Quando estava na faculdade, tudo que André Esteves queria era um emprego. Não importava qual fosse.
Ao se candidatar para a vaga em um banco de investimento, mal sabia como funcionava uma instituição desse tipo. Acabou sendo bem mais do que um simples emprego. Hoje, ele é presidente daquele banco — agora, BTG Pactual.
O empresário falou sobre sua trajetória em uma palestra para 600 jovens na Conferência Ene, promovida pela Fundação Estudar e o Na Prática. Segundo ele, os profissionais em início de carreira devem apostar no país.
“O Brasil guarda os ingredientes essenciais para fazer negócios de forma bem-sucedida.” As dificuldades na economia, diz Esteves, são somente um “mau momento”. “Empresas e histórias empresariais formidáveis foram criadas no Brasil. É na hora da confusão que aparecem boas oportunidades. Nos outros países emergentes, mudam os personagens, a história é diferente, mas as angústias e desafios são muito parecidos. O Brasil tem escala, dá para fazer negócios.”
O início Esteves define sua história como “atípica” no que diz respeito ao planejamento. “Minha mãe era professora universitária, divorciada do meu pai. Tive uma adolescência muito difícil, porque naquela época [pertencer à] classe média era muito duro no Brasil. Era um período difícil. Meu sonho de adolescente era ter um emprego. Não interessava qual — qualquer coisa funcionava.”
O empresário diz que as dificuldades desenvolveram nele um forte senso de responsabilidade. “Uma coisa importantíssima para ter sucesso é responsabilidade. É ter certeza de que estão atendendo aquilo que é esperado, agindo com bom-senso. Minha responsabilidade como jovem era estudar ao máximo e me dedicar para arrumar um emprego. Quando fui para faculdade, procurei aquilo em que eu tivesse mais chance de conseguir um.” Ele cursou matemática na Universidade Federal do Rio de Janeiro, para ter contato com informática e tentar trabalhar com análise de sistemas. Naquela época, as empresas começavam a implementar seus departamentos de tecnologia.
No primeiro ano de curso, conseguiu um emprego na própria universidade. “Era bom, mas achei que dava para fazer algo melhor do que só trabalhar na faculdade. E eu sempre tive um interesse meio platônico pelo mundo empresarial. Não tinha nenhum conhecido que era empresário, mas aquilo de alguma forma me atraía.” Lendo o jornal, soube de um recrutamento de jovens talentos realizado pelo então Pactual. “Aquilo me seduziu, mas eu não sabia sequer explicar o que era um banco de investimento.” O salário era menor do que o que ele ganhava, mas a empresa oferecia um bônus semestral. “Se você conseguisse ir bem, ganhava mais. Confiava no meu talento, então aceitei um piso que seria mais baixo, mas que poderia ter um teto mais alto.”
Embora sua mãe tivesse ficado desconfiada, já que o salário era menor, ele foi para o banco. “Às vezes, você tem que ser um pouco contrário às nossas mães e pais, que nos amam. Confiem em vocês, dediquem-se, tenham uma responsabilidade enorme e ambição. Não tem nada de errado em ter ambição, em querer ganhar dinheiro, em querer crescer, em querer virar o dono. Pelo contrário, isso é o que move as sociedades. O momento no Brasil é péssimo, mas isso é só um ciclo. Vai e vem. Com Brasil bom ou Brasil ruim, a oportunidade continua lá.”
Erros O empresário enfatizou que profissionais não devem ter medo de errar em suas escolhas. “Errou, bola para frente. Qualquer profissional de sucesso, empreendedor ou executivo vai errar.” “Não ter medo de errar ajuda a não ter medo de escolher, empreender e ousar. Não ter medo de fazer diferente.” No entanto, ele diz ter “duas leis” para o erro. Primeiro, tem de errar do seu tamanho. Ou seja, o estagiário não pode cometer um erro que quebre a empresa. E, segundo, deve-se aprender com o erro.
Quando o erro está na escolha da própria carreira, o empresário aconselha pensar bem antes de tomar uma decisão drástica. “Profissionais que deram muito certo têm algo em comum: o ‘stick to the point’. Eles seguiram um caminho. A única certeza que vocês podem ter na trajetória profissional de vocês é que vai haver inúmeras dificuldades. Faz parte. Não confundam a mudança de emprego com a fuga do problema. O problema vai existir. As pessoas devem enfrentar da maneira mais determinada. Não se abatam com as dificuldades. O cara que vai andando de galho em galho não pertence a lugar nenhum. Vocês têm de achar a árvore de vocês e seguir por ali.”
Vida pessoal vs. trabalho Para Esteves, é um falso dilema dizer que, para ser um bom profissional, é preciso abrir mão de uma vida equilibrada. Ele diz considerar ser um bom pai para seus filhos e um bom amigo. Segundo o empresário, no próprio banco a relação com os colegas é de amizade. “A vida é feita de escolhas. Não só no mercado financeiro, mas se você for um empreendedor, advogado, um executivo de sucesso, você vai ter de se dedicar a isso. O segredo é você se adaptar”, diz. “Não tem muito jeito, uma carreira de sucesso vai requerer dedicação. Vai ter um fim de semana dedicado a sua carreira ou uma noite dedicada a sua carreira.”
Este artigo foi originalmente publicado em Época Negócios