Por que precisamos falar sobre os desafios da mulher na gestão pública?

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Redação, do Na Prática

Publicado em 5 de abril de 2017 às 14:57h.

O grupo Vetor das Minas começou informalmente, após o primeiro encontro presencial da segunda turma de 2016 do Vetor Brasil, organização que traz jovens talentosos para dentro da gestão pública e está com inscrições abertas para seu programa de trainees até 14/4.

A economista Lara Vilela e a cientista política Marina Rosa, duas das primeiras integrantes da iniciativa, se empolgaram quando viram que uma parte do treinamento seria sobre liderança feminina. Ambas já eram engajadas com o tema, mas a realidade da mulher como servidora pública era uma nova faceta e digna de ser explorada em mais detalhes.

Mesmo espalhadas pelo país – Lara é hoje gerente de planejamento estratégico na Secretaria de Educação de Pernambuco e a Marina, assessora na Secretaria de Estado de Planejamento, Orçamento e Gestão do Distrito Federal, por exemplo –, passaram então a realizar encontros mensais online com outras trainees para debater o assunto (e planejam expandir sua atuação).

Queremos trazer inspiração e estímulo para ocuparmos cada vez mais nosso espaço”, escrevem elas, que assinaram um texto exclusivo para o Na Prática sobre a experiência, disponível abaixo.

O Vetor das Minas e a mulher na gestão pública

Antes mesmo do primeiro treinamento presencial, um grande diferencial do Vetor Brasil foi o espaço diferenciado para mulheres. A programação já mostrava que haveria um dia para falar só sobre liderança feminina.

Nós duas já procurávamos nos manter informadas sobre as questões de gênero e tínhamos uma atuação individual e cotidiana sobre feminismo, mas essa oportunidade de discussão nos marcou pela necessidade de entender melhor os desafios específicos da mulher como servidora pública.

E para esse novo papel, nós, assim como todas as nossas colegas trainees, precisamos estar preparadas para enfrentar, diariamente, barreiras que são reflexo de uma sociedade construída no machismo.

O cenário do serviço público brasileiro apresenta ganhos e perdas para as mulheres. Por um lado, a representatividade de mulheres é alta nos estados em que estamos atuando, sendo 62,5% em PE e 54,5% no DF¹. O gênero, portanto, não parece ser uma barreira para o ingresso no serviço público.

Vetor das Minas
[Participantes do Vetor das Minas em encontro online / Acervo pessoal]

Porém, ao olharmos o cenário nacional, notamos inconsistências: por exemplo, um estudo do IPEA² sobre servidores federais mostra que, à medida que subimos na hierarquia, as mulheres passam a ter cada vez menos representatividade.

Ainda no âmbito federal, percebemos que existe uma concentração de mulheres na área social e uma queda significativa na área econômica³. Um campo de atuação não é mais importante que o outro, mas precisamos entender a origem dessa disparidade. 

Há ainda muito a ser feito para enfrentar essa diferença, do incentivo às mulheres exercerem papéis de liderança ao engajamento de todos os servidores públicos em ações de combate à desigualdade de gênero nas equipes.

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Não combater essas questões no ambiente de trabalho é negativo não só para as mulheres (que acabam sendo impedidas de ter um pleno desenvolvimento profissional no governo) mas também para o Estado.

Hoje, as abordagens mais modernas de gestão valorizam equipes que abracem a diversidade, principalmente porque diferentes visões de mundo e experiências de vida representam uma vantagem competitiva no mercado. Assim, a gestão de políticas públicas também só tem a ganhar.

E foi para continuar essas discussões sobre gênero ao longo do nosso trabalho nos governos que começamos informalmente o Vetor das Minas. Nossas atividades e encontros acontecem paralelamente ao treinamento institucional de liderança feminina do Vetor Brasil, que ocorre ao longo do programa de trainee.

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Já realizamos diversas discussões e convidamos os trainees homens para um bate papo sobre como eles próprios podem combater a desigualdade de gênero. Também compartilhamos experiências, medos e anseios do nosso cotidiano.

O grupo acabou se tornando um espaço de acolhimento e apoio mútuo entre as trainees, amparando e empoderando cada uma para seguir mais confiantes com seus projetos.

O estímulo à inovação, ao debate a à vontade de deixar um legado social positivo dão sentido aos nossos esforços. Se a ideia é sermos a mudança que queremos ver nos governos, então o fortalecimento feminino é indispensável.

1. Dados retirados da PNAD (IBGE) – 3º trimestre de 2016
2. Mulheres e Homens em Ocupação de DAS na Administração Pública Federal
3. Painel do Servidor do Ministério do Planejamento

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