O carioca Eduardo Pádua graduou-se em ciências sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e, ainda durante a faculdade, interessou-se pelo tema da educação, pesquisando desigualdades na área em sua iniciação científica.
Ainda antes de se formar, ingressou no MBA da UFRJ sobre responsabilidade social corporativa e foi trabalhar no terceiro setor, em projetos envolvendo tecnologia e educação. Seu mestrado, concluído em 2007, tratava de parcerias público-privadas em educação.
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Nesse tempo, acreditava que atuar em causas sociais via iniciativa privada era um bom caminho para transformar a realidade do país. Aos poucos, entendeu que, embora as empresas estejam criando a cultura da ação social, não têm a escala necessária para sanar problemas do tamanho que o Brasil apresenta.
Mais adiante, buscando outros caminhos para o seu propósito de gerar impacto, passou pelo escritório da UNICEF em Madri e pela UNESCO, onde prestou consultoria para o Ministério de Educação, em Brasília. Nas duas experiências, frustrou-se com a lentidão dos processos e a dificuldade de visualizar resultados, pela própria natureza das instituições – distantes da ponta, onde os problemas de fato acontecem.
Eduardo Pádua [acervo pessoal]
Carreira Pública Em 2010, encontrou-se. Ingressou na Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro para gerenciar um projeto que buscava dobrar o número de vagas em creches da cidade, criando 30 mil novas matrículas em três anos.
Nesse primeiro projeto, Eduardo tinha a responsabilidade de gerir um investimento de R$300 milhões e de decidir onde criar as vagas nas creches já existentes e em 128 novas unidades construídas. Tudo isso amparado por uma metodologia objetiva, que reunia um estudo de demanda, a priorização de áreas mais vulneráveis, dentre outros critérios. “Um desafio muito grande”, comenta.
Depois de chegar a quase 29.000 novas vagas, em 2013, Eduardo foi convidado a assumir outro projeto na secretaria. Atualmente, dedica-se à missão de planejar e implantar o turno único, de 7 horas diárias, nas escolas da rede municipal da cidade – atualmente, apenas 20% estão nessa situação. A meta é chegar a 100% em 2020.
Nesse projeto, tudo é superlativo: são 650.000 alunos envolvidos, 42.000 professores, 1.500 escolas e um investimento da ordem de R$1,8 bilhão, dedicado à construção de 136 novas unidades educacionais necessárias ao cumprimento da meta do ano que vem. “É muito dinheiro. Tem que saber usar bem. A educação no Brasil tem um problema grave de gestão”, diz.
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Paralelamente à implantação do turno único, Eduardo coordena a reorganização de todas as unidades escolares da rede municipal em três segmentos – creche e pré-escola, primário e ginásio –, substituindo as unidades que reúnem os alunos da pré-escola ao 9º ano do ensino fundamental.
A ideia é que essa reorganização torne as instalações escolares mais adequadas a cada etapa de desenvolvimento dos estudantes; facilite a vida do professor, que poderá cumprir toda a sua carga horária numa só escola, e não em duas ou mais unidades, como ocorre frequentemente hoje; melhore o trabalho pedagógico e a gestão escolar, ao permitir que os profissionais de cada unidade foquem sua atuação num só segmento; e otimize o investimento dos recursos. E, claro, que a soma de tudo isso resulte no que mais interessa: os alunos aprendam mais, ao passar mais tempo em escolas mais bem organizadas.
Atração de talentos Apesar de enfrentar algumas dificuldades de se trabalhar no setor público (a burocracia e morosidade amplamente conhecidas), Eduardo afirma que o trabalho tem sido “extremamente gratificante”. Ele explica: “Trabalhar numa empresa privada que investe em projetos de educação é como navegar numa lancha: é ágil, mas você carrega pouca gente. Já o setor público é um transatlântico: a gente é muito lento, mas carrega uma enormidade de gente junto”.
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Com o tempo, ele diz, aprende-se a viver num outro ritmo e n’outra lógica. “Você entende porque é assim. Como as ações do Estado impactam muita gente, é preciso planejar muito bem os movimentos. Se fizer uma curva errada, vai demorar muito tempo para conseguir corrigir a rota”.
E, ao contrário do que povoa o imaginário popular acerca do trabalho no setor público, Eduardo diz que sua carga de trabalho é pesada.
Ele conta também que trabalha rodeado de boas cabeças. Ao que tudo indica, gente jovem e inovadora tem se interessado pelo setor público. “A imagem do funcionário público que faz corpo mole precisa ser rapidamente desconstruída. Trabalhar para a nossa sociedade é muito motivante. Não é um trabalho qualquer”.
Perfis articulado e de liderança são bem-vindos em cargos de gestão de projetos públicos, como o que Eduardo ocupa. No dia a dia, ele diz que gasta 10% de seu tempo buscando soluções técnicas; os outros 90% são dedicados a engajar pessoas – funcionários da Prefeitura, parceiros do setor privado, membros de associações de moradores, etc.
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É preciso também um bocado de resiliência e comprometimento para assumir responsabilidades tão grandes com pouca idade (Eduardo tem apenas 33 anos). Para saber se está no rumo certo ou se está deixando de ver algum risco importante, ele procura constantemente o feedback de pessoas mais experientes e em quem confia. O salário para a coordenação de projetos prioritários no poder público é compatível com o do setor privado.
A instabilidade do cargo comissionado – embora tenha contrato de prazo indeterminado, o vínculo pode ser encerrado a qualquer momento – para Eduardo, não é uma desvantagem, mas sim uma mola propulsora. “Quanto mais você entrega resultados, mais ganha trabalho e maior a chance de permanecer após transições de governo”, diz.
Eduardo Pádua participou do Imersão Educação, programa de preparação e decisão de carreira promovido pelo Na Prática. Quer conhecer melhor as oportunidades de carreira no mercado de educação que transforma o Brasil? Saiba mais aqui.