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Ela escolheu uma carreira em gestão pública para defender o meio ambiente

Martina Muller, que escolheu uma carreira em sustentabilidade, na ONU

Entre 2008 e 2017, Martina Müller estabeleceu as bases para ter uma carreira na gestão pública, mais especificamente na área de políticas públicas que lidem com meio ambiente e sustentabilidade.

O principal motivo é, ao mesmo tempo, simples e gigante. “Estamos vivendo um momento – de mudanças climáticas, de extinção em massa de biodiversidade – que vai ser determinante para o futuro da humanidade”, fala. “Eu me importo muito com diversos outros assuntos, mas esta é uma área na qual nossa contribuição será fundamental para as próximas centenas de anos.”

Atualmente na Kennedy School of Government da Harvard University, onde estuda para seu mestrado em políticas públicas como Líder Estudar, Martina quis se dedicar ao tema cedo.

Ainda na faculdade, fundou uma clínica de direito ambiental, um tipo de grupo de extensão. Mais tarde, a professora que convidou para orientar os alunos se tornaria secretária estadual do meio ambiente e convidaria Martina para integrar sua equipe.

Além de dois anos ali, onde esteve como assessora de gabinete responsável pela assessoria internacional, a jovem também passou pela Missão do Brasil junto às Nações Unidas, pela própria ONU e pelo Ministério Público Federal.

“É muito gratificante ver um projeto que você criou, do qual você cuidou e pelo qual batalhou, ser implementado e gerar resultados concretos para a sociedade”, empolga-se, explicando seu gosto por políticas públicas.

Para trabalhar com sustentabilidade, no entanto, é preciso ter mais que uma paixão pela natureza. “É preciso conseguir dialogar com diversas culturas, setores e áreas sem que achem que você é um abraçador de árvores que não consegue pensar de maneira prática.”

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Do Ministério Público Federal à ONU

Após trabalhar em um escritório de advocacia em São Paulo, Martina passou um ano, entre 2012 e 2013, seu último de faculdade, como funcionária do Ministério Público Federal (MPF).

“Há um concurso para estagiar lá e você não pode escolher onde vai ser alocado. Tive a sorte incrível de ser alocada com um procurador que trabalhava na área ambiental”, conta.

No dia a dia, auxiliava em pareceres e processos legais contra condomínios e indivíduos que construíam casas em partes proibidas do entorno de represas.

Além disso, tocava o Projeto Praia Limpa, em que o MPF unia atores, como municípios, ONGs e representantes da sociedade civil, para remediar a poluição das águas do litoral brasileiro, causada principalmente pela falta de saneamento básico.

“Eu adorava esse trabalho porque visava o futuro e tentar resolver problemas em vez de só remediar situações que já aconteceram”, fala.

O conjunto de habilidades que desenvolveu ali, incluindo a comunicação interpessoal, a ajudou em suas próximas duas experiências, na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York.

A primeira foi na Missão do Brasil junto às Nações Unidas, do Itamaraty, que oferece um estágio não-remunerado de três meses e proximidade aos diplomatas e seu cotidiano no órgão.

Martina, que tinha sido voluntária da ONU na Conferência Rio+20, foi alocada na área de desenvolvimento sustentável e ajuda em reuniões, pesquisas e discursos.

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“O grande desafio é que você trabalha lá em tempo integral e Nova York custa uma fortuna. Acho que gastei todos os meus recursos nisso”, lembra-se.

Quando os três meses terminaram, ela recebeu outra proposta – dessa vez remunerada. Dentro da própria ONU, há diversas possibilidades de trabalho. Uma das mais frequentes é a consultoria temporária.

Martina – que destaca a importância de ter experiências multiculturais no currículo para aumentar suas chances – recebeu um convite do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (DESA), que a conheceu ao longo da experiência na missão brasileira.

“Eles estavam procurando alguém que fizesse a facilitação entre a sociedade civil e a organização”, explica. “Muitas vezes, quem ajuda a implementar as políticas acaba sendo as autoridades, ONGs e sociedade civil locais. Eles precisam ter lugar na mesa também.”

[Martina, à direita, na Conferência Dos Pequenos Estados Ilha em Desenvolvimento, em 2014]

No fim, Martina passou praticamente 2014 inteiro em Nova York, com a exceção notável da Terceira Conferência Dos Pequenos Estados Ilha em Desenvolvimento que ajudou a organizar em Samoa, na região do Pacífico.

Apesar de inspira, a jovem sentiu que falta de ter mão na massa. “Na ONU, você não via um projeto realmente ser implementado e eu sentia falta de ter um trabalho mais prático.”

Poucos meses depois, sua professora da Faculdade de Direito que tinha acabado de se tornar Secretária de Estado do Meio Ambiente em São Paulo lhe convidou para integrar o time.

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Sustentabilidade e o governo de São Paulo

Entre 2015 e 2017, Martina atuou em diversas frentes como assessora de gabinete e viu de perto a interação entre autoridades, o que lhe deu uma noção estratégica do que impulsiona políticas públicas.

“Via como as decisões eram tomadas no dia a dia: o que saía das reuniões com o governador, quais eram as prioridades que tínhamos que atender”, lembra ela, que também vivenciou uma mudança de gestão e os desafios que trazem para a continuidade de projetos.

Responsável principalmente pela assessoria internacional do órgão, Martina começa explicando o panorama de São Paulo: o estado é responsável por um terço do PIB nacional, abriga um quinto da população brasileira e, se fosse um país, seria a 19a economia do mundo.

Tudo isso para dizer: suas decisões são capazes de afetar uma grande quantidade de pessoas e áreas imensas.

“São Paulo é bem diferente do resto do Brasil na área ambiental”, fala Martina. “Se por um lado é líder em muitas coisas – esteve na vanguarda de políticas de resíduo sólido, gestão de água e políticas climáticas, está reflorestando – , por outro tem desafios ambientais significativos.”

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Martina Muller[Martina em reunião em São Paulo]

Entre eles estão a enorme frota de veículos, a concentração de indústrias e o perfil majoritariamente urbano, que impactam o perfil de emissão de carbono, por exemplo.

Também não são problemas únicos, o que torna as parcerias internacionais muito importantes.

“No meu trabalho, eu estimulava a cooperação com parceiros e cuidava de relacionamento com redes de governos estaduais internacionais, como o Regional Governments for Sustainable Development”, continua. “Isso fomenta o intercâmbio de ideias e de boas práticas.”

“É algo muito saudável, porque na gestão pública não precisamos reinventar a roda o tempo todo. Muitas vezes, um problema de uma gestão já foi enfrentado em outro lugar e podemos aprender com a experiência de outras pessoas e governos.”

Com o tempo, Martina ganhou novas responsabilidades e também um pequeno time, que a ajudava a implementar projetos, estudar cases e transplantar ideias de outros países para a realidade de São Paulo.

O cotidiano era, por natureza, dinâmico. “No gabinete, você acaba tendo que cuidar de muita coisa. Qualquer assunto premente precisa ser resolvido ou encaminhado pelos assessores”, fala.

Se num momento lidava com uma prefeitura japonesa, no outro ajudava os secretários a redigirem seus discursos e mais tarde pesquisava fundos internacionais com dinheiro disponível para investir em projetos de meio-ambiente pelo mundo.

A ONU também não se manteve distante. Martina foi a representante estadual em grandes conferências do órgão, como a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em 2015, e a Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Biodiversidade, em 2016.

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O futuro de uma carreira em sustentabilidade (e como não desanimar)

Em Harvard, Martina investe principalmente em desenvolver soft skills e habilidades quantitativas, além de experiências que lhe deem novos conhecimentos sobre o mundo.

Literalmente sobre o mundo: já integrou uma delegação da ONU na Assembleia do Círculo Ártico, na Islândia, onde apresentou uma proposta de proteção de áreas marinhas, e também fez uma visita técnica à Patagônia chilena, avaliando a criação de um novo conjunto de parques e o modelo energético vigente.

“Tem uma frase: o que acontece no Ártico, não fica no Ártico. Afeta o mundo”, explica. “Quero ter uma experiência que me ajude a entender o cenário mundial e como o Brasil se encaixa nisso.”

Pensando no que o futuro reserva para uma carreira em sustentabilidade, ela é otimista. “Não vai faltar emprego. Pode tratar de qualidade de água, mudanças climáticas, biodiversidade, resíduos sólidos. Há ene possibilidades de impacto considerável.”

O slogan "Pelo Planeta" é visto na Torre Eiffel, em Paris, durante a Conferência do Clima[A Torre Eiffel em 2015, durante a conferência do clima que deu origem ao Acordo de Paris. Martina esteve presente como representante de São Paulo]

O estudo e a atualização constantes, no entanto, assim como gente boa qualificada, serão fundamentais para que o trabalho realmente tenha impacto positivo alto ao invés de green washing, como são chamadas as iniciativas “verdes” mais fracas.

Globalmente, desde o histórico Acordo de Paris, em 2015, países deram diversos passos, para frente e para trás, em relação à proteção do meio ambiente e aos impactos das mudanças climáticas.

O que inspira Martina mesmo em momentos de tristeza é a mesma coisa que a inspirou a tornar a sustentabilidade seu propósito.

“Embora haja todas essas notícias negativas, nós temos que fazer algo. Nosso futuro depende disso”, fala. “Quando me sinto desanimada, gosto de fazer trilhas e passar um tempo na natureza. Isso sempre me lembra pelo que estou lutando.”

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