de cada uma dessas novas tecnologias sobre o aluno”, explica Alisson.
Segundo ele, os projetos realizados no laboratório são bem diferentes daqueles desenvolvidos pela equipe de tecnologia de informação da sede, em Fortaleza. A proposta, no caso, é surgir sempre com novas ideias e novos projetos, mas também validar tecnologias que já existem e tentar trazê-las para a empresa.
É importante, por exemplo, estar sempre ligado nas notícias sobre educação e inovação. “Sempre que sai notícia sobre alguma tecnologia nova, alguém testando tablet em sala de aula, sala de aula invertida [em que os alunos sentam em grupos], a gente procura ler e estudar sobre o assunto, ver o que a gente pode tirar de legal disso e trazer para o Sistema Ari de Sá”, ele conta, acrescentando que o sistema hoje conta com mais de 400 escolas conveniadas e de realidades sociais e geográficas bastante diferentes.
“Uma coisa que é bem legal é que nos sentimos como se estivéssemos em uma startup, e às vezes temos algumas ideias até absurdas”, ele conta. “A gente tem projetos bem fora da caixa mesmo, pensando exclusivamente em tecnologia focada em educação, é isso que a gente respira todo dia”, ele comenta, animado.
No entanto, faz questão de lembrar que é um trabalho bastante sério: “Temos muita liberdade mas também muita responsabilidade” – é preciso colocar a mão na massa, já que a sede em Fortaleza está sempre cobrando resultados.
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